Evolução dos peixes únicos do Atlântico é desvendada em novo estudo

Pesquisa revela espécies endêmicas de peixes e rotas antigas que moldaram a história evolutiva no Oceano Atlântico.
Por Maurício Thomaz, editado por Lucas Soares 26/11/2025 08h05
Pesquisa inédita reconstrói a história evolutiva dos peixes de ilhas oceânicas do Atlântico
Pesquisa inédita reconstrói a história evolutiva dos peixes de ilhas oceânicas do Atlântico (Imagem: OvidiuGG / Shutterstock)
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Um novo estudo publicado no Jornal da USP combinando dados genéticos, biológicos e geográficos reconstruiu, de forma inédita, a história evolutiva dos peixes de recifes que habitam três ilhas oceânicas do Atlântico tropical: São Pedro e São Paulo, Ascension e Santa Helena. Apesar de separadas por grandes distâncias e cercadas por águas abertas, essas ilhas funcionam como um “laboratório natural”, permitindo observar processos de especiação e dispersão que ajudam a explicar como essas comunidades se formaram.

Ao analisar essas regiões, os pesquisadores identificaram que 46 espécies são endêmicas — ou seja, não existem em nenhum outro ponto do planeta. Além disso, as populações insulares apresentam maior afinidade com as comunidades do Atlântico Ocidental, semelhantes às encontradas no Brasil e no Caribe. As conclusões respondem a uma dúvida antiga entre especialistas: como fauna tão isolada se originou e evoluiu ao longo do tempo.

Ilhas oceânicas como “laboratórios naturais”

De acordo com a pesquisadora Isadora Cord, autora principal do estudo, essas ilhas oferecem condições ideais para entender processos evolutivos. A combinação de isolamento extremo e populações pequenas favorece o surgimento de novas espécies, já que as barreiras naturais — como correntes, salinidade e temperatura — limitam a dispersão e promovem o isolamento reprodutivo.

Ilhas Malvinas
As ilhas oceânicas oferecem condições ideais para entender processos evolutivos (Imagem: Juergen Brand / Shutterstock)

Esse cenário explica por que muitas espécies que chegam aos arquipélagos tornam-se exclusivas dessas regiões. Para os pesquisadores, o oceano funciona como um “deserto”, e as ilhas, como raros oásis que permitem que organismos vindos de áreas continentais se estabeleçam.

Entre as contribuições do estudo, os cientistas mapearam rotas antigas que conectam o Atlântico Ocidental, a África e até o Oceano Índico. Para algumas espécies, a história evolutiva remonta a mais de 5 milhões de anos — tempo anterior até à formação das próprias ilhas. Outras são recentes e levaram os pesquisadores a sugerir o reconhecimento de uma nova espécie do gênero Ophioblennius.

Resultados revelam parentescos e padrões evolutivos

A pesquisa mostrou que as comunidades das três ilhas formam uma única unidade biogeográfica, composta por espécies que compartilham uma origem comum. Algumas relações identificadas pelos pesquisadores incluem:

  • 11 espécies presentes apenas nas ilhas oceânicas e no Atlântico Leste
  • 74 espécies distribuídas nos dois lados do Atlântico
  • 44 espécies endêmicas do conjunto de arquipélagos
  • 3 espécies presentes nas três ilhas analisadas
Peixes em recife de coral no oceano
As comunidades das três ilhas formam uma única unidade biogeográfica, composta por espécies que compartilham uma origem comum (Imagem: IBorisoff / iStock)

Para reconstruir a linhagem desses peixes, a equipe utilizou “relógios moleculares”, método que estima o tempo de divergência genética entre espécies. A técnica revelou diferenças que não podem ser vistas a olho nu, ajudando a identificar espécies “crípticas”, que parecem semelhantes, mas são geneticamente distintas.

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O estudo também reforçou a importância das ilhas como refúgios que preservam linhagens frágeis. Por serem exclusivas e terem populações reduzidas, as espécies endêmicas são altamente vulneráveis. Eventos ambientais ou impactos locais podem levá-las rapidamente à extinção.

Maurício Thomaz
Colaboração para o Olhar Digital

Jornalista com mais de 13 anos de experiência, tenho faro pela audiência e verdadeira paixão em buscar alternativas mais assertivas para a entrega do conteúdo ao usuário.

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.