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A Oracle atravessa um momento turbulento poucos meses após anunciar uma mudança no comando executivo. Clay Magouyrk e Mike Sicilia assumiram como novos CEOs há cerca de três meses, mas a transição coincidiu com quedas expressivas em receita e na bolsa de valores.
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Agora, a empresa sofre com números abaixo do esperado, ao mesmo tempo em que se compromete a investir alto para honrar compromissos – principalmente aqueles relacionados à inteligência artificial.

Oracle não atendeu expectativas
No trimestre atual, as ações da Oracle acumulam queda de aproximadamente 30%. Com apenas alguns dias úteis restantes para o encerramento do período, o desempenho caminha para ser o pior desde 2001 (ano marcado pelo colapso da bolha da internet).
Segundo analistas consultados pela CNBC, o movimento reflete a desconfiança dos investidores em relação à capacidade da companhia de sustentar a prometida expansão em infraestrutura de nuvem.
O ceticismo ganhou força após a Oracle divulgar resultados trimestrais abaixo das expectativas, tanto em receita quanto em fluxo de caixa livre. Na apresentação aos investidores, o novo diretor financeiro, Doug Kehring, anunciou que a empresa pretende investir US$ 50 bilhões em capital no ano fiscal de 2026 – um salto significativo em relação ao que havia sido projetado meses antes e o dobro do valor investido no ano anterior. Além disso, a companhia prevê compromissos de US$ 248 bilhões em contratos de leasing para ampliar sua capacidade de nuvem e construir novos data centers.
Grande parte dessa expectativa está no acordo fechado com a OpenAI, dona do ChatGPT. O contrato prevê que a desenvolvedora invista mais de US$ 300 bilhões na Oracle, em troca de capacidade de nuvem e data centers. Saiba os detalhes aqui.

Oracle recorreu à dívida e pode precisar rever contratos
Para viabilizar essa expansão, a empresa já recorreu ao mercado de dívida. Em setembro, levantou US$ 18 bilhões em uma emissão de títulos considerada uma das maiores já feitas por uma empresa de tecnologia.
Embora o conselho da Oracle tenha reafirmado que vai honrar a dívida, parte do mercado passou a apostar no oposto, pressionando instrumentos de proteção contra calote da companhia.
Até o acordo com a OpenAI pode entrar em risco:
- Analistas alertam que o volume de obrigações financeiras pode se tornar difícil de sustentar sem ajustes no acordo com a OpenAI;
- Em relatórios recentes, casas de análise destacaram o risco de a Oracle precisar rever compromissos caso a geração de caixa não acompanhe o ritmo dos investimentos;
- Houve até rumores de que a empresa poderia não conseguiria entregar os data centers prometidos há tempo. A Oracle negou.
- A companhia não respondeu a pedidos de comentários da CNBC.

Crise na direção?
A ‘crise’ começou após a troca no comando da Oracle. Sob a gestão de Safra Catz, que começou como CEO em 2014 (quando o fundador Larry Ellison renunciou) e deixou o cargo em setembro deste ano, a empresa teve saltos expressivos em receita acumulada. Inclusive, o acordo com a OpenAI foi importante nesse sentido: quando o contrato veio a público, as ações dispararam, alimentando expectativas de uma nova fase de crescimento acelerado.
Após Magouyrk e Sicilia assumirem o comando, o cenário mudou. As ações da Oracle perderam mais de 40% do valor de mercado.
Gestores que acompanham a empresa há anos afirmam que a volatilidade faz parte de uma transição estratégica mais ampla e depositam confiança no histórico de Larry Ellison, fundador e figura central nas decisões da companhia.

Aposta alta na IA
Em apresentações realizadas no fim do ano passado, Magouyrk, Sicilia e Kehring delinearam uma visão ambiciosa: elevar a receita anual para US$ 225 bilhões até 2030, ante cerca de US$ 57 bilhões previstos para 2025.
A maior parte desse crescimento viria da infraestrutura voltada à inteligência artificial. No entanto, o próprio comando reconhece os riscos disso, uma vez que o negócio tradicional de software da Oracle é historicamente muito mais rentável.
Estimativas de mercado indicam que a margem bruta da empresa pode cair de patamares próximos a 77% para algo em torno de 50% ao fim da década. Além disso, projeções apontam para fluxo de caixa livre negativo nos próximos anos. Para alguns gestores, esse horizonte é longo demais para justificar o risco, especialmente diante da forte dependência de um único cliente de grande porte.
Há também dúvidas sobre a própria demanda futura da OpenAI, que consome grandes volumes de capital e já assumiu compromissos trilionários em projetos de inteligência artificial. Parte do mercado questiona até que ponto essa demanda se sustentará no longo prazo – e se a desenvolvedora poderá pagar.
Outros analistas, porém, veem a situação de forma mais construtiva. Avaliações recentes sugerem que a percepção em torno da Oracle pode melhorar caso a empresa consiga entregar, na prática, os projetos de infraestrutura prometidos. Nesse cenário, o contrato com a OpenAI poderia representar uma fatia relevante da receita nos próximos anos.
Mesmo assim, desafios estruturais permanecem. A Oracle ainda corre atrás de participação em um mercado dominado por concorrentes muito maiores, e enfrenta resistência de empresas de software que preferem não oferecer seus produtos em sua nuvem. Para analistas, a credibilidade da Oracle dependerá menos de promessas e mais da execução.