Algoritmos influenciam sua visão política. Esses pesquisadores pensaram em uma solução

A nova ferramenta, desenvolvida por pesquisadores nos Estados Unidos, muda o ordenamento de conteúdos e pode reduzir polarização
Por Matheus Chaves, editado por Bruno Capozzi 28/11/2025 12h14
Inteligência artificial em um navegador
Tecnologia ajuda a reordenar conteúdos nas redes sociais (Imagem: witsarut sakorn/Shutterstock)
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Um estudo, publicado na revista Science, realizado por pesquisadores das universidades de Stanford, Washington e Northeastern, mostrou que os algoritmos de redes sociais podem impactar nas opiniões políticas das pessoas. Diante disso, pesquisadores dos Estados Unidos desenvolveram uma extensão de navegador com inteligência artificial (IA) que, com o auxílio de inteligência artificial, reorganizou o conteúdo exibido no feed da rede X (antigo Twitter). 

A proposta foi levar publicações com discurso antidemocrático ou afirmações altamente partidárias para posições mais baixas na linha do tempo — sem removê-las. O objetivo foi estudar, de forma independente, o impacto dos algoritmos de redes sociais sobre as visões políticas dos usuários.

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Como funcionou o experimento

Novo logo do X (antigo Twitter)
O X (antigo Twitter), foi a rede social escolhida para o experimento – (Imagem: Shaheerrr / Shutterstock.com)

Mais de 1.200 voluntários tiveram seus feeds modificados durante um período de 10 dias, pouco antes da eleição presidencial dos Estados Unidos em 2024. Parte dos participantes visualizou o feed com maior presença de postagens polarizadoras; outra parte viu essas postagens reduzidas ou remanejadas para o fim do feed.

Durante a experiência, os participantes foram convidados a classificar seus sentimentos em relação ao partido adversário em uma escala de 1 a 100. Quem consumiu menos conteúdos hostis registrou melhora média de dois pontos nessa escala — um ganho equivalente à mudança de opinião estimada para três anos entre a população dos EUA. O impacto foi observado em pessoas de diferentes espectros ideológicos (conservadores e liberais).

Adolescente usando redes sociais
As reações das pessoas foi um dos pontos principais da pesquisa
(Imagem: 13_Phunkod/Shutterstock)

Efeitos sobre emoções e convivência digital

Além da mudança nas atitudes, os pesquisadores observaram variação no estado emocional: aqueles que viram menos conteúdo polarizador relataram menos raiva e tristeza enquanto navegavam. Porém, esses efeitos não persistiram após o fim do experimento.

Segundo os autores, essa abordagem — de reordenar publicações em vez de removê-las — demonstra que é possível reduzir a animosidade política sem comprometer a liberdade de expressão. Eles avaliam que, com ajustes, plataformas sociais poderiam adotar algoritmos mais responsáveis, favorecendo o diálogo e um ambiente democrático mais saudável.

Limitações e o que ainda não se sabe

Os pesquisadores destacam algumas restrições importantes. A ferramenta só funcionou para quem acessava o X por navegador — não por aplicativo — o que limita a aplicabilidade dos resultados. Além disso, o estudo mediu apenas mudanças imediatas nas percepções e emoções: não houve avaliação dos impactos a longo prazo.

Matheus Chaves
Colaboração para o Olhar Digital

Matheus Chaves é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.