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Originalmente programado para o último sábado (29), o voo orbital de teste do foguete Zhuque-3, da empresa Landspace, ocorreu na terça-feira (2) e terminou em explosão. Foi a primeira tentativa da China de realizar um voo com pouso controlado para recuperação do propulsor.
O país conta atualmente com três foguetes reutilizáveis preparados para tentar esse feito histórico: se tornar o primeiro veículo espacial chinês a realizar um voo orbital com pouso do primeiro estágio para reaproveitamento. Esse marco representa um avanço significativo da China no mercado de lançamentos, hoje dominado pela SpaceX, reconhecida pela regularidade de voos e por contratos prioritários com governos e empresas.

Com 66 metros de altura e todo em aço inoxidável, o Zhuque-3 decolou do Centro de Lançamento de Satélites de Jiuquan, no Deserto de Gobi, ao meio-dia, pelo horário de Pequim – 1h da manhã desta quarta-feira (3) no fuso de Brasília. O veículo reutilizável, movido a metano e oxigênio líquido, colocou com sucesso seu segundo estágio descartável em órbita.
No entanto, na reentrada, o primeiro estágio aparentemente perdeu um motor durante a queima de pouso, pegou fogo e se chocou contra o solo em uma explosão. A LandSpace informou no X que “ocorreu uma anomalia quando o primeiro estágio se aproximava da zona de recuperação designada” e garantiu que não houve risco à equipe. A causa do incidente está sendo investigada.
The ZhuQue-3 launch vehicle completed its maiden flight with all primary mission events performed nominally. The first stage flight was normal, stage separation performed as planned, and the fairing jettison and first stage landed precisely within the designated area. The second… pic.twitter.com/07xPN4cNCf
— LandSpace (@LandSpace_Tech) December 3, 2025
Lançamento foi considerado um sucesso apesar da falha
A SpaceX se tornou referência mundial ao comprovar que foguetes podem ser reaproveitados com segurança. Em 2015, a empresa conseguiu pousar um Falcon 9 com sucesso após um voo orbital. Desde então, acumulou centenas de recuperações e relançamentos, diminuindo custos e aumentando a frequência de missões. Sem querer ficar para trás, a China vem investindo pesado em tecnologia de foguetes reutilizáveis, pronta para bater de frente com a empresa de Elon Musk no mercado.
Apesar da falha, a LandSpace considera o teste do Zhuque-3 um sucesso. Segundo a empresa, a primeira tentativa de recuperação de um foguete chinês atingiu seus objetivos técnicos esperados, incluindo verificação do sistema de recuperação, controle de potência dos motores e estabilização do veículo. O primeiro estágio caiu a poucos metros da área de pouso prevista.

Segundo o South China Morning Post, a expectativa era que o primeiro voo orbital do Zhuque-3 realizasse uma missão completa: com inserção da carga útil em órbita baixa e, em seguida, a recuperação do primeiro estágio para uso futuro. O plano de retorno incluía uma reentrada controlada com manobras aerodinâmicas guiadas por aletas grid fins (estruturas metálicas em formato de grade usadas para estabilizar e orientar o estágio durante a descida), seguida por uma queima de desaceleração para alinhar a trajetória final e uma queima de pouso utilizando um único motor, culminando no toque em quatro pernas retráteis.
Embora o procedimento se assemelhe ao método consolidado pela SpaceX, a LandSpace desenvolveu sua própria abordagem: tanto os algoritmos de controle de voo quanto a estrutura do foguete, os materiais, os sistemas de navegação e a propulsão foram projetados internamente, sem reaproveitar a engenharia norte-americana – com o mesmo valendo para os outros dois veículos que estão posicionados em Jiuquan.
Foguetes reutilizáveis visam reduzir custos e aumentar frequência de lançamentos
O Zhuque-3 teve uma campanha de testes intensa em pouco mais de dois anos. Em setembro de 2024, realizou um voo atmosférico de 10 km com religamento de motor para simular pouso. Fez também ensaios estáticos de motores de 45 segundos, incluindo testes com o segundo estágio acoplado, passos que aumentaram a confiança da LandSpace para avançar à tentativa orbital.
Os outros dois foguetes chineses reutilizáveis são o Long March 12A, desenvolvido pela Academia de Tecnologia Aeroespacial de Xangai, e o Tianlong-3, da Space Pioneer. Os três foram projetados pensando em missões para constelações de internet e no objetivo estratégico da China de reduzir custos e aumentar a cadência de lançamentos.

Quando algum deles conseguir completar a missão será um marco: a China se tornará o segundo país a pousar com sucesso um propulsor orbital, depois dos EUA, que já realizaram pousos com o Falcon 9 e seus boosters derivados usados no Falcon Heavy, além do New Glenn, da Blue Origin, que estreou este mês.
A corrida pelo primeiro pouso bem-sucedido também envolve prestígio dentro da própria China. De um lado, estão as gigantes estatais, que têm influência política e querem ser as primeiras a conseguir o feito. Do outro, estão as empresas privadas, como a LandSpace e a Space Pioneer, que tentam provar sua competência tecnológica para conquistar contratos e se destacar no mercado internacional de lançamentos.

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Nas redes sociais, os debates ganharam “lenha na fogueira” quando Elon Musk afirmou que, mesmo com um pouso bem-sucedido, a China ainda precisará de “muitos anos” para superar a SpaceX. Segundo ele, a dificuldade não está apenas em recuperar o estágio, mas em repetir o feito dezenas de vezes sem falhas – algo que a SpaceX levou quase uma década para dominar.
A LandSpace também desenvolve um projeto mais ambicioso: o Zhuque-X, um foguete de grande porte que pretende ser comparável ao Starship. Isso significa maior capacidade de carga, estrutura muito mais robusta e motores capazes de entregar enormes níveis de empuxo. O elemento-chave desse projeto é o novo motor Lanyan-20, que já realizou dezenas de testes de ignição. No entanto, todo o sistema ainda está nas etapas iniciais e deve levar alguns anos até atingir maturidade para um voo orbital.