Por que não domesticamos as girafas?

Apesar de conviverem com humanos há milênios, as girafas nunca foram domesticadas. A resposta envolve biologia, comportamento e limites da seleção artificial
Por Marcelo Valladão, editado por Layse Ventura 14/12/2025 05h20
Girafa fotografada em meio ao seu habitat natural
Girafas estão entre os animais mais admirados da humanidade ((Imagem: @wirestock/Freepik)
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As girafas são animais que podem, num primeiro momento, transmitir a impressão de terem um temperamento calmo e tranquilo, então podemos pensar: por que não domesticamos girafas?

A domesticação exige espécies naturalmente propensas à convivência humana, capazes de formar hierarquias e aceitar comandos, como cavalos, cães e camelos. As girafas, porém, apresentam comportamento pouco previsível, sendo animais grandes, fortes e reativos. Coices de girafas são capazes de matar predadores, e machos usam o pescoço em golpes violentos (os famosos necking).

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Girafas caminhando em um campo de arbustos
Girafas têm domesticação descartada pelo ser humano (Imagem: @wirestock/Freepik)

Mesmo indivíduos criados em cativeiro tendem a se estressar facilmente, permanecendo ariscos. A falta de um comportamento social que permita “liderança” humana torna o treinamento complexo e perigoso.

Mas, além do comportamento em si, vamos passar outros fatores que também complicam essa domesticação.

Anatomia e estrutura do pescoço dificultam sela e controle

foto com duas girafas lado a lado
Pescoço da girafa dificultaria “o controle” de uma possível montaria (Imagem: wirestock/Freepik)

Embora tenham apenas sete vértebras, como os humanos, cada uma é enorme, resultando em um pescoço alto, pesado e extremamente delicado. Essa anatomia causa diversos problemas:

  • impossibilidade prática de montar, porque o dorso não suporta peso de forma estável;
  • risco elevado de lesões em contenção ou transporte;
  • desequilíbrio caso alguém tente usar rédeas ou mecanismos de direção. O pescoço funciona como uma alavanca enorme e sensível. Qualquer movimento brusco pode ferir o animal. Ou seja, diferentemente de cavalos e camelos, sua anatomia não evoluiu para carga, sela ou tração.

Fisiologia frágil e difícil de manejar

Girafas são mais sucetíveis a desmaios (Imagem: Mary Ann McDonald – Shutterstock)

O sistema circulatório das girafas é um dos mais especializados da zoologia. Para levar sangue até o cérebro, elas mantêm pressão arterial extremamente alta, o que as torna vulneráveis a anestesia, quedas e contenção. Mudanças rápidas de postura podem causar desmaio.

Além disso, são animais grandes, altos e complexos de transportar, exigindo estruturas específicas para evitar lesões. A língua longa, o metabolismo peculiar e o estresse fácil tornam cuidados veterinários e manejo rotineiro mais difíceis do que em equinos ou camelídeos.

Diferenças em relação a equinos e camelos

Um cavalo castanho correndo em um campo aberto com as pernas alongadas em posição vertical indicando estrutura corporal adaptada para velocidade
Cavalo em movimento mostra que suas pernas favorecem velocidade e impulsão no deslocamento (Imagem: Shutter Studio7 / Shutterstock.com)

Cavalos e camelos foram domesticados porque reuniam características importantes: docilidade relativa, utilidade prática (transporte, tração e montaria), reprodução eficiente, socialidade e anatomia apropriada para sela ou carga.

A girafa é o oposto: não possui dorso apropriado, além de não aceitar bem o manejo. Não forma vínculos de trabalho com humanos, além de não oferecer vantagens econômicas.

Demandando enormes quantidades de alimento (machos chegam a comer ~66 kg/dia). Assim, mesmo povos africanos historicamente convivendo com girafas por milênios, nunca tiveram razão prática para tentar domesticá-las

Baixa taxa reprodutiva e ciclo de vida lento

Girafas têm maturidade “tardia” (Imagem: divulgação/Bright’s Zoo)

Para uma espécie ser domesticada, é necessário selecionar indivíduos dóceis por muitas gerações. As girafas têm reprodução lenta: gestação de 460 dias, apenas um filhote por vez, maturidade tardia (3–7 anos) e jovens que dependem da mãe por até três anos.

Isso torna o processo de seleção artificial impraticável. Enquanto caprinos, equinos e bovinos se
reproduzem rapidamente, a girafa levaria séculos para apresentar mudanças comportamentais significativas.

Espécie vulnerável pela IUCN

Reprodução de tela IUCN - Girafa considerada vulnerável
Reprodução de tela onde aIUCN – aponta a girafa como vulnerável (Reprodução Marcelo Valladão)

A União Inernacional para a Conservação da Natureza (em inglês, International Union for Conservation of Nature), é maior e mais antiga rede ambiental global do mundo, da qual fazem parte diversos governos e a sociedade civil para conservar a natureza e promover o desenvolvimento sustentável.

A entidade classifica as girafas como vulneráveis em sua Lista Vermelha, com populações em declínio devido à perda de habitat e caça ilegal. Priorizar a domesticação seria não só inviável, mas eticamente questionável.

A conservação das subespécies, a proteção das savanas africanas e o monitoramento populacional são hoje muito mais urgentes do que qualquer tentativa de adaptação ao convívio humano.

Marcelo Valladão
Colaboração para o Olhar Digital

Marcelo Valladão é jornalista formado pela FIAM.Tem 20 anos no mercado, gosta de escrever sobre tecnologia, internet e mundo retrô. Atualmente é colaborador do Olhar Digital.

Layse Ventura
Editor(a) SEO

Layse Ventura é jornalista (Uerj), mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento (Ufsc) e pós-graduada em BI (Conquer). Acumula quase 20 anos de experiência como repórter, copywriter e SEO.