Cybercondria: o fenômeno que transforma buscas de saúde em angústia

Cybercondria transforma buscas por sintomas em ansiedade crescente, especialmente quando falta orientação e fontes confiáveis na internet
Por Valdir Antonelli, editado por Rodrigo Mozelli 27/11/2025 23h10
Uma pessoa com jaleco branco segura um estetoscópio com um símbolo de cruz brilhante no centro, cercado por ícones coloridos de órgãos humanos, representando cuidado médico completo.
Fazer um check-up anual é essencial para prevenir doenças e manter a saúde em dia (Imagem: Ei Ywet/Shutterstock)
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A internet virou a primeira parada de muita gente sempre que aparece um sintoma estranho — e isso tem alimentado um comportamento cada vez mais comum. A chamada cybercondria transforma uma simples pesquisa sobre saúde em uma espiral de ansiedade, como explica um artigo publicado no The Conversation.

Com filas intermináveis na saúde pública e a dificuldade em conseguir horário com especialistas, buscar respostas online parece, à primeira vista, uma solução prática. O problema é quando essa consulta vira hábito compulsivo e passa a gerar mais preocupação do que alívio.

O ato de pesquisar sintomas online parece prático, mas pode se tornar compulsivo e aumentar ainda mais a inquietação.
Ato de pesquisar sintomas online parece prático, mas pode se tornar compulsivo e aumentar ainda mais a inquietação (Imagem: MT.PHOTOSTOCK/Shutterstock)

Quando a busca por saúde vira ansiedade

A cybercondria surge quando a pessoa procura informações sobre sintomas repetidas vezes e, em vez de se tranquilizar, fica ainda mais inquieta. O ciclo é quase automático: quanto mais pesquisa, mais ansiosa fica — e quanto mais ansiosa, mais volta a pesquisar.

“A obsessão por verificar sintomas pode levar a pessoa a negligenciar trabalho, estudos ou as relações pessoais”, comentam Bárbara Badanta Romero, que atua no Departamento de Enfermaria da Universidade de Sevilha (Espanha) e Maria Catone, enfermeira y doutoranda em Saúde Pública na mesma universidade, autoras do artigo.

O termo começou a ganhar força em 2009, quando os pesquisadores Ryen White e Eric Horvitz, da Microsoft, mostraram que buscas sobre saúde poderiam intensificar preocupações e estimular o autodiagnóstico.

Durante a pandemia de Covid-19, esse efeito se ampliou. O excesso de informações — a chamada infodemia, segundo a OMS — confundiu ainda mais os usuários, aumentou o medo e levou a comportamentos arriscados, como automedicação e recusa de vacinas. Hoje, milhões de pessoas recorrem à internet para tentar decifrar sintomas, muitas vezes sem conseguir separar conteúdo confiável de material enganoso.

O excesso de informações durante a pandemia dificultou separar fatos de boatos e abriu espaço para movimentos antivacina.
Excesso de informações durante a pandemia dificultou separar fatos de boatos e abriu espaço para movimentos antivacina (Imagem: MargJohnsonVA/Shutterstock)

Por que caímos nessa espiral perigosa chamada cybercondria?

Diversos fatores ajudam a entender por que tanta gente acaba presa na espiral da cybercondria. Entre os mais comuns estão:

  • Intolerância à incerteza: quem tem dificuldade para lidar com a dúvida busca respostas compulsivamente, imaginando cenários cada vez piores.
  • Dificuldade para identificar fontes confiáveis: a internet mistura ciência, opinião, influenciadores e promessas milagrosas, e nem sempre é simples separar tudo isso.
  • Algoritmos que ampliam a preocupação: buscadores tendem a exibir resultados chamativos — às vezes alarmistas — que só aumentam o senso de urgência e medo.

Isso não significa que a internet seja uma inimiga. “A OMS reconhece os grandes benefícios da saúde digital, como a telemedicina, os chatbots ou as mensagens via celulares, que podem salvar milhões de vidas. Mas é fundamental entender que a rede não tem todas as respostas em matéria de saúde”, explicam.

Ou seja: o problema não é a internet em si, mas a forma como traduzimos suas informações para a nossa própria vida.

A cybercondria transforma pesquisas inocentes por saúde em um ciclo de preocupação crescente e difícil de controlar.
Cybercondria transforma pesquisas inocentes por saúde em um ciclo de preocupação crescente e difícil de controlar (Imagem: raker/Shutterstock)

Como navegar melhor pelo oceano de informações

Uma maneira prática de lidar com esse excesso de dados é fortalecer o chamado letramento em saúde, especialmente no ambiente digital. Isso envolve aprender a reconhecer o que é confiável, o que realmente tem base científica e o que deve ser descartado sem culpa.

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Perguntas simples ajudam bastante — como verificar a data da última atualização, observar se há interesse comercial no conteúdo ou conferir se o material cita instituições reconhecidas. Além disso, “desconfie de promessas milagrosas” e, principalmente, lembre-se de que “os algoritmos priorizam o que é chamativo, não necessariamente o que é verdadeiro”.

Assim, a internet deixa de ser gatilho para o medo e volta a ser uma aliada na busca por orientação segura.

Valdir Antonelli
Colaboração para o Olhar Digital

Valdir Antonelli é jornalista com especialização em marketing digital e consumo.

Rodrigo Mozelli é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) e, atualmente, é redator do Olhar Digital.