Isolada e sem recursos, Rússia perde fôlego na corrida da inteligência artificial

Rússia perde espaço na IA por sanções, falta de hardware e fuga de talentos, tornando-se dependente da China para seguir no setor
Valdir Antonelli09/12/2025 05h10
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Rússia está perdendo terreno na corrida pela IA. Imagem: Shabtay/Shutterstock
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A Rússia, que tinha ambições de liderança global em inteligência artificial sob o comando de Vladimir Putin, agora enfrenta barreiras gigantescas: sanções internacionais, falta de hardware e fuga de talentos. A guerra na Ucrânia e o isolamento tecnológico estão minando esses planos, segundo matéria do The Wall Street Journal.

Enquanto isso, Moscou tornou-se cada vez mais dependente da China para obter chips, software e até acesso a modelos de IA como o ChatGPT. O que parecia um futuro promissor converteu-se numa luta para o país permanecer no jogo.

Sanções e falta de hardware freiam o avanço da IA russa, antes vista como prioridade estratégica por Vladimir Putin.
Sanções e falta de hardware freiam o avanço da IA russa, antes vista como prioridade estratégica por Vladimir Putin. Imagem: Summit Art Creations/Shutterstock

O declínio inesperado da IA russa

Apesar de discursos grandiosos, os resultados da Rússia no mundo da IA são tímidos. Em plataformas de avaliação como a LM Arena, o modelo russo de melhor desempenho ficou apenas na 25ª posição, atrás até de versões mais antigas do ChatGPT e do Google Gemini. No ranking da Global AI Vibrancy Tool, da Universidade de Stanford, a Rússia aparece em 28º lugar entre 36 países – bem atrás de potências como EUA e China.

Por que a Rússia está travada?

  • As sanções ocidentais impedem o acesso a chips de ponta e hardware essencial para treinar IA.
  • GPUs, importantes para treinar modelos, viraram artigo de luxo: as importações russas despencaram 84% após a guerra.
  • Cartões bancários russos não funcionam bem no exterior, tornando até o pagamento de assinaturas de IA complicados — então empresas recorrem a “meios alternativos”, como cartões de outros países ou intermediários.

Esse cenário força a Rússia a depender de intermediários e, especialmente, da China, ampliando uma dependência estratégica preocupante.

Dependência crescente da China expõe limitações da Rússia para acessar chips, software e modelos avançados de IA.
Dependência crescente da China expõe limitações da Rússia para acessar chips, software e modelos avançados de IA. Imagem: DC Studio/Shutterstock

A fuga de cérebros também pesa

Só em 2022, mais de 100 mil profissionais de TI saíram da Rússia e não retornaram.

A Rússia está anos atrasada no desenvolvimento de sua própria IA. [Ela] já perdeu a competição e é impossível alcançá-la.

Yury Podorozhnyy, ex-executivo de tecnologia que fugiu para Londres com a esposa grávida após a invasão da Ucrânia, ao WSJ.

Leia mais:

Para Anna Fedosova, “é muito difícil contratar um engenheiro de IA de alto nível na Rússia”. Ela estima que entre 70% e 80% dos talentos mais brilhantes da IA já saíram do país, o que mina qualquer plano de crescimento local.

Queda do humanoide AIDOL durante evento expõe tropeços da Rússia no desenvolvimento de tecnologias de IA.
Queda do humanoide AIDOL durante evento expõe tropeços da Rússia no desenvolvimento de tecnologias de IA. Imagem: X/Reprodução de tela

Até robôs saem de cena

Nem os robôs russos escapam das dificuldades. Recentemente, a estrela da IA foi um humanoide chamado AIDOL. A ideia era impressionar, mas a apresentação virou meme: ele entrou no palco andando meio torto, tentou acenar e… caiu.

A demonstração foi interrompida. Os organizadores disseram que o robô “aprenderá com as consequências de suas próprias ações”. Isso se tornou simbólico no momento, já que todo o projeto de IA russo parece tropeçar.

Valdir Antonelli
Colaboração para o Olhar Digital

Valdir Antonelli é jornalista com especialização em marketing digital e consumo.