Escrever à mão no mundo da inteligência artificial: um hábito estratégico

Especialistas em IA deixam bots de lado para tarefas básicas, preferindo escrever e organizar tudo manualmente por controle e foco
Valdir Antonelli27/11/2025 05h40
Empregada jovem e animada, vestindo uma camisa e roupas casuais, com óculos, sentada na mesa do escritório com um laptop, olhando para a câmera e anotando algo em um caderno, fazendo algumas anotações. Conceito de conquista na carreira.
Imagem Shutterstock/Foto Colaborador ViDi Studio
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Mesmo cercados por ferramentas poderosas, especialistas em inteligência artificial estão deixando de automatizar tarefas básicas do dia a dia. Engenheiros e pesquisadores preferem escrever e-mails na raça, anotar encontros no papel e até esboçar apresentações à mão.

Segundo o The Wall Street Journal, essa escolha revela como eles enxergam os limites práticos — e até estratégicos — do uso de bots.

Mesmo cercados por bots, profissionais de IA preferem controlar tarefas básicas manualmente para maior foco e precisão.
Mesmo cercados por bots, profissionais de IA preferem controlar tarefas básicas manualmente para maior foco e precisão. Imagem: TippaPatt / Shutterstock

Um cotidiano surpreendentemente analógico

É fácil imaginar que quem trabalha com IA vive cercado de sistemas automatizados, como se estivesse em um episódio de uma série de ficção cientifica. Mas a realidade é bem diferente. A engenheira Stella Dong, cofundadora da Reinsurance Analytics, escreve todos os seus e-mails do zero. “Não confio na IA para redigir textos sozinha”, afirma.

Mesmo usando o Copilot para revisar textos, ela prefere escrever seus próprios rascunhos. “Ninguém sabe exatamente o que quero dizer melhor do que eu mesma”, diz. O mesmo vale para sua agenda: Dong evita assistentes digitais e adiciona compromissos manualmente, porque isso a ajuda a realmente memorizar o que precisa fazer. Quando não dá conta, pede ajuda ao sócio… humano, claro.

Escrever cada e-mail manualmente mantém o foco e evita dependência total da inteligência artificial.
Escrever cada e-mail manualmente mantém o foco e evita dependência total da inteligência artificial. Imagem: Thx4Stock team/Shutterstock

Por que tanta IA… e tanta caneta?

Essa postura tem muito a ver com uma visão realista sobre a automação. Um relatório do McKinsey Global Institute estima que a tecnologia atual poderia executar 57% das horas de trabalho das pessoas, mas alerta que automatizar nem sempre é a melhor escolha.

À medida que redesenhamos o trabalho e os empregos, você pode optar por não maximizar o que um agente de IA ou robô faz”.

Lareina Yee, sócia sênior e diretora do McKinsey Global Institute, ao WSJ.

Yee observa que empresas podem limitar o uso de bots de propósito, garantindo que funcionários juniores aprendam tarefas essenciais antes de delegá-las à IA. E, em nível pessoal, fazer algumas atividades manualmente pode servir para descansar o cérebro ou manter uma rotina mais equilibrada — sem aquela pressão constante por produtividade máxima.

Mesmo com IA para transcrever, especialistas preferem registrar detalhes importantes manualmente durante encontros.
Mesmo com IA para transcrever, especialistas preferem registrar detalhes importantes manualmente durante encontros. Imagem: insta_photos / Shutterstock

Pensar com as mãos

Essa lógica se reflete nos jovens pesquisadores. Ziyi Liu, estagiária de pesquisa em IA na Microsoft e doutoranda na USC, ignora completamente as transcrições automáticas de reuniões e escreve tudo à mão. Para ela, isso mantém o controle total do processo e se inspira em um mentor que produzia atas detalhadas. “Escrever manualmente ajuda a memorizar e mostra que você está realmente prestando atenção”, diz.

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Mesmo começando no papel, as ideias podem ser refinadas com IA, usando ferramentas como Claude ou ChatGPT. No fim das contas, resta uma reflexão: será que estamos realmente usando a IA para facilitar a vida ou só seguimos a onda do momento?

Valdir Antonelli
Colaboração para o Olhar Digital

Valdir Antonelli é jornalista com especialização em marketing digital e consumo.