Apple Watch ajuda nova IA a antecipar riscos à saúde

IA do MIT usa 3 milhões de dias de dados do Apple Watch para prever doenças com mais precisão, mesmo com registros irregulares
Por Valdir Antonelli, editado por Layse Ventura 11/12/2025 07h00
apple watch
Imagem: DenPhotos/Shutterstock
Compartilhe esta matéria
Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Siga o Olhar Digital no Google Discover

O MIT e a Empirical Health desenvolveram uma nova IA treinada com 3 milhões de dias de dados do Apple Watch. O objetivo é antecipar condições médicas com mais precisão.

A equipe utilizou informações coletadas de milhares de pessoas para criar um modelo capaz de identificar padrões mesmo quando os registros são irregulares ou incompletos, comenta o 9to5Mac.

Modelo de IA aproveita grandes volumes de dados do Apple Watch para tornar previsões médicas mais precisas e acessíveis.
Modelo de IA aproveita grandes volumes de dados do Apple Watch para tornar previsões médicas mais precisas e acessíveis. Imagem: DenPhotos/Shutterstock

Uma IA que entende dados faltando

A base do estudo é a arquitetura JEPA, proposta por Yann LeCun quando ainda era cientista-chefe de IA da Meta. A ideia central é ensinar o sistema a interpretar o significado de partes ausentes dos dados, em vez de tentar reconstruí-las literalmente. Isso permite que o modelo lide com lacunas comuns em informações de dispositivos vestíveis.

Em imagens, por exemplo, a JEPA trabalha mascarando parte do conteúdo e obrigando a IA a entender o contexto. O mesmo princípio foi adaptado para séries temporais, nas quais sono, atividade física, respiração e outros dados aparecem de forma irregular ao longo do tempo. Esse processo deu origem ao JETS, o modelo apresentado no estudo.

Arquitetura proposta por ex-Meta ensina a IA a interpretar partes ausentes dos dados, tornando análises de wearables mais precisas e consistentes.
Arquitetura proposta por ex-Meta ensina a IA a interpretar partes ausentes dos dados, tornando análises de wearables mais precisas e consistentes. Imagem: khunkornStudio/Shutterstock)

Treinamento feito com dados de mais de 16 mil pessoas

Os pesquisadores reuniram um conjunto longitudinal com dados de 16.522 indivíduos, somando 3 milhões de dias de dados. Cada participante teve 63 métricas diferentes registradas em níveis diários ou inferiores, classificadas em cinco domínios: cardiovascular, respiratório, sono, atividade física e estatísticas gerais.

Leia mais:

O ponto curioso é que apenas 15% tinham histórico médico rotulado. Ou seja, 85% do material seria descartado em abordagens tradicionais. Para contornar isso, o JETS passou por um pré-treinamento autossupervisionado com toda a base e só depois foi ajustado usando o subconjunto rotulado.

Para transformar tudo em algo utilizável, os cientistas criaram trios de dados — dia, valor e tipo de métrica — convertidos em tokens, mascarados e processados pelo modelo. O objetivo era prever a representação das partes ausentes a partir das observáveis.

Dados de milhares de participantes permitiram mapear 63 métricas diárias, cobrindo saúde cardiovascular, respiratória, sono e atividade física.
Dados de milhares de participantes permitiram mapear 63 métricas diárias, cobrindo saúde cardiovascular, respiratória, sono e atividade física. Imagem: Juan Roballo/Shutterstock

Resultados mostram o potencial do Apple Watch na saúde

Ao comparar o JETS com modelos de referência (incluindo uma versão baseada em Transformer), a equipe mediu o desempenho usando AUROC e AUPRC — métricas que indicam a capacidade de distinguir casos positivos de negativos. O sistema alcançou destaque em várias áreas, com resultados como:

  • 86,8% de AUROC para hipertensão arterial.
  • 70,5% para flutter atrial.
  • 81% para síndrome da fadiga crônica.
  • 86,8% para síndrome do nó sinusal.

Esses índices, como reforça o estudo, não medem precisão direta, mas sim a habilidade da IA de priorizar corretamente possíveis casos relevantes. Mesmo assim, o avanço chama atenção, especialmente porque algumas métricas eram registradas em apenas 0,4% dos dias — enquanto outras chegavam a 99%.

O trabalho reforça que técnicas modernas conseguem extrair valor até de conjuntos extremamente irregulares. E mais: mostram que dispositivos populares, como o Apple Watch, ainda têm muito a oferecer na área da saúde.

Por que esse estudo é importante?

  • Aproveita dados que seriam descartados.
  • Funciona bem mesmo com registros incompletos.
  • Ajuda a detectar padrões de longo prazo.
  • Pode melhorar diagnósticos e prevenção.
  • Mostra o potencial de wearables como ferramentas médicas.
Valdir Antonelli
Colaboração para o Olhar Digital

Valdir Antonelli é jornalista com especialização em marketing digital e consumo.

Layse Ventura
Editor(a) SEO

Layse Ventura é jornalista (Uerj), mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento (Ufsc) e pós-graduada em BI (Conquer). Acumula quase 20 anos de experiência como repórter, copywriter e SEO.