Como o cheiro de chuva é criado, e o que a ciência descobriu sobre ele

Entenda como o cheiro de chuva é criado. Descubra a ciência por trás do petrichor, o papel da geosmina e por que amamos esse aroma.
Por Joaquim Luppi, editado por Bruno Capozzi 18/12/2025 05h30
Como o cheiro de chuva é criado, e o que a ciência descobriu sobre ele
A sensibilidade humana à geosmina é extraordinária - (Imagem gerada por inteligência artificial-GPT/Olhar Digital)
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Basta as primeiras gotas tocarem o solo seco para que aquele aroma inconfundível invada o ar. Conhecido tecnicamente como “petrichor”, o cheiro de chuva não vem da água em si, mas de uma complexa reação química que acontece sob os nossos pés, envolvendo bactérias, plantas e a física das bolhas de ar.

A química por trás da nostalgia

O termo petrichor foi cunhado em 1964, unindo as palavras gregas “petra” (pedra) e “ichor” (o sangue etéreo dos deuses). A ciência descobriu que esse perfume é uma mistura de compostos, sendo o principal deles a geosmina. Essa substância é produzida por bactérias do solo chamadas Streptomyces. Quando a chuva cai, ela atua como um gatilho mecânico que libera esses compostos para a atmosfera, permitindo que nossos narizes os detectem.

Para entender a mecânica exata desse lançamento, cientistas utilizaram câmeras de altíssima velocidade para filmar gotas de chuva atingindo superfícies porosas. Um estudo conduzido pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) revelou que, ao colidir com o solo, a gota prende minúsculas bolhas de ar na base. Pesquisa sobre o mecanismo da chuva mostra que essas bolhas sobem rapidamente e estouram na superfície da gota, ejetando aerossóis carregados de geosmina e óleos vegetais no ar, de forma muito parecida com o gás de uma taça de champanhe.

Como o cheiro de chuva é criado, e o que a ciência descobriu sobre ele
Quem aí nunca ficou feliz com um cheirinho de chuva? – (Imagem gerada por inteligência artificial-GPT/Olhar Digital)

Os três ingredientes do perfume da tempestade

Embora a geosmina seja a protagonista, o cheiro de chuva é um “blend” natural. A composição exata pode variar dependendo da região e da flora local, mas a tríade clássica que forma o petrichor consiste em:

  • 🌱 Geosmina
    Subproduto metabólico de bactérias, responsável pelo cheiro de “terra molhada”.
  • 🌿 Óleos de plantas
    Durante a seca, as plantas exalam óleos que ficam acumulados nas pedras e no solo, sendo liberados com a umidade.
  • Ozônio
    Em tempestades com raios, a descarga elétrica quebra moléculas de oxigênio, criando ozônio (O3), que traz aquele cheiro “metálico” e limpo pré-chuva.

Por que somos tão sensíveis a esse cheiro?

A sensibilidade humana à geosmina é extraordinária. Somos capazes de detectar essa substância em concentrações baixíssimas, superando até a capacidade dos tubarões de cheirar sangue na água. Biólogos evolutivos sugerem que essa habilidade foi crucial para a sobrevivência de nossos ancestrais, ajudando-os a localizar água fresca e solo fértil em tempos de seca.

Fonte do CheiroSubstânciaMomento da Percepção
Bactérias (Solo)GeosminaDurante a chuva leve
VegetaçãoÓleos (Ácido Esteárico, etc.)Logo após o início da chuva
AtmosferaOzônioAntes da tempestade (vento)
Pedras/ArgilaCompostos adsorvidosDurante a evaporação pós-chuva

O papel do solo na criação do clima

Além de agradar ao olfato, a liberação desses aerossóis tem um papel na ciência climática. As partículas liberadas pelo impacto da chuva podem subir para a atmosfera e ajudar na formação de novas nuvens, refletindo a luz solar e influenciando o clima local. É um ciclo elegante onde o solo não apenas recebe a chuva, mas ajuda a semear a próxima tempestade.

Joaquim Luppi
Colaboração para o Olhar Digital

Joaquim Luppi é colaborador do Olhar Digital

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.