Esse parasita obriga as formigas a matarem a própria rainha

O confronto entre duas rainhas é habitual, mas, por meio de uma armadilha, um parasita articula para que as formigas matem a própria mãe
Por Angelina Miranda, editado por Layse Ventura 28/11/2025 03h00
Formiga-lasius-flavus-1920x1080
Colônia de formigas da espécie Lasius Flavus. (Imagem: Shutterstock/Klassien)
Compartilhe esta matéria
Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Siga o Olhar Digital no Google Discover

Na natureza, o matricídio – o assassinato de uma mãe por sua prole – é um fenômeno raro, pois é muito vantajoso para diversas espécies que os filhotes recebam os cuidados maternos, é uma questão de sobrevivência, inclusive. Mas um parasita infiltrado tem usado de artimanhas sofisticadas para fazer as formigas matarem a própria mãe, a rainha da colônia. 

Em algumas colônias de insetos é muito comum que haja a colonização. Assim como aconteceu com os humanos, abelhas, vespas e formigas podem explorar territórios não pertencentes para beneficiar e fortalecer o próprio grupo.

Leia mais:

Esse fenômeno é conhecido como parasitismo social, e tem várias vertentes. Alguns insetos sequestram ninfas (nome dado aos “filhotes” de inseto) de outras espécies para somar na força de trabalho, outras ainda delegam a criação de suas ninfas para colônias hospedeiras. 

Como o parasita obriga as formigas a matarem a própria rainha?

Colônia de formigas da espécie Lasius Flavus. (Imagem: Shutterstock/Klassien)

O japonês Taku Shimada é um adorador de formigas. Em uma postagem em seu blog, ele relatou ter encontrado uma rainha recém-casada da espécie Lasius orientalis e decidiu infiltrá-la em uma colônia de formigas Lasius flavus. Mas, ao filmar a interação, algo o surpreendeu. As formigas operárias Lasius flavus estavam atacando e matando a própria mãe biológica.

Esse relato foi o gatilho necessário para despertar a curiosidade de Keizo Takasuka, ecologista comportamental da Universidade de Kyushu, e de seu parceiro de pesquisa Yuji Tanaka. Então eles começaram a fazer suas próprias investigações. 

O novo estudo foi publicado na revista Current Biology, e chama atenção por expor uma variação sofisticada de parasitismo social que desafia a complexidade evolutiva e social dos insetos.

Um dos caminhos da pesquisa foi seguir alguns rastros evolutivos e observar que há um comportamento semelhante em outra dupla de espécies de formigas: a Lasius umbratus e Lasius japonicus. A trama do crime surpreende. 

A princípio, a rainha invasora infiltra-se no formigueiro usando uma camuflagem, ela se impregna dos odores característicos da colônia hospedeira. Passado algum tempo, e já sendo aceita pelas formigas operárias, ela vai ao encontro da rainha verdadeira e lança sobre ela jatos de um fluido abdominal fétido, muito provavelmente rico em ácido fórmico. 

Formiga da espécie Lasius japonicus utilizada no estudo. (Imagem: Shutterstock/chinahbzyg)

Com essa estratégia, o odor característico da matriarca é mascarado, o que faz as formigas estranharem a própria mãe. Enquanto a invasora recua lentamente, as formigas atacam e matam a rainha, agora inimiga, que não reconhecem mais. 

Após o assassinato orquestrado, a formiga-rainha e usurpadora retorna para assumir o novo reinado. Seu próximo passo é colocar seus próprios ovos. E também liderar o trabalho dentro da colônia até que todas as formigas órfãs morram de tanto servir sob o jugo da nova rainha.

Existe a possibilidade de uma rainha invasora matar em confronto direto uma formiga que esteja na liderança de outra colônia, mas o crime não compensa, segundo Christian Rabeling, biólogo evolucionista da Universidade de Hohenheim, que comentou sobre o estudo para a revista Science.

O confronto direto é brutal. Depois de cortar os membros, asas e antenas da vítima, a invasora decapita a rainha hospedeira, ou então realiza uma mordedura na garganta, garantindo uma morte lenta por inanição. Ambas as opções deixam a rainha parasita vulnerável a ataques das operárias hospedeiras, que normalmente defendem sua mãe ferozmente.

Então, é muito mais seguro, diz Rabeling, manipular as formigas filhas e “deixá-las fazer o trabalho sujo”. 

Angelina Miranda
Colaboração para o Olhar Digital

Angelina Miranda é jornalista formada pela UNIP. Com dez anos de atuação, atuou como repórter na Folha de S. Paulo e também colaborou para a Revista Fórum. É redatora no Olhar Digital desde 2023.

Layse Ventura
Editor(a) SEO

Layse Ventura é jornalista (Uerj), mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento (Ufsc) e pós-graduada em BI (Conquer). Acumula quase 20 anos de experiência como repórter, copywriter e SEO.