Siga o Olhar Digital no Google Discover
A crescente demanda por memória para alimentar data centers de inteligência artificial está provocando um efeito dominó que ameaça encarecer smartphones, notebooks, consoles e outros dispositivos eletrônicos. A escassez de RAM, antes percebida principalmente por entusiastas de PCs, agora se expande para praticamente todo o setor de tecnologia — e não deve arrefecer tão cedo.
Segundo analistas de mercado ouvidos pelo portal The Verge, os principais fabricantes de memória estão deslocando grande parte de sua produção para atender gigantes da IA. Como resultado, consumidores e empresas passam a competir diretamente com projetos bilionários, que priorizam DRAM para servidores e modelos avançados. O cenário já motivou previsões de aumento de preços, redução de capacidade em produtos e até descontinuação de linhas inteiras.
Escassez de RAM atinge smartphones, PCs e consoles
A pressão no mercado parte das três empresas que dominam 93% da produção global de DRAM: Samsung, SK Hynix e Micron. A corrida das big techs por chips capazes de treinar modelos cada vez maiores levou as fabricantes a priorizar pedidos de data centers — deixando consumidores em segundo plano.

Analistas afirmam que quem não for “cliente de servidor” será tratado como prioridade secundária. Isso já se reflete em indicadores claros: o custo de 12 GB de memória usados em smartphones premium aumentou em quase US$ 40 para algumas fabricantes. A IDC estima queda nas vendas de celulares em 2026 e aumento médio de US$ 9 no preço final.
O impacto também deve atingir laptops, consoles e até dispositivos de baixo custo, como Chromebooks. Empresas como HP, Dell e Lenovo já discutem ajustes para mitigar a escassez — que incluem elevar preços ou cortar a quantidade de RAM em futuros lançamentos.
IA consome grande parte da produção global de memória
A disputa por RAM se intensificou quando Samsung e SK Hynix, segundo reportagens, comprometeram até 40% da produção global de DRAM para um único projeto de IA ligado ao OpenAI. Paralelamente, a Micron decidiu encerrar sua marca de varejo Crucial para concentrar esforços no fornecimento de memória para inteligência artificial.

Além da DRAM tradicional, a demanda por HBM (High Bandwidth Memory) cresce rapidamente. Esse tipo de memória, usado em GPUs avançadas como as da Nvidia, consome até três vezes mais capacidade de produção do que a DRAM comum. O resultado: menos wafers disponíveis para o mercado consumidor e preços em alta constante.
Como a escassez de RAM afeta o mercado?
- Smartphones podem ter custos maiores e menos opções acessíveis.
- Laptops e PCs podem vir com menos memória ou com componentes mais baratos.
- Consoles e portáteis já cogitam repassar aumentos ao consumidor.
- Pequenas fabricantes, como Framework, Raspberry Pi e OneXPlayer, anunciaram reajustes.
- Preços de módulos DDR5 triplicaram ou quadruplicaram desde setembro.
O impacto também atinge SSDs, que dependem de NAND flash — outra tecnologia disputada pelos projetos de IA. As mesmas empresas que fabricam DRAM respondem por grande parte do mercado de armazenamento, deslocando recursos para atender gigantes como Nvidia.
Indústria segura expansão, e preços podem continuar subindo
Mesmo diante da explosão de demanda por RAM, as fabricantes não demonstram urgência em ampliar suas operações. Após perdas ocorridas em 2023 por excesso de oferta, empresas preferem preservar margens recordes. SK Hynix divulgou lucros históricos, enquanto a Samsung afirmou que pretende manter rentabilidade a longo prazo, em vez de expandir rapidamente instalações.

Projeções internas indicam que a escassez pode durar até 2027, com preços se mantendo altos — ou até subindo — por mais dois anos. A construção de novas fábricas está prevista apenas para 2027 no caso da SK Hynix, enquanto a Micron planeja uma planta nos EUA voltada principalmente ao setor de IA.
Leia mais:
- 5 cuidados necessários na hora de comprar uma memória RAM usada
- Por que a memória RAM é tão importante?
- 5 sinais de que a memória RAM está deixando seu PC mais lento
Para consumidores, a consequência é clara: após anos lidando com GPUs inflacionadas, agora é a RAM que pode se tornar o principal vilão na elevação dos preços de eletrônicos.