“Rochas vivas” estão entre os seres mais antigos do planeta e seguem surpreendendo a ciência

Comunidades microbianas sul-africanas, chamadas microbialitos, parecem rochas esverdeadas mas estão vivas e crescendo
Por André Milhomem Bruno da Silveira, editado por Alessandro Di Lorenzo 26/12/2025 15h00
Microbialitos são seres antigos que parecem rochas vivas
Microbialitos são seres antigos mas surpreendem os cientistas (imagem: Rachel Sipler/Divulgação científica)
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Comunidades microbianas sul-africanas, chamadas microbialitos, parecem rochas esverdeadas, mas estão vivas. Evidências publicadas na revista Nature Communications mostram que essas “pedras” estão entre os seres vivos mais antigos do planeta e que estão crescendo mais rápido do que o esperado.

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Os microbialitos são tapetes microbianos que depositam carbonato de cálcio. Apesar de terem dominado a vida na Terra há milhões de anos, desde a explosão cambriana (período caracterizado por uma rápida e massiva diversificação da vida animal há cerca de 541 milhões de anos) a competição da vida começou a privilegiar seres mais ativos, confinando essas “rochas vivas” a locais limitados, muitas vezes com salinidade excessiva para outras vidas

A novidade sobre microbialitos

Essas “rochas vivas” crescem incrivelmente e podem absorver quantidades incríveis de carbono.
Imagem: Thomas Bornman

Geralmente os microbialitos são relevantes para os estudos sobre o passado do planeta, mas pouco significativos para a vida atual, por permanecerem quase inativos por uma questão de sobrevivência. Porém, um novo estudo contradiz essa ideia, ao relatar que eles estão construindo rochas em uma velocidade surpreendente e absorvendo grandes quantidades de carbono durante o processo.

“Essas formações antigas, que muitos acreditam estarem extintas, estão vivas e prosperando e em locais extremos para a vida. Ao invés de “fósseis” vivos, descobrimos que essas estruturas são compostas de comunidades microbianas robustas e em crescimento acelerado” disse Dr. Rachel Sipler, da Universidade de Rhodes.

Sipler e seus colegas registraram o crescimento de quatro comunidades no sudeste de África do Sul. A pesquisa identificou que esses seres estão precipitando tanto carbonato de cálcio que poderiam crescer até 23 milímetros por ano, uma velocidade bem acima dos semelhantes ao redor do mundo. Esse processo, no entanto, é atrapalhado pelo intemperismo da região.

A pesquisa também registrou que as rochas formadas por esses seres são tão densas que podem armazenar de 9 a 16 quilogramas de dióxido de carbono por metro quadrado em um ano. Centenas ou milhares de vezes mais do que outros microbialitos pelo mundo. E também muito mais do que florestas tropicais consolidadas.

Os cientistas ainda explicam que formações como florestas e pântanos podem perder seu carbono em incêndios, o que não acontece com as “rochas vivas”. O cálcio depositado por esses seres pode durar bilhões de anos, como pode ser visto em províncias calcárias de 2,8 bilhões de anos, feitas por antepassados dos microbialitos e, que até hoje, armazenam grande parte do carbono usado na época.

Microbialitos: a solução contra o CO₂?

Apesar das descobertas, alguns fatores frustram o entendimento de que esses seres sejam a solução perfeita para a absorção de carbono da atmosfera. Os microbialitos analisados vivem em áreas de água “dura”, rica em cálcio, o que permite o acesso a vários componentes que facilitam o processo de transformar dióxido de carbono em rochas de cálcio.

Além disso, mesmo com a taxa rápida de processamento de carbono, seriam necessários em torno de 40 milhões de metros quadrados dessas rochas apenas para compensar o CO₂ que a humanidade emite. Isso significaria uma área mais de quatro vezes maior que o Brasil.

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Outras descobertas

Mesmo com as limitações, os pesquisadores ficaram maravilhados com esses seres.  “Os sistemas aqui crescem em algumas das condições mais adversas e variáveis. Eles podem secar em um dia e crescer no dia seguinte. Possuem uma resiliência incrível.” Disse Sipler.

Como esses seres crescem é notável. Sabe-se que a reação química feita por eles necessita de energia que, acreditava-se, vir exclusivamente da luz do sol, como uma espécie de fotossíntese. Porém, a pesquisa mostra que os microbialitos ainda retiram carbono da atmosfera durante a noite, cerca de 80% a menos, indicando que uma reação química é usada para induzir a outra.

Nascido em Goiânia, André Milhomem se mudou para São Paulo para ingressar na faculdade Cásper Líbero onde, até hoje, cursa jornalismo.

Alessandro Di Lorenzo é formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e atua na área desde 2014. Trabalhou nas redações da BandNews FM em Porto Alegre e em São Paulo.