El Niño influencia vida marinha no Atlântico e altera padrões de pesca, aponta estudo

Análise científica identifica como o fenômeno climático interconectado afeta ecossistemas e comunidades pesqueiras
Matheus Chaves18/12/2025 16h38
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O fenômeno traz consequências para a pesca (Imagem: Solarisys/Shutterstock)
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Uma pesquisa publicada quarta-feira (18) na revista Nature Reviews Earth & Environment revela que o El Niño–Oscilação Sul (ENOS) tem impactos significativos sobre o ecossistema marinho do Oceano Atlântico, com efeitos que se estendem à dinâmica da pesca em regiões da América do Sul e da África.

ENOS: definição e alcance

O ENOS corresponde a alternância entre o esfriamento (El Niño) e aquecimento (La Niña) das águas superficiais do Pacífico, resultante de mudanças na pressão atmosférica e nos sistemas de circulação oceânica e atmosférica. 

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Pesquisadores acreditam que seja necessário realizar um monitoramento oceânico coordenado para acompanhar o fenômeno (Imagem: OvidiuGG / Shutterstock)

Segundo o estudo, o ENOS modifica condições climáticas e oceanográficas tais como regimes de ventos, chuva, temperatura, descarga de grandes rios e salinidade. Essas alterações repercutem na disponibilidade de oxigênio e nutrientes essenciais para a produção biológica, incluindo o fitoplâncton, que constitui o suporte da cadeia alimentar marinha.

Pesquisadores destacam que os efeitos não são uniformes em toda a extensão do Atlântico. No Norte do Brasil, por exemplo, períodos de El Niño tendem a se relacionar com a redução das precipitações sobre a bacia amazônica, observada em 2023 e 2024. A redução das chuvas causa uma queda no volume da pluma do rio Amazonas que flui para as zonas costeiras do Norte e Nordeste, diminuindo o transporte de nutrientes para essas áreas.

Consequências para a pesca

A diminuição desse aporte de nutrientes pode comprometer a produtividade de algumas pescarias locais, embora determinadas espécies, como o camarão marrom, podem ficar mais fáceis de serem capturados devido às condições de menor turbidez e maior penetração de luz solar.

Algumas espécies podem ficar mais fáceis de serem capturadas (Imagem: Roylan Tkg/Shutterstock)

No Sul do Brasil, o El Niño está ligado à maior quantidade de chuva, como registrado no Rio Grande do Sul em 2024, o que pode elevar o fluxo de água doce e nutrientes para o ambiente marinho e potencialmente favorecer a captura de espécies específicas. Por outro lado, no Atlântico Sul central, o fenômeno tem haver com um incremento na captura de albacora, um atum de grande importância comercial.

Complexidade das respostas ecológicas

Os autores da revisão ressaltam que as respostas dos ecossistemas marinhos às variações do ENOS dependem da espécie, da estação do ano e das condições decadais, o que limita a capacidade de generalizar impactos. 

O estudo também mostra lacunas no conhecimento, como às limitações nas observações por satélite e a falta de dados pesqueiros.

Matheus Chaves
Colaboração para o Olhar Digital

Matheus Chaves é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital