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O Japão vive um dos cenários mais críticos do mundo relacionados à demência. Somente no último ano, mais de 18 mil idosos com demência desapareceram após sair de casa — e quase 500 foram encontrados mortos. Esses números vêm crescendo: segundo a polícia japonesa, os casos dobraram desde 2012, refletindo um país que envelhece rapidamente e lida com uma força de trabalho cada vez menor. As informações são da BBC.
Quase 30% da população japonesa tem 65 anos ou mais, o segundo maior índice global, atrás apenas de Mônaco, de acordo com o Banco Mundial. Diante disso, o governo japonês classifica a demência como uma das prioridades máximas de saúde pública, projetando que os custos sociais e médicos ligados à condição cheguem a 14 trilhões de ienes até 2030 — contra nove trilhões em 2025.
Para conter o avanço do problema, o país passa a direcionar suas estratégias para o uso de novas tecnologias, combinando inteligência artificial, sensores, GPS e até robôs cuidadores.

GPS, sensores e IA tornam o monitoramento mais preciso
Em diversas regiões, sistemas baseados em GPS ajudam a localizar rapidamente pessoas com demência que deixam suas casas. Algumas cidades oferecem etiquetas rastreáveis usadas como pulseiras ou presilhas nas roupas, emitindo alertas assim que o idoso ultrapassa uma área de segurança.
O trabalho também envolve a comunidade. Em certas localidades, funcionários de lojas de conveniência recebem notificações em tempo real para agir como uma rede de apoio e encontrar pessoas desaparecidas em questão de horas.
Além do monitoramento, tecnologias de diagnóstico precoce vêm ganhando espaço. Um exemplo é o aiGait, da Fujitsu, que utiliza inteligência artificial para analisar postura e padrões de caminhada, identificando sinais iniciais de demência — como passos arrastados, voltas mais lentas ou dificuldade para se levantar. O sistema gera modelos do movimento corporal que médicos podem examinar durante consultas de rotina.

Robôs cuidadores e apoio emocional ampliam as alternativas
Com a falta de profissionais de cuidado, a robótica tem avançado dentro das casas e instituições japonesas. Pesquisadores da Universidade Waseda trabalham no robô humanoide AIREC, de 150 kg, capaz de auxiliar em tarefas simples como vestir meias, preparar refeições básicas e dobrar roupas. A expectativa é que, no futuro, ele execute cuidados mais complexos, como trocar fraldas e prevenir escaras.
Outros robôs já estão em uso no país, auxiliando em atividades de rotina nos lares:
- tocam músicas para idosos;
- conduzem alongamentos;
- monitoram condições de saúde durante a noite;
- coletam dados ao serem posicionados sob colchões.
Apesar disso, especialistas alertam que a tecnologia não substitui o cuidado humano. A função principal desses robôs é complementar o trabalho dos cuidadores e oferecer suporte a pacientes e familiares.
O Japão também aposta em soluções de companhia e combate ao isolamento, como o Poketomo, um robô portátil de 12 cm que lembra idosos de tomar medicamentos, fornece orientações sobre o clima e mantém conversas simples para reduzir a solidão.

Tecnologia não substitui interação humana no trato da demência
Mesmo com o avanço tecnológico, iniciativas sociais continuam essenciais para melhorar a qualidade de vida de pessoas com demência. Em Tóquio, o “Restaurant of Mistaken Orders” oferece trabalho a pessoas com a condição, permitindo que permaneçam ativas, engajadas e próximas da comunidade.
A proposta foi criada por Akiko Kanna, inspirada na história do pai. Funcionários como Toshio Morita, que usa flores para lembrar os pedidos das mesas, afirmam que a interação social traz alegria e propósito — elementos impossíveis de serem reproduzidos por máquinas.
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O exemplo reforça que tecnologias podem aliviar parte da crise, mas a convivência humana permanece insubstituível quando se trata do cuidado com pessoas que vivem com demência.