O Mapa Fantasma: a história do primeiro registro das Américas que desapareceu por 300 anos

O mapa das Américas criado por Juan de la Cosa revela como europeus enxergaram o “Novo Mundo” em 1500 e permaneceu perdido por séculos
Por Valdir Antonelli, editado por Lucas Soares 08/12/2025 08h53
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Imagem: Juan de la Cosa/Wikimedia Commons
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O primeiro mapa conhecido a mostrar as Américas, criado por Juan de la Cosa por volta de 1500, é uma das peças cartográficas mais intrigantes da história. O registro ficou desaparecido por mais de três séculos.

Hoje, segundo o IFLScience, ele é visto como um marco da era das explorações europeias e um retrato raro de como o “Novo Mundo” foi inicialmente percebido.

Mapa de Juan de la Cosa, criado por volta de 1500, é considerado o primeiro registro europeu das Américas e ficou desaparecido por mais de três séculos.
Mapa de Juan de la Cosa, criado por volta de 1500, é considerado o primeiro registro europeu das Américas e ficou desaparecido por mais de três séculos. Imagem: Juan de la Cosa/Wikimedia Commons

O mapa que mudou a forma como a Europa via o mundo

O mapa atribuído a Juan de la Cosa representa um momento decisivo da expansão marítima europeia. Embora os vikings tenham chegado à América do Norte séculos antes, foi apenas no fim do século XV que a exploração sistemática ganhou força, impulsionada pelas viagens de Cristóvão Colombo.

De la Cosa, segundo em comando e proprietário da nau Santa Maria, também tinha talento para cartografia — e isso moldou sua contribuição histórica.

Segundo a própria inscrição no pergaminho, ele teria produzido o mapa em 1500, no porto de Santa Maria, na Andaluzia. Em uma época de disputas intensas entre potências europeias, um documento como esse tinha valor estratégico, já que o conhecimento sobre o “Novo Mundo” era escasso e decisivo.

Comparação dos contornos costeiros nos mapas de Juan de la Cosa (linha preta) e Martin Behaim (linha pontilhada clara) com a linha costeira real.
Comparação dos contornos costeiros nos mapas de Juan de la Cosa (linha preta) e Martin Behaim (linha pontilhada clara) com a linha costeira real. Imagem: Mindriot/Wikimedia Commons

Um desenho rudimentar, mas impressionante para a época

O mapa mostra a América como a borda de uma grande massa de terra que se estende por um território desconhecido. Como os europeus ainda sabiam pouco sobre a região, muitos detalhes são ausentes. Mesmo assim, há linhas que indicam rios e limites, e a paisagem aparece predominantemente em verde, refletindo a impressão inicial dos exploradores.

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As representações da Europa, Ásia e África parecem basear-se em mapas anteriores, produzidos com o conhecimento reunido por espanhóis e portugueses. Em comparação com representações modernas, o contorno das Américas está longe de ser preciso — mas já apresenta trechos reconhecíveis da América do Norte, do Caribe e da região norte da América do Sul.

O mapa também indica uma percepção importante para a época: as Américas não eram parte da Ásia, como muitos acreditavam, embora o desenho não esclareça completamente se o continente era separado, já que a borda ocidental permanece indefinida.

Mas não foi o mapa de de la Cosa que batizou o continente americano. O mapa de Martin Waldseemüller, de 1507, foi o primeiro a usar o nome América, inspirado em Américo Vespúcio.
Mas não foi o mapa de de la Cosa que batizou o continente americano. O mapa de Martin Waldseemüller, de 1507, foi o primeiro a usar o nome América, inspirado em Américo Vespúcio. Imagem: Martin Waldseemüller/Wikimedia Commons

As histórias por trás do desaparecimento

Um dos elementos mais fascinantes é o sumiço do mapa por aproximadamente três séculos. Ele só reapareceu em 1832, quando o cientista francês Charles Walckenaer o comprou de um antiquário em Paris. A explicação mais aceita é que o documento tenha sido levado dos Arquivos Secretos do Vaticano por Napoleão em 1810, durante o confisco de materiais transportados para a França.

O avanço técnico do mapa para sua época leva alguns especialistas a questionarem sua datação. Há quem defenda que ele seja uma montagem de mapas posteriores, possivelmente de 1529, inspirada no trabalho original de de la Cosa. Outra hipótese sugere a existência de dois homens com o mesmo nome, o que teria gerado confusão histórica.

Apesar dessas dúvidas, permanece o consenso de que o documento tem enorme valor para compreender a cartografia e a exploração europeia.

Para entender o valor desse artefato, basta observar alguns pontos-chave da sua relevância histórica:

  • Oferece a primeira representação conhecida das Américas feita por europeus.
  • Mostra como exploradores enxergavam um território ainda misterioso.
  • Traz um registro único sobre o conhecimento geográfico da virada do século XVI.
  • Revela incertezas, especulações e disputas políticas da época.
  • Contribui para debates modernos sobre a evolução da cartografia.

Mas não foi o mapa de de la Cosa que batizou o continente americano. O mapa de Martin Waldseemüller, de 1507, foi o primeiro a usar o nome América, inspirado em Américo Vespúcio.

Valdir Antonelli
Colaboração para o Olhar Digital

Valdir Antonelli é jornalista com especialização em marketing digital e consumo.

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.