A corrida pela IA provoca nova crise global na cadeia de chips

A crise tem afetado até comerciantes. No polo de eletrônicos de Tóquio, por exemplo, lojas estão limitando a compra dos componentes de memória
Matheus Chaves04/12/2025 06h40
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Os chips de memória DRAM também vem sendo afetados com a alta demanda do mercado (Imagem: divulgação/Samsung)
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De acordo com uma análise realizada pela agência Reuters, a qual realizou entrevistas com quase 40 pessoas, entre elas 17 executivos de distribuidores e fabricantes de chips, a onda de investimentos em inteligência artificial (IA) e eletrônicos de consumo está provocando uma escassez global de chips de memória.

Entre os principais tipos de chip estão o DRAM, uma memória dinâmica de acesso aleatório, muito utilizada em computadores e telefones, e HBM, um tipo de memória avançada de alta largura de banda.

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(Reprodução: Liam Briese/Unsplash)

Do boom da IA ao desabastecimento

Com o boom de investimentos em IA, impulsionado por modelos como ChatGPT, empresas de tecnologia têm investido fortemente na construção de data centers. Esse movimento levou fabricantes de chips a redirecionar a produção para memórias de alta performance (HBM), essenciais para IA, em detrimento dos módulos convencionais usados em PCs e smartphones.

Como resultado, os estoques de DRAM caíram drasticamente. Segundo a reportagem, a empresa de análise TrendForce, que monitora quanto tempo os fabricantes conseguem manter a produção usando apenas o que têm armazenado — isso é chamado de nível de estoque, medido em semanas de cobertura — constatou uma queda brusca nesse tipo de memória:

  • No final de 2024, os fabricantes tinham memória suficiente para 13 a 17 semanas de produção.
  • Em julho de 2025, isso caiu para 3 a 8 semanas.
  • Em outubro de 2025, despencou para apenas 2 a 4 semanas.
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Até mesmo as grandes empresas, como a Microsoft, estão sofrendo com a crise de chips de memória (Imagem: Framalicious / Shutterstock)

Sobrecarga nos setores de tecnologia e eletrônicos

Gigantes como Microsoft, Google e ByteDance, além de outras gigantes da tecnologia, agora disputam a oferta limitada de chips. Lojas de eletrônicos no Japão já impõem limite na compra de memórias e unidades de armazenamento, enquanto fabricantes de celular na China avisam que podem repassar o aumento dos custos aos consumidores.

A consequência conforme indicada por executivos e economistas à Reuters: queda na produção de dispositivos tradicionais, atrasos em projetos de infraestrutura digital e pressão inflacionária global em um momento em que economias tentam conter aumentos de preços.

Mercado reage, mas oferta não deve normalizar tão cedo

Mão de robô apontando para montes de moedas
Os investimentos têm sido altos para dar conta de toda a demanda, mas mesmo assim as empresas estão encontrando dificuldades (Imagem: tech_BG/Shutterstock)

Embora empresas como Samsung Electronics e SK Hynix já tenham anunciado investimentos para expandir a produção, seus novos módulos — especialmente os voltados a IA — não devem ser suficientes para restabelecer o equilíbrio tão cedo, já que as novas fábricas para chips convencionais são vão estar em operação em 2027 ou 2028.

Em um fórum do setor realizado em Seul em outubro deste ano, o executivo-chefe da SK Hynix, Chey Tae-won, afirmou que a atual pressão nas cadeias de fornecimento de memória pode continuar até o fim de 2027.

“Atualmente, estamos recebendo pedidos de fornecimento de memória de tantas empresas que estamos preocupados com a nossa capacidade de atender a todos eles. Se não conseguirmos fornecer a demanda, essas empresas podem ficar impossibilitadas de operar”, disse o executivo. 

A reportagem ainda destaca que analistas alertam que apenas companhias com maior liquidez e força financeira devem conseguir resistir ao caos de preços e atrasos, enquanto outros players menores podem enfrentar graves dificuldades.

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Smartphones de grandes marcas, como a Xiaomi, também pode sofrer com aumento de preços
(Imagem: Gabo_Arts/Shutterstock)

Pressão sobre fabricantes de celulares

Com a disparada nos preços das memórias, montadoras chinesas como Xiaomi e Realme já admitem que podem elevar os valores de seus produtos. 

Francis Wong, diretor de marketing da Realme na Índia, afirmou à Reuters que a valorização dos componentes de armazenamento é a maior desde que os smartphones surgiram, e que isso pode levar a ajustes de 20% a 30% nos preços até o meio do próximo ano.

Segundo ele, alguns fabricantes conseguem cortar custos em itens como câmeras, processadores ou baterias, mas a memória é indispensável e não há como fugir do impacto, já que todos dependem desse componente.

A Xiaomi também reconheceu que precisará rever os valores dos aparelhos. A empresa diz que pretende equilibrar o cenário elevando o foco nos modelos de maior valor agregado e usando outras áreas do grupo para absorver parte da pressão de custos.

Em outro sinal da tensão no setor, a ASUS, de Taiwan, informou em novembro que possuía estoque suficiente, incluindo memórias, para aproximadamente quatro meses, mas que poderia reajustar preços conforme o mercado evoluísse.

Já a Winbond, responsável por cerca de 1% do mercado global de DRAM, saiu na frente anunciando expansão de produção. A companhia aprovou em outubro um investimento de US$ 1,1 bilhão para atender ao aumento de demanda.

Seu presidente, Pei-Ming Chen, disse que diversos clientes têm pedido prioridade no fornecimento, e um deles chegou até a solicitar um contrato de suprimento válido por seis anos, tamanho o receio de ficar sem componentes.

Matheus Chaves
Colaboração para o Olhar Digital

Matheus Chaves é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital