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A China construiu um protótipo de máquina capaz de produzir chips semicondutores avançados, rivalizando com tecnologias do Ocidente.
Segundo a Reuters, o projeto secreto, liderado por ex-engenheiros da ASML e coordenado pela Huawei, avança em Shenzhen, com metas de autonomia em semicondutores entre 2028 e 2030.

Projeto “Manhattan” chinês para semicondutores
Em Shenzhen, um laboratório de alta segurança abriga um protótipo que a China chama de seu “Projeto Manhattan” dos chips. Inspirado nas máquinas de litografia ultravioleta extrema (EUV) da holandesa ASML, o equipamento visa fabricar semicondutores avançados, essenciais para inteligência artificial, smartphones e armas de alta tecnologia.
O protótipo, finalizado no início de 2025, ocupa quase todo um galpão e já gera luz ultravioleta extrema, mas ainda não produz chips funcionais. Segundo fontes da Reuters, a meta oficial do governo é produzir chips plenamente funcionais no protótipo até 2028, embora especialistas considerem mais realista 2030.

Desafios e estratégias da China
Reproduzir a tecnologia EUV não é fácil. Os sistemas ópticos precisos, fornecidos por empresas como Carl Zeiss AG, permanecem difíceis de replicar. Para contornar essas limitações, a China utiliza:
- Componentes de máquinas ASML antigas adquiridas em mercados secundários;
- Redes de fornecedores intermediários para mascarar compradores finais;
- Engenharia reversa detalhada, conduzida por cerca de 100 recém-formados e ex-engenheiros da ASML;
- Incentivos financeiros atraentes, com bônus de até US$ 700.000 (cerca de R$ 3,8 milhões) para novos recrutas;
- Centros de pesquisa que integram design, produção e testes, com equipes vivendo e trabalhando nas instalações.
Sem dúvida, isso é tecnicamente viável, é apenas uma questão de cronograma. A China tem a vantagem de que a EUV comercial já existe, então eles não estão começando do zero.
Jeff Koch, ex-engenheiro da ASML e analista da SemiAnalysis, à Reuters.

Huawei no centro do projeto
A Huawei desempenha papel central, coordenando uma rede de institutos e empresas estatais em todo o país. Funcionários de equipes sensíveis dormem no local e têm acesso restrito a celulares, garantindo sigilo máximo. “As equipes são mantidas isoladas umas das outras para proteger a confidencialidade do projeto”, disse uma fonte envolvida.
O esforço também envolveu ex-engenheiros da ASML recrutados com pseudônimos e documentos falsos para manter suas identidades secretas. Um dos veteranos contou que o bônus generoso veio acompanhado de um cartão de identificação falso, reforçando a classificação de segurança nacional do projeto.
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O protótipo chinês ainda é maior e mais rudimentar que as máquinas da ASML, mas funciona o suficiente para testes iniciais. A engenharia reversa das peças, combinada com tecnologia doméstica, permitiu à China avançar rapidamente, apesar das restrições de exportação impostas pelos EUA e aliados desde 2018.
O projeto evidencia o esforço da China para atingir autossuficiência em semicondutores, reduzir a dependência de tecnologias ocidentais e aproximar o país da produção de chips avançados antes do previsto.