LATE pode estar por trás de diagnósticos errados de Alzheimer

Nova demência chamada LATE afeta idosos, pode ser confundida com Alzheimer e está ligada ao acúmulo da proteína TDP-43 no cérebro
Por Valdir Antonelli, editado por Layse Ventura 18/12/2025 05h00
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Imagem: sabinevanerp/Pixabay
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Uma demência pouco conhecida está ganhando destaque entre pesquisadores e médicos: a LATE. Recém-reconhecida, ela afeta milhões de idosos e pode explicar casos antes atribuídos ao Alzheimer.

A descoberta ajuda a refinar diagnósticos, entender melhor o envelhecimento do cérebro e abrir caminho para tratamentos mais adequados no futuro, comenta o The New York Times.

Pesquisadores descobrem que nem toda perda de memória é Alzheimer. A LATE ajuda a entender melhor como o cérebro envelhece.
Pesquisadores descobrem que nem toda perda de memória é Alzheimer. A LATE ajuda a entender melhor como o cérebro envelhece. Imagem: LightField Studios/Shutterstock

O que é a LATE e por que ela importa

A LATE, sigla para Encefalopatia TDP-43 relacionada à idade predominantemente límbica, é uma forma de demência que afeta principalmente a memória. Por muitos anos, ela passou despercebida porque seus sintomas se parecem bastante com os do Alzheimer.

Estudos recentes indicam que a condição pode atingir cerca de um terço das pessoas com mais de 85 anos e aproximadamente 10% daquelas acima dos 65. Isso significa que parte dos pacientes diagnosticados com Alzheimer pode, na verdade, ter LATE.

Em cerca de 1 em cada 5 pessoas que chegam à nossa clínica, o que anteriormente se pensava ser doença de Alzheimer, na verdade, parece ser LATE.

Greg Jicha, neurologista da Universidade de Kentucky, ao NYT.
Enquanto o Alzheimer impacta comportamento e planejamento, a LATE costuma evoluir mais devagar e ficar concentrada na memória.
Enquanto o Alzheimer impacta comportamento e planejamento, a LATE costuma evoluir mais devagar e ficar concentrada na memória. Imagem: Anna Nikonorova/Shutterstock

LATE x Alzheimer: semelhanças e diferenças

Embora os sintomas iniciais sejam parecidos, como falhas de memória e dificuldade para encontrar palavras, existem diferenças importantes. O Alzheimer costuma afetar também planejamento, organização, humor e comportamento. Já a LATE tende a evoluir mais lentamente e, em muitos casos, permanece mais restrita à memória.

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Do ponto de vista biológico, as duas doenças também seguem caminhos distintos. O Alzheimer está associado ao acúmulo das proteínas amiloide e tau no cérebro. A LATE, por sua vez, envolve depósitos anormais de outra proteína: a TDP-43.

“O Alzheimer puro é pior que o LATE puro”, explica Pete Nelson, diretor associado do Centro Sanders-Brown. “No entanto, a doença de Alzheimer associada à LATE é pior do que qualquer um isoladamente — mais rápido, mais grave, um desfecho mais brutal.”

Doença dupla, impacto maior: quando Alzheimer e LATE aparecem juntos, a evolução tende a ser mais rápida e grave.
Doença dupla, impacto maior: quando Alzheimer e LATE aparecem juntos, a evolução tende a ser mais rápida e grave. Imagem: Rido / Shutterstock

Como a ciência está avançando no diagnóstico

A identificação da LATE começou a ganhar força a partir de análises de autópsias cerebrais e exames de imagem. Um dos sinais mais comuns é o encolhimento do hipocampo, região ligada à memória e ao aprendizado, que costuma ser ainda mais acentuado do que no Alzheimer.

Hoje, o diagnóstico envolve a combinação de exames cerebrais, testes para Alzheimer e avaliação clínica dos sintomas. Esse avanço é crucial porque pacientes com LATE puro não se beneficiam dos medicamentos atuais voltados ao Alzheimer, que atuam sobre o amiloide.

Entre os pontos que ajudam médicos a diferenciar as condições, estão:

  • Idade mais avançada no início dos sintomas.
  • Comprometimento predominantemente da memória.
  • Ausência de placas de amiloide em exames.
  • Maior atrofia do hipocampo.

O que esperar da descoberta

Ainda não existe um tratamento específico para a LATE, mas pesquisas já estão em andamento. Um ensaio clínico conduzido na Universidade de Kentucky testa o uso do nicorandil, um medicamento usado para tratar angina, na tentativa de proteger o tecido cerebral e retardar o encolhimento do hipocampo.

Especialistas acreditam que reconhecer a LATE pode ajudar a explicar por que alguns medicamentos para Alzheimer apresentam resultados modestos e, no futuro, levar a terapias mais direcionadas.

Valdir Antonelli
Colaboração para o Olhar Digital

Valdir Antonelli é jornalista com especialização em marketing digital e consumo.

Layse Ventura
Editor(a) SEO

Layse Ventura é jornalista (Uerj), mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento (Ufsc) e pós-graduada em BI (Conquer). Acumula quase 20 anos de experiência como repórter, copywriter e SEO.