Lula é flagrada usando camuflagem inédita a 4.100 metros de profundidade

Registro inédito mostra lula usando o sedimento do fundo do mar como camuflagem em grandes profundidades do Pacífico
Por Maurício Thomaz, editado por Layse Ventura 15/12/2025 18h33
Cientistas registram estratégia surpreendente de camuflagem em lula abissal. Imagem: National Oceanography Centre / SMARTEX Project (CC BY 4.0)
Cientistas registram estratégia surpreendente de camuflagem em lula abissal. Imagem: National Oceanography Centre / SMARTEX Project (CC BY 4.0)
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Cientistas registraram pela primeira vez um comportamento inédito de lula em grandes profundidades do oceano, revelando novas pistas sobre estratégias extremas de camuflagem no ambiente abissal. As imagens foram captadas a 4.100 metros abaixo da superfície, no fundo do Oceano Pacífico, e mostram um cefalópode de espécie ainda não descrita adotando uma postura incomum: com a cabeça enterrada no sedimento e os tentáculos rígidos apontando para cima, semelhantes a hastes fincadas no solo marinho.

O flagrante foi feito por um submersível operado remotamente durante uma expedição científica do projeto SMARTEX, iniciativa dedicada a estudar os impactos da mineração em águas profundas. A observação surpreendeu os pesquisadores por se tratar do primeiro registro desse tipo de comportamento em uma lula de mar profundo, ampliando o entendimento sobre como esses animais interagem com um ambiente considerado, até recentemente, pouco diverso.

A observação surpreendeu os pesquisadores por se tratar do primeiro registro desse tipo de comportamento em uma lula
A observação surpreendeu os pesquisadores por se tratar do primeiro registro desse tipo de comportamento em uma lula (Imagem: Shutterstock AI)

Lula tem comportamento inédito de camuflagem no fundo do mar

Segundo os cientistas, ainda não é possível afirmar com certeza a função exata da postura adotada pela lula. A principal hipótese é que o animal esteja utilizando o próprio sedimento como forma de camuflagem, misturando-se a elementos comuns do fundo oceânico, como hastes de esponjas ou tubos formados por vermes marinhos. Dessa forma, a lula poderia evitar a detecção por predadores em um ambiente onde a sobrevivência depende fortemente de estratégias furtivas.

Outra possibilidade levantada é que a camuflagem funcione como uma armadilha. Ao permanecer parcialmente enterrada, a lula poderia atrair pequenos crustáceos ou outros organismos curiosos, que se aproximariam dos tentáculos expostos e acabariam capturados. Esse tipo de estratégia não é totalmente inesperado entre cefalópodes, grupo conhecido por sua capacidade de adaptação, inteligência e uso sofisticado de disfarces.

Polvos e sépias, por exemplo, são famosos por mudar rapidamente de cor, textura e forma. Algumas lulas de oceano aberto também apresentam comportamentos de ocultação. Ainda assim, o ato de enterrar a cabeça no sedimento nunca havia sido documentado em cefalópodes de águas profundas.

Assista ao momento, registrado pelos pesquisadores:

O que a descoberta revela sobre o ecossistema abissal

Os autores do estudo afirmam que o comportamento observado combina diferentes estratégias biológicas já conhecidas, mas raramente vistas em conjunto nesse grupo de animais. Entre os principais pontos destacados pelos pesquisadores estão:

  • uso do sedimento como cobertura corporal;
  • camuflagem por “mascaramento”, imitando objetos do ambiente;
  • possível mimetismo agressivo, com finalidade de caça;
  • adaptação comportamental inédita em cefalópodes abissais.

O registro reforça a ideia de que o fundo do oceano está longe de ser um ambiente simples ou pobre em vida. Pelo contrário, a descoberta sugere que esses ecossistemas abrigam organismos altamente especializados, com comportamentos complexos que ainda escapam ao conhecimento científico.

O registro reforça a ideia de que o fundo do oceano está longe de ser um ambiente simples
O registro reforça a ideia de que o fundo do oceano está longe de ser um ambiente simples (Imagem: MichaelStubblefield / iStock)

O estudo também chama atenção para o fato de que a escassez de registros de lulas em regiões abissais pode não refletir baixa abundância, mas sim a eficácia de suas estratégias de camuflagem. Isso indica que a diversidade e a distribuição desses animais podem estar subestimadas, especialmente em áreas como a Zona Clarion-Clipperton, no nordeste do Pacífico, onde o projeto SMARTEX concentra suas pesquisas devido ao interesse crescente da indústria de mineração em águas profundas.

Leia mais:

Publicado na revista científica Ecology, o trabalho destaca como observações pontuais podem alterar significativamente a compreensão sobre a vida nas profundezas e reforça a necessidade de estudos mais detalhados antes de qualquer exploração em larga escala desses ambientes ainda pouco conhecidos.

Maurício Thomaz
Colaboração para o Olhar Digital

Jornalista com mais de 13 anos de experiência, tenho faro pela audiência e verdadeira paixão em buscar alternativas mais assertivas para a entrega do conteúdo ao usuário.

Layse Ventura
Editor(a) SEO

Layse Ventura é jornalista (Uerj), mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento (Ufsc) e pós-graduada em BI (Conquer). Acumula quase 20 anos de experiência como repórter, copywriter e SEO.