Sinais silenciosos da esclerose múltipla identificados em nova pesquisa, veja

Estudo revela que a esclerose múltipla pode começar até sete anos antes dos sintomas, abrindo caminho para diagnóstico precoce com exames de sangue
Por Valdir Antonelli, editado por Lucas Soares 15/12/2025 16h02
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Estudo mostra que é possível diagnosticar a esclerose múltipla muitos anos antes dos primeiros sintomas. Imagem: Shutterstock.AI Generator
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A esclerose múltipla (EM) é uma doença que, em seus primeiros estágios, costuma ser silenciosa. No entanto, um novo estudo revelou que sinais da EM podem surgir muitos anos antes do aparecimento dos sintomas mais evidentes. A descoberta muda a forma como entendemos o início da doença.

Segundo os pesquisadores, danos na mielina podem ser detectados até sete anos antes das manifestações clínicas, abrindo espaço para o diagnóstico precoce e para estratégias de prevenção, explica o site Multiple Sclerosis.

Estudo acompanhou mudanças em proteínas do sangue para entender como a esclerose múltipla evolui antes dos sintomas aparecerem.
Estudo acompanhou mudanças em proteínas do sangue para entender como a esclerose múltipla evolui antes dos sintomas aparecerem. Imagem: gerada por inteligência artificial (Dall-E) /Nayra Teles

Um silêncio que pode agravar a doença

Publicado na revista Nature Medicine, o estudo analisou como a esclerose múltipla se desenvolve no organismo ao longo do tempo. A pesquisa mostrou que os primeiros sinais não aparecem de maneira abrupta, mas seguem uma sequência bem definida de alterações no sistema nervoso.

A mielina – uma camada gordurosa que envolve e protege as fibras nervosas, funcionando como o isolamento de um fio elétrico – é a primeira a apresentar danos. Em seguida, surgem lesões nos axônios, responsáveis pela transmissão dos impulsos nervosos, e, mais tarde, alterações nas células de suporte do cérebro.

Agora sabemos que a EM começa muito antes do início clínico, criando a possibilidade real de que possamos, um dia, prevenir a doença — ou pelo menos usar nosso conhecimento para proteger as pessoas de danos adicionais.

Ari Green, chefe da Divisão de Neuroimunologia da Universidade da Califórnia e autor sênior do estudo, em nota.
Pesquisa revela que os danos da esclerose múltipla seguem uma ordem: primeiro a mielina, depois os axônios e, mais tarde, outras células do cérebro.
Pesquisa revela que os danos da esclerose múltipla seguem uma ordem: primeiro a mielina, depois os axônios e, mais tarde, outras células do cérebro.

O que exames de sangue podem revelar sobre a esclerose múltipla

Para entender essa cronologia, os cientistas analisaram dados de mais de 100 militares que desenvolveram esclerose múltipla após ingressarem nas Forças Armadas dos Estados Unidos. Como havia amostras de sangue coletadas anos antes do diagnóstico, foi possível observar mudanças biológicas precoces.

As análises identificaram proteínas específicas associadas a diferentes tipos de dano neurológico. Os resultados mostraram um padrão consistente ao longo do tempo, ajudando a mapear a progressão da doença antes mesmo do surgimento dos sintomas.

Entre os principais achados estão:

  • Aumento da proteína MOG, indicando danos iniciais à mielina.
  • Elevação da cadeia leve de neurofilamento, associada a lesões nos axônios.
  • Alterações na proteína GFAP, ligadas a danos em astrócitos.
  • Crescimento dos níveis da interleucina-3 (IL-3), relacionada à inflamação.
Exame experimental analisou marcadores no sangue e acertou 79% dos casos de esclerose múltipla ainda na fase pré-sintomática.
Exame experimental analisou marcadores no sangue e acertou 79% dos casos de esclerose múltipla ainda na fase pré-sintomática. Imagem: Babul Hosen/Shutterstock

Um possível exame para detectar EM antes dos sintomas

Com base nesses dados, os pesquisadores testaram um modelo que combina 21 proteínas (marcadores) diferentes presentes no sangue. O resultado foi promissor: o método conseguiu identificar corretamente 79% dos pacientes ainda na fase pré-sintomática da esclerose múltipla.

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“Acreditamos que nosso trabalho abre inúmeras oportunidades para o diagnóstico, monitoramento e [possivelmente] tratamento da EM”, disse Ahmed Abdelhak, MD, primeiro autor do estudo e professor assistente de neurologia na UCSF. “Pode ser um divisor de águas na forma como entendemos e tratamos essa doença.”

A equipe já submeteu um pedido de patente para um exame de sangue baseado nesses marcadores, com potencial para transformar o acompanhamento da doença no futuro.

No entanto, como explica Rodrigo Barbosa Thomaz, coordenador do Centro de Excelência em Esclerose Múltipla e Doenças Desmielinizantes do Hospital Israelita Albert Einstein, ao UOL, nem todos os marcadores utilizados no estudo são exclusivos da EM. “O neurofilamento, por exemplo, também se altera em outras condições neurológicas.”

Por isso, segundo o especialista, o contexto clínico e exames complementares continuam sendo fundamentais para o diagnóstico correto da doença.

Valdir Antonelli
Colaboração para o Olhar Digital

Valdir Antonelli é jornalista com especialização em marketing digital e consumo.

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.