Novas ferramentas revelam detalhes sobre a comunicação entre células

Ferramentas desenvolvidas na Duke-NUS usam dados genéticos e simulações virtuais para mapear a comunicação celular em tecidos
Por André Milhomem Bruno da Silveira, editado por Layse Ventura 25/12/2025 04h00
Representação artística de células tronco
(Imagem: Anusorn Nakdee / Shutterstock.com)
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Cientistas da escola de medicina Duke-NUS, em Singapura, desenvolveram duas ferramentas computacionais que podem mudar a maneira como pesquisadores estudam a comunicação celular dentro do corpo humano.

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As ferramentas, chamadas sCCIgen e QuadST, ajudam os especialistas a compreenderem tanto a localização das células quanto a forma com que elas se comunicam por meio de atividade genética e sinais químicos.

Como funcionam as ferramentas?

O sCCIgen foi divulgado na revista Genome Biology como o primeiro simulador capaz de gerar tecidos virtuais realistas que capturam completamente a localização, a atividade genética e a rede de comunicação das células.

sCCIgen é uma ferramenta que ajuda na localização das células. Imagem: Song Xiaoyu, Escola de Medicina Duke-NUS

Já o QuadST, demonstrado na revista Genome Research, é capaz de detectar sinais de comunicação intercelular a partir de dados de transcriptômica espacial (tecnologia que revela a atividade dos genes no lugar exato onde as células estão no tecido), mostrando os genes que se alteram conforme as células interagem em tecidos saudáveis ​​e doentes.

O QuadST é uma ferramenta que ajuda na identificação das comunicações intercelulares. Imagem: Song Xiaoyu, Escola de Medicina Duke-NUS

A importância de entender a comunicação entre células

As células trocam sinais constantemente para manter o corpo saudável, mas falhas nessa comunicação podem levar a doenças, como o mal de Alzheimer — quando a falha ocorre em células nervosas —, ou permitir que células cancerígenas enganem o sistema imunológico. Entender como essas mensagens celulares funcionam é um dos principais objetivos da pesquisa biomédica.

Apesar da importância, o estudo da comunicação celular vem sendo bastante difícil. Os experimentos tradicionais da área sofrem com problemas em capturar as interações entre as células em seus tecidos naturais. A transcriptômica espacial vem alterando esse cenário.

A precisão na localização das células abre a possibilidade aos cientistas de fazerem um mapa detalhado da organização celular e da atividade gênica no tecido. Apesar da quantidade de informações que esses mapas contêm, sua complexidade dificulta que ferramentas computacionais os analisem de forma confiável.

Avanços do sCCIgen e do QuadST

Um obstáculo nas pesquisas sobre comportamento celular é a falta de confiança nos dados coletados. Os pesquisadores dificilmente têm certeza de quais células estão realmente interagindo, o que atrapalha a confirmação de que os sinais detectados pelas ferramentas são corretos.

A ferramenta sCCIgen preenche essa lacuna. Ao gerar tecidos virtuais realistas que especificam a localização da célula, sua atividade genética e suas interações. Esses dados virtuais permitem que os cientistas testem a precisão de seus métodos de coleta de dados, ou seja, o sCCIgen funciona como um “laboratório de testes”.

“Assim como os simuladores de voo para pilotos, o sCCIgen proporciona aos cientistas um ambiente controlado para testar a precisão de suas ferramentas computacionais. Isso ajudará a acelerar as descobertas nas áreas de câncer, imunologia e neurociência”, disse Xiaoyu Song, do Centro de Medicina Quantitativa da Duke-NUS.

Já o QuadST analisa dados de tecidos reais para revelar quais genes e tipos celulares estão se comunicando. Diferente de métodos anteriores que deixavam frequentemente de detectar interações importantes porque dependiam da estimativa de como as células interagem.

A ferramenta melhora essa análise ao modelar como a atividade genética muda gradualmente conforme a distância entre dois tipos de células. Além do fato da ferramenta ter sido desenvolvida para lidar com dificuldades comuns da área, como dados incompletos e ruídos.

O professor-associado Song explica: “As células vivem em vizinhanças movimentadas. Elas não enviam sinais aleatoriamente, mas respondem ao que suas vizinhas estão fazendo. O QuadST nos ajuda a rastrear essas interações com precisão. Ele mostra quais genes estão mudando devido à comunicação celular, em vez de por acaso, ajudando os pesquisadores a descobrir mecanismos ocultos de doenças que eram muito difíceis de detectar antes.”

A equipe de pesquisadores da Duke-NUS planeja expandir o sCCIgen para também simular proteínas e outras interações moleculares, além de usar o QuadST para criar um banco de dados de referência com genes envolvidos na comunicação entre células. Esse recurso deve ajudar cientistas a comparar resultados entre diferentes tecidos e doenças, acelerar descobertas e apoiar o desenvolvimento de tratamentos mais precisos.

Nascido em Goiânia, André Milhomem se mudou para São Paulo para ingressar na faculdade Cásper Líbero onde, até hoje, cursa jornalismo.

Layse Ventura
Editor(a) SEO

Layse Ventura é jornalista (Uerj), mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento (Ufsc) e pós-graduada em BI (Conquer). Acumula quase 20 anos de experiência como repórter, copywriter e SEO.