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A Floresta Amazônica pode perder mais de um terço de sua cobertura até o fim deste século, segundo um novo estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Ludwig Maximilian de Munique (LMU), na Alemanha. A análise indica que a combinação entre mudanças no uso da terra e aquecimento global tende a intensificar a degradação do bioma, com impactos profundos sobre o clima e a biodiversidade.
De acordo com os autores, a Amazônia enfrenta um risco crescente de atingir um ponto crítico a partir do qual grandes áreas de floresta densa podem se transformar em paisagens abertas, semelhantes à savana. Esse tipo de transição, se ocorrer em larga escala, pode ser irreversível e comprometer de forma permanente o equilíbrio do ecossistema.

A importância da Amazônia para o clima
A Amazônia é a maior floresta tropical do mundo, com cerca de 5,5 milhões de quilômetros quadrados, e desempenha um papel central na regulação climática do planeta. Além de abrigar uma enorme diversidade de espécies e comunidades indígenas, o bioma armazena aproximadamente um décimo de todo o carbono presente nos ecossistemas terrestres, considerando biomassa e solo.
Outro fator essencial é o chamado ciclo de evaporação. Por meio de sua vasta cobertura vegetal, a floresta transporta umidade do oceano para o interior do continente, mantendo um regime contínuo de chuvas. Esse processo permite que a própria floresta sustente suas condições ambientais, mas também a torna vulnerável quando há redução da cobertura vegetal ou aumento de eventos extremos, como secas e ondas de calor.
Mudanças no uso da terra e aquecimento global
O estudo destaca que a expansão da agricultura e da pecuária sobre áreas antes florestadas, somada ao aumento das temperaturas globais, já vem causando danos progressivos à Amazônia. Até agora, porém, havia poucas análises que avaliassem de forma integrada como esses dois fatores interagem e quais seriam seus efeitos no longo prazo.

A pesquisa liderada pela geógrafa Selma Bultan, da LMU, é a primeira a considerar de maneira sistemática o impacto conjunto das mudanças climáticas e do uso da terra sobre a floresta amazônica. Os resultados foram publicados na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
Modelagem e projeções para o futuro
Para chegar às estimativas, os pesquisadores utilizaram modelos do sistema terrestre com vegetação dinâmica, analisando dados de desmatamento na bacia amazônica entre 1950 e 2014. A partir dessas informações, foram elaboradas projeções futuras com base em dois cenários climáticos distintos.
Segundo Selma Bultan, até 38% da área florestal existente em 1950 pode ser perdida até o fim do século. Desse total, cerca de 25% estaria associada às mudanças no uso da terra, enquanto 13% seriam resultado direto do aumento das temperaturas. A pesquisadora ressalta que esse cenário ultrapassa o limite de 20% a 25% de perda, apontado por estudos anteriores como um possível ponto de inflexão para a Amazônia.

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Risco de colapso e limites de aquecimento
Outro dado relevante do estudo é o aumento do risco de perdas abruptas, e não apenas graduais, da cobertura florestal. As análises indicam que esse perigo cresce de forma significativa quando o aquecimento global ultrapassa 2,3 °C.
Para a coautora Julia Pongratz, professora de Geografia Física e Sistemas de Uso da Terra na LMU, as políticas atuais não são suficientes para evitar esse cenário. Segundo ela, com base nos compromissos climáticos em vigor, o mundo caminha para um aquecimento de pelo menos 2,5 °C.
Pongratz afirma que iniciativas como o reforço da proteção às florestas, discutido recentemente em conferências climáticas, precisam ser ampliadas, ao mesmo tempo em que o combate ao aquecimento global deve ganhar mais velocidade.