Energia barata vira trunfo da China para avançar na corrida da IA

China avança na IA graças à energia barata e abundante, reduzindo custos de treinamento e ganhando vantagem sobre os EUA
Por Valdir Antonelli, editado por Layse Ventura 12/12/2025 06h30
Com novos investimentos, China domina produção e tecnologia em energia eólica
Com novos investimentos, China domina produção e tecnologia em energia eólica (Imagem: ABCDstock / Shutterstock)
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A China pode não liderar em chips de IA, mas tem um trunfo poderoso frente aos Estados Unidos: eletricidade mais barata e uma rede elétrica gigantesca. Esse diferencial está impulsionando sua capacidade de treinar modelos de IA com custo competitivo.

Enquanto os Estados Unidos são pioneiros em modelos de IA e detêm chips avançados, seus data centers enfrentam preocupações com a oferta de energia. Na China, a energia de baixo custo está atraindo investimentos e transformando regiões inteiras, afirma matéria no The Wall Street Journal.

Enquanto os EUA enfrentam limitações energéticas, a China cresce com eletricidade acessível e abundante.
Enquanto os EUA enfrentam limitações energéticas, a China cresce com eletricidade acessível e abundante. Imagem: Knight00730/Shutterstock

Energia barata é uma vantagem estratégica em IA

A China construiu a maior rede elétrica da história e, em 2024, gerou mais que o dobro da eletricidade dos EUA. Centros de dados em algumas regiões chinesas chegam a pagar menos da metade do custo pago nos Estados Unidos.

Na China, a eletricidade é nossa vantagem competitiva.

Liu Liehong, chefe da Administração Nacional de Dados da China, ao WSJ.

Esse cenário também ajuda a explicar como o país consegue operar centros de computação em escala tão grande. Entre os principais elementos que sustentam essa vantagem energética estão:

  • Capacidade energética instalada muito superior, permitindo maior folga para sustentar data centers emergentes.
  • Custo de eletricidade mais baixo, reduzindo o preço do treinamento e da operação de modelos avançados.
  • Distribuição mais ampla de fontes renováveis, como parques eólicos e solares integrados às regiões computacionais.
  • Infraestrutura de transmissão de ultra-alta tensão, que leva energia das regiões remotas aos polos tecnológicos.
  • Investimentos estatais contínuos, garantindo expansão previsível da oferta nos próximos anos.
Centros de dados chineses pagam menos da metade do preço dos EUA, reforçando a vantagem energética do país.
Centros de dados chineses pagam menos da metade do preço dos EUA, reforçando a vantagem energética do país. Imagem: Tirachard/iStock

Analistas do Morgan Stanley estimam que a China investirá cerca de US$ 560 bilhões (R$ 3 trilhões) em projetos de rede elétrica até 2030, um aumento de 45% em relação ao período anterior. O Goldman Sachs prevê que, até 2030, o país terá cerca de 400 gigawatts de capacidade ociosa — o equivalente a três vezes a demanda mundial de centros de dados naquele ano.

Essa vantagem se tornou uma preocupação para empresas estadunidenses de tecnologia. O CEO da Microsoft, Satya Nadella, afirmou temer não haver energia suficiente para alimentar todos os chips que a companhia está adquirindo. Segundo o Morgan Stanley, os EUA podem enfrentar, nos próximos três anos, um déficit de 44 gigawatts — o mesmo que a capacidade do estado de Nova York no verão.

China combina milhares de chips locais para ampliar desempenho em IA, apesar do maior consumo energético.
China combina milhares de chips locais para ampliar desempenho em IA, apesar do maior consumo energético. Imagem: Quality Stock Arts/Shutterstock

Energia barata impulsiona a IA chinesa

O custo reduzido da eletricidade tem ajudado empresas de IA na China, como a DeepSeek, a desenvolver modelos de alta qualidade. Isso também ameniza o impacto do uso de chips domésticos, que ainda não têm desempenho equivalente aos modelos americanos. Ao agrupar milhares desses chips, o país pode se aproximar de um desempenho superior, embora com maior consumo de energia.

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Essa dinâmica tem transformado cidades como Ulanqab, na Mongólia Interior, que se tornaram polos energéticos e tecnológicos com o programa “Dados do Leste, Computação do Oeste”. A região viu seu PIB crescer 50% em cinco anos e atrair US$ 35 bilhões (R$ 189 bilhões) em investimentos, com Apple, Alibaba e Huawei operando data centers locais.

Desde os anos 1970, a China vem ampliando sua infraestrutura energética com usinas termelétricas, hidrelétricas, solares e eólicas, além da maior rede de linhas de ultra-alta tensão do mundo. Hoje, possui cerca de 3,75 terawatts de capacidade instalada — mais que o dobro dos EUA.

Valdir Antonelli
Colaboração para o Olhar Digital

Valdir Antonelli é jornalista com especialização em marketing digital e consumo.

Layse Ventura
Editor(a) SEO

Layse Ventura é jornalista (Uerj), mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento (Ufsc) e pós-graduada em BI (Conquer). Acumula quase 20 anos de experiência como repórter, copywriter e SEO.