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Você acorda de manhã e encontra a porta da geladeira aberta, um copo de leite pela metade na mesa, ou descobre que enviou uma mensagem de texto sem sentido para alguém durante a madrugada. Pode ser algo assustador, mas não é um fantasma e provavelmente não foi um lapso de memória comum. Na verdade, são cenas clássicas na vida de pessoas que sofrem com o sonambulismo.
Embora muitas vezes retratado em desenhos animados como alguém andando enquanto dorme, a realidade desse distúrbio é um pouco diferente e biologicamente interessante. Mas o que exatamente faz o cérebro decidir dar um passeio enquanto o corpo deveria estar descansando?
O que é o sonambulismo e por que ele ocorre?
O sonambulismo não é uma doença em si, mas sim um distúrbio do sono classificado como uma parassonia. Ele acontece, ironicamente, quando estamos dormindo mais “pesado”. Durante o estágio mais profundo do sono (chamado de sono NREM, estágio 3), o cérebro sofre uma espécie de “falha técnica” na transição entre o dormir e o despertar.

De forma simplificada, uma parte do seu cérebro acorda (a responsável pelo movimento), enquanto a outra parte (responsável pela consciência e memória) continua dormindo profundamente.
Por que o sonambulismo acontece?
A ciência aponta que o fator genético é fortíssimo. Se seus pais eram sonâmbulos, suas chances aumentam consideravelmente. Além da hereditariedade, o episódio pode ser desencadeado por privação de sono, estresse, febre ou uma rotina de sono desregrada.
Conforme explica o médico Dr. Drauzio Varella, o sonambulismo ocorre quando as funções motoras despertam, mas a consciência permanece inativa. Isso significa que o indivíduo pode sentar na cama, caminhar, falar coisas desconexas ou até realizar tarefas complexas, como se vestir. Embora existam casos induzidos por medicamentos ou substâncias, a maioria dos episódios, especialmente em jovens, é espontânea e ligada ao amadurecimento do sistema nervoso central.
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É verdade que ocorre mais em meninos?
Fontes de saúde, como a rede CUF Hospitais, confirmam que a condição é historicamente apontada como mais frequente no sexo masculino e tende a desaparecer na adolescência. No entanto, o consenso global é que o sonambulismo é uma condição predominantemente infantil, afetando uma parcela significativa das crianças em algum momento, independentemente do sexo, devido à imaturidade do cérebro em regular os ciclos de sono e vigília.

Sintomas, riscos e tratamentos
Ao contrário do mito popular, o sonâmbulo geralmente não anda de olhos fechados. Pelo contrário, eles costumam ficar com os olhos abertos, mas com um olhar vidrado e distante. Eles raramente respondem a estímulos externos e, no dia seguinte, sofrem de amnésia total do evento.
O sonambulismo em si não causa danos à saúde interna, mas as consequências podem ser perigosas devido ao risco de acidentes físicos (tropeços, quedas ou saídas de casa).
Segundo a Cleveland Clinic, o tratamento medicamentoso raramente é necessário. A abordagem principal foca em segurança e prevenção:
- Higiene do sono: Manter horários regulares ajuda a evitar a privação de sono, um dos maiores gatilhos.
- Segurança: Trancar portas e janelas e remover objetos do chão.
- Redução de estresse: Ansiedade pode precipitar os episódios.
Na maioria dos casos, não há motivo para pânico: é apenas o cérebro aprendendo a “desligar” corretamente todas as chaves durante a noite.