O que é ‘slop’ e por que é a palavra do ano para o dicionário Merriam-Webster

Termo descreve o excesso de conteúdo de baixa qualidade gerado por IA e expõe um incômodo maior com o estado da internet em 2025
Pedro Spadoni16/12/2025 07h39
Ilustração sobre geração de conteúdo por meio de inteligência artificial (IA)
(Imagem: Collagery/Shutterstock)
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O dicionário mais antigo dos Estados Unidos, Merriam-Webster, escolheu “slop” como a Palavra do Ano de 2025. O termo define conteúdo digital de baixa qualidade produzido em grande escala, geralmente com uso de inteligência artificial (IA). 

É uma escolha que mira direto no excesso de textos, imagens, vídeos e áudios artificiais que passaram a ocupar feeds, buscas e plataformas ao longo do ano.

Segundo o dicionário, “slop” ajuda a nomear um fenômeno que todo mundo percebe, mesmo sem saber explicar direito: a sensação de que a internet ficou mais barulhenta, repetitiva e inflada por conteúdo gerado de maneira automatizada. 

A palavra, dizem os editores, não carrega um tom apocalíptico. Pelo contrário. Funciona quase como uma ironia coletiva diante do impacto real (e, às vezes, constrangedor) da IA sobre a qualidade do que consumimos online.

‘Slop’ resume o excesso de conteúdo gerado por IA que tomou conta da internet em 2025

Na definição oficial do dicionário Merriam-Webster, “slop” é conteúdo digital de baixo valor, criado em quantidade, normalmente com ajuda de IA. 

Pessoa gerando imagem por meio de plataforma de inteligência artificial (IA)
“Slop” ganhou força em 2025 porque coincidiu com a popularização acelerada de ferramentas de IA capazes de gerar conteúdo em segundos (Imagem: Frame Stock Footage/Shutterstock)

Não se trata de um tipo específico de postagem ou formato, mas de uma lógica de produção: muito material, pouco critério e quase nenhum cuidado editorial. É o oposto da ideia de algo feito para informar, emocionar ou provocar reflexão.

O termo ganhou força em 2025 porque coincidiu com a popularização acelerada de ferramentas capazes de gerar textos, imagens, músicas e vídeos em segundos. 

Plataformas passaram a ser inundadas por livros escritos por IA, anúncios estranhos, músicas genéricas, vídeos absurdos e até relatórios corporativos que parecem corretos à primeira vista, mas dizem muito pouco. A sensação de saturação virou parte da experiência cotidiana de navegar.

Ao justificar a escolha, o dicionário adotou um tom deliberadamente sarcástico. Comparou “slop” a palavras como “lama” e “lodo”, algo que se espalha, gruda e você prefere não tocar. 

Em vez de medo ou deslumbramento com a IA, a palavra expressa uma postura mais cética, quase debochada, diante da promessa de que máquinas substituiriam a criatividade humana com elegância.

Com o tempo, “slop” deixou de ser apenas um rótulo informal e passou a descrever um modelo econômico. A chamada “slop economy” se baseia em produzir conteúdo automático em massa para capturar cliques, visualizações e dinheiro de publicidade. 

O valor está menos no que é dito e mais no volume. Para críticos, o risco é criar uma internet dividida entre quem consegue acessar conteúdo produzido com mais critério e quem fica preso a um cardápio infinito de material descartável.

Outras ‘Palavras do Ano’ ajudam a entender o mal-estar digital capturado por ‘slop’

A escolha da Merriam-Webster não aconteceu no vácuo. Em 2025, outros grandes dicionários também apontaram termos ligados à cultura digital como símbolos do ano.

O que as “Palavras do Ano” têm em comum: reforçam a ideia da linguagem tentar dar conta de um ambiente online cada vez mais desgastante.

Ilustração do conceito de rage bait, palavra do ano 2025 para o dicionário Oxford
O termo “rage bait”, escolhido como Palavra do Ano pelo dicionário Oxford, descreve conteúdos feitos sob medida para provocar indignação (Imagem: Jack_the_sparow/Shutterstock)

A Oxford University Press, por exemplo, escolheu rage bait como Palavra do Ano. O termo descreve conteúdos feitos sob medida para provocar indignação. 

A lógica é: raiva gera engajamento (curtidas, comentários, compartilhamentos). Em vez de curiosidade ou interesse genuíno, a emoção que move a internet passa a ser a irritação constante.

Já o dicionário Cambridge elegeu “parassocial”, adjetivo que define relações unilaterais (aquelas em que uma pessoa sente intimidade com alguém que não a conhece). 

Em 2025, o dicionário atualizou o conceito para incluir não só celebridades e influenciadores, mas também inteligências artificiais que conversam, aconselham e simulam vínculos pessoais.

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Quando colocados lado a lado, “slop”, “rage bait” e “parassocial” formam um mesmo retrato. O excesso de conteúdo automático alimenta algoritmos que priorizam emoções fortes, enquanto pessoas criam laços com figuras (humanas ou artificiais) que não oferecem reciprocidade real. 

Nesse contexto, a escolha de “slop” é mais uma peça para a síntese de 2025. Não é apenas sobre IA, nem só sobre redes sociais. É sobre uma internet mais automatizada e barulhenta; e menos preocupada com qualidade. A linguagem registra o incômodo.

Pedro Spadoni
Redator(a)

Pedro Spadoni é jornalista formado pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep). Já escreveu para sites, revistas e até um jornal. No Olhar Digital, escreve sobre (quase) tudo.