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A esclerose múltipla (EM) é uma doença que, em seus primeiros estágios, costuma ser silenciosa. No entanto, um novo estudo revelou que sinais da EM podem surgir muitos anos antes do aparecimento dos sintomas mais evidentes. A descoberta muda a forma como entendemos o início da doença.
Segundo os pesquisadores, danos na mielina podem ser detectados até sete anos antes das manifestações clínicas, abrindo espaço para o diagnóstico precoce e para estratégias de prevenção, explica o site Multiple Sclerosis.

Um silêncio que pode agravar a doença
Publicado na revista Nature Medicine, o estudo analisou como a esclerose múltipla se desenvolve no organismo ao longo do tempo. A pesquisa mostrou que os primeiros sinais não aparecem de maneira abrupta, mas seguem uma sequência bem definida de alterações no sistema nervoso.
A mielina – uma camada gordurosa que envolve e protege as fibras nervosas, funcionando como o isolamento de um fio elétrico – é a primeira a apresentar danos. Em seguida, surgem lesões nos axônios, responsáveis pela transmissão dos impulsos nervosos, e, mais tarde, alterações nas células de suporte do cérebro.
Agora sabemos que a EM começa muito antes do início clínico, criando a possibilidade real de que possamos, um dia, prevenir a doença — ou pelo menos usar nosso conhecimento para proteger as pessoas de danos adicionais.
Ari Green, chefe da Divisão de Neuroimunologia da Universidade da Califórnia e autor sênior do estudo, em nota.

O que exames de sangue podem revelar sobre a esclerose múltipla
Para entender essa cronologia, os cientistas analisaram dados de mais de 100 militares que desenvolveram esclerose múltipla após ingressarem nas Forças Armadas dos Estados Unidos. Como havia amostras de sangue coletadas anos antes do diagnóstico, foi possível observar mudanças biológicas precoces.
As análises identificaram proteínas específicas associadas a diferentes tipos de dano neurológico. Os resultados mostraram um padrão consistente ao longo do tempo, ajudando a mapear a progressão da doença antes mesmo do surgimento dos sintomas.
Entre os principais achados estão:
- Aumento da proteína MOG, indicando danos iniciais à mielina.
- Elevação da cadeia leve de neurofilamento, associada a lesões nos axônios.
- Alterações na proteína GFAP, ligadas a danos em astrócitos.
- Crescimento dos níveis da interleucina-3 (IL-3), relacionada à inflamação.

Um possível exame para detectar EM antes dos sintomas
Com base nesses dados, os pesquisadores testaram um modelo que combina 21 proteínas (marcadores) diferentes presentes no sangue. O resultado foi promissor: o método conseguiu identificar corretamente 79% dos pacientes ainda na fase pré-sintomática da esclerose múltipla.
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“Acreditamos que nosso trabalho abre inúmeras oportunidades para o diagnóstico, monitoramento e [possivelmente] tratamento da EM”, disse Ahmed Abdelhak, MD, primeiro autor do estudo e professor assistente de neurologia na UCSF. “Pode ser um divisor de águas na forma como entendemos e tratamos essa doença.”
A equipe já submeteu um pedido de patente para um exame de sangue baseado nesses marcadores, com potencial para transformar o acompanhamento da doença no futuro.
No entanto, como explica Rodrigo Barbosa Thomaz, coordenador do Centro de Excelência em Esclerose Múltipla e Doenças Desmielinizantes do Hospital Israelita Albert Einstein, ao UOL, nem todos os marcadores utilizados no estudo são exclusivos da EM. “O neurofilamento, por exemplo, também se altera em outras condições neurológicas.”
Por isso, segundo o especialista, o contexto clínico e exames complementares continuam sendo fundamentais para o diagnóstico correto da doença.