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Um artigo recém-disponibilizado para revisão no servidor de pré-impressão arXiv revela que o cometa interestelar 3I/ATLAS terá um “encontro” marcante antes de deixar o Sistema Solar em 2026 – tão significativo que pode até modificar sua rota.
O estudo também apresenta simulações dinâmicas que tentam reconstruir o caminho percorrido ao longo de bilhões de anos pelo objeto e prever a rota que ele seguirá ao avançar para fora dos domínios do Sol.

Descoberto em julho pelo Sistema de Alerta Final de Impacto Terrestre de Asteroides (ATLAS), o 3I/ATLAS chamou atenção ao cruzar o Sistema Solar a cerca de 58 km/s, uma velocidade incomum para cometas nativos e típica de objetos vindos de fora da nossa vizinhança.
Após as análises iniciais, foi confirmado que se tratava do terceiro visitante interestelar já registrado, depois do asteroide 1I/‘Oumuamua e do cometa 2I/Borisov. Apesar de algumas alegações infundadas sobre o objeto ser uma suposta espaçonave alienígena, não há qualquer evidência que sustente essa ideia. Ainda assim, o cometa desperta imenso interesse por carregar pistas sobre ambientes de outras regiões da Via Láctea.
Cientistas simulam passado e futuro da trajetória do 3I/ATLAS
Goldy Ahuja, pesquisador do Laboratório de Pesquisas Físicas de Ahmedabad, Índia, e Shashikiran Ganesh, do Instituto Indiano de Tecnologia de Gandhinagar, modelaram a trajetória do 3I/ATLAS no passado e no futuro. Embora ainda existam lacunas importantes, o objetivo dos pesquisadores é entender de onde o cometa veio, quais estrelas ele cruzou e que forças influenciaram seu movimento até chegar aqui.
Até agora, não existe consenso sobre a origem exata do objeto. Uma das hipóteses mais discutidas sugere que ele possa ter vindo de uma estrela pertencente ao chamado “disco espesso” da Via Láctea, uma região formada por estrelas mais antigas e que possui características distintas do disco fino, onde está o Sol.

Chris Lintott, professor de astrofísica da Universidade de Oxford, na Inglaterra, que não tem envolvimento com o estudo, acredita que o padrão de movimento vertical do cometa em relação ao plano da galáxia é uma pista importante. Ele disse ao site IFLScience que a velocidade com que o 3I/ATLAS sobe e desce no disco galáctico combina com o comportamento típico de objetos associados ao disco espesso.
Lintott reforça que o cometa pode ter sido expulso há muito tempo de um sistema planetário antigo. Isso significa que ele pode estar viajando sozinho pelo espaço há mais tempo do que a própria existência do Sistema Solar, o que reforça sua importância para estudos sobre ambientes formados nas primeiras eras da galáxia.
Um estudo mencionado no artigo (e que já foi noticiado no Olhar Digital) aponta que o objeto provavelmente não se aproximou de outras estrelas nos últimos 10 milhões de anos e que ele estaria viajando solitário há cerca de 10 bilhões de anos. “Em conjunto, todos os dados indicam que, embora o 3I/ATLAS siga uma órbita de disco fino na vizinhança solar, ele pode, no entanto, ser um objeto antigo, consistente com a ejeção de um disco de planetesimais primordial em um sistema formado precocemente, ou de uma exonuvem de Oort, e está muito provavelmente associado à região de transição entre o disco fino e o disco espesso, embora sua origem permaneça desconhecida”, descreve a equipe no artigo.
Os pesquisadores também traçaram uma trajetória aproximada para o passado e o futuro do cometa. Segundo os cálculos, o objeto chegou ao Sistema Solar vindo da direção da constelação de Sagitário e deve partir rumo à constelação de Gêmeos. Essa projeção baseia-se na análise de 500 simulações estatísticas, levando em conta pequenas variações nos parâmetros orbitais.

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Gigante que pode influenciar rota do cometa é Júpiter
Outro ponto investigado foram os encontros que ele terá no Sistema Solar antes de ir embora para sempre. Os cientistas calcularam que tanto Marte quanto Júpiter irão exercer influência sobre o percurso do 3I/ATLAS, mas Júpiter deve gerar o impacto mais significativo por causa de seu enorme campo gravitacional.
As simulações mostram que, em 16 de março de 2026, ele passará muito perto do limite da área de influência gravitacional do gigante gasoso, conhecida como raio de Hill. Esse encontro pode alterar levemente o trajeto final do cometa. No entanto, o estudo lembra que a trajetória exata depende também de fatores não gravitacionais, como jatos de gás liberados pelo cometa e pressão da radiação solar.
Ao testar diferentes intensidades de desgaseificação, a equipe concluiu que acelerações muito pequenas não mudariam a rota. Já forças um pouco mais intensas teriam potencial para modificar o caminho futuro do objeto. Por isso, novas observações serão essenciais nos próximos meses.
Os autores também calcularam o melhor período para observar o cometa de perto. Com base na posição da sonda Juno, da NASA, que orbita Júpiter, eles concluíram que a janela ideal deve ocorrer entre 9 e 22 de março, quando a espaçonave estará mais próxima da linha que liga o cometa ao planeta.