Rastreamento obrigatório em celulares causa confronto entre operadoras e big techs na Índia

Governo da Índia avalia rastreamento permanente por A-GPS em celulares; medida enfrenta forte resistência de Apple, Google e Samsung
Valdir Antonelli07/12/2025 06h44
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Imagem: Rajiv_am96/Shutterstock
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O governo indiano estuda uma proposta para tornar obrigatório o rastreamento por satélite sempre ativo em smartphones. A ideia, apresentada por operadoras de telefonia, gerou forte oposição da Apple, do Google e da Samsung por riscos à privacidade, alerta a Reuters.

A discussão ganhou força após a revogação de uma ordem que exigia um app estatal pré-instalado.

Vigilância digital avança na Índia após debate sobre rastreamento obrigatório em smartphones reacender críticas de privacidade.
Vigilância digital avança na Índia após debate sobre rastreamento obrigatório em smartphones reacender críticas de privacidade. Imagem gerada por IA via DALL-E/Vitória Gomez/Olhar Digital

Por que a Índia quer rastrear tudo?

A proposta surge porque, segundo o governo, os dados de localização fornecidos hoje por torres de celular não são precisos o suficiente em investigações. O plano das operadoras prevê que os fabricantes ativem o A-GPS — tecnologia que combina satélite e rede móvel — sem possibilidade de desligamento pelo usuário.

Documentos citados mostram que o Ministério de Tecnologia da Informação avalia o pedido desde junho. A COAI, que representa grandes operadoras como Jio e Bharti Airtel, defende que apenas com o A-GPS ativado permanentemente seria possível entregar coordenadas com precisão de aproximadamente um metro.

Uma carta do lobby India Cellular & Electronics Association (ICEA) afirma que “o serviço de rede A-GPS… não está implantado nem é suportado para vigilância de localização” e classifica a exigência como “um abuso de poder regulatório”.

Apple, Samsung e Google dizem que proposta indiana criaria vigilância inédita e colocaria usuários sensíveis em risco.
Apple, Samsung e Google dizem que proposta indiana criaria vigilância inédita e colocaria usuários sensíveis em risco. Imagem: Mamun_Sheikh / Shutterstock.com

O que preocupa Apple, Google e Samsung?

As empresas argumentam que a medida é sem precedentes no mundo. A ICEA alerta que militares, juízes, executivos e jornalistas — usuários com informações sensíveis — seriam expostos a riscos se o rastreamento constante fosse ativado por padrão.

Esta proposta faria com que telefones funcionassem como um dispositivo de vigilância dedicado.

Junade Ali, especialista em perícia digital, à Reuters.

Cooper Quintin, da Electronic Frontier Foundation, organização que defende liberdades civis no mundo digital, afirmou não conhecer proposta parecida em nenhum outro país e a classificou como “bastante assustadora”.

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Além disso, a ICEA lembra que algumas práticas atuais já geram desconforto: quando operadoras tentam acessar dados de localização, o sistema exibe um alerta na tela. As empresas querem que o governo elimine essa notificação, mas Apple e Google defendem que ela permaneça para garantir transparência.

Rastreamento permanente preocupa especialistas, que veem ameaça direta à privacidade em um país com 700 milhões de celulares.
Rastreamento permanente preocupa especialistas, que veem ameaça direta à privacidade em um país com 700 milhões de celulares. Imagem: babar ali 1233/Shutterstock

Operadoras contra fabricantes

Com mais de 700 milhões de smartphones em uso, a Índia é um dos maiores mercados do mundo, e qualquer mudança afeta praticamente toda a população. Enquanto operadoras pressionam por acesso mais preciso, fabricantes argumentam que a privacidade do usuário precisa permanecer no centro da discussão.

Para entender o embate, vale resumir os pontos-chave:

  • Operadoras querem A-GPS sempre ligado, sem que o usuário possa desativar.
  • Fabricantes dizem que isso equivaleria a vigilância permanente, colocando cidadãos em risco.
  • Notificações de rastreamento dividem grupos: operadoras querem removê-las; Apple e Google defendem mantê-las.

Uma reunião entre o governo e executivos do setor estava prevista, mas foi adiada, aumentando a incerteza sobre os próximos passos.

Por enquanto, a proposta segue nas mãos do governo indiano, sem prazo para ser implementada.

Valdir Antonelli
Colaboração para o Olhar Digital

Valdir Antonelli é jornalista com especialização em marketing digital e consumo.