Os graves ataques virtuais de 12 de maio colocaram em risco a segurança de milhões de usuários no mundo inteiro, principalmente na Europa. O Brasil, que parecia estar geograficamente longe dos problemas, também foi afetado e corre sério risco de ter um apagão digital. E o principal motivo para isso é a falta de conscientização dos usuários em relação a segurança dos dados.
Procurados pelo Olhar Digital, os especialistas em cibersegurança Rafael Narezzi e Ricardo Tavares acreditam que o nosso país ainda carece de defesas eficientes para evitar que os hackers obtenham acesso às conexões de usuários, empresas e até de instituições governamentais. Os casos recentes apenas endossam essa tese.
Na prática, os criminosos aproveitam brechas de segurança deixadas pelos usuários finais ou empresas para realizarem os ataques. Em um exemplo simples, os especialistas mostraram que há milhares de dispositivos no Brasil com acesso à internet e que não estão guardados por senhas ou que estão "protegidos" por códigos de acesso extremamente simples ou padronizados, como "admin" ou "123456", por exemplo.
"Quando se fala em apagão, significa que diversos dispositivos desprotegidos estão sendo usados para atacarem uma grande empresa ou órgão. Mesmo com diversos recursos de proteção, ela pode não conseguir evitar um ataque dessa grandeza. No final, tudo se resume a largura de banda", explica Tavares.
Ameaças em grande escala
A situação mais crítica é quando a rede de uma empresa pode ser acessada por qualquer pessoa. E, nesse caso, não estamos falando apenas de um computador alheio desprotegido, mas também de dispositivos conectados, como impressoras, scanners e até mesmo cafeteiras inteligentes.
No caso das impressoras, por exemplo, ao obter acesso ao aparelho, um usuário malicioso pode solicitar a impressão de imagens pornográficas envolvendo menores de idade e, então, realizar uma denúncia para a polícia informando que aquele local em questão está envolvido com casos de pedofilia. Até que o usuário afetado consiga se explicar, as consequências podem já ser irreversíveis.
Apesar do cenário parecer surreal, os entrevistados mostraram na prática como ele poderia ter acontecido. Em um banco de dados público disponibilizado na internet, há uma série de dispositivos que estariam desprotegidos. Uma universidade estadual brasileira bastante conceituada no mundo acadêmico, por exemplo, deixou algumas de suas impressoras configuradas com uma senha de fácil acesso. Se quisesse, o especialista poderia ter realizado a impressão de diversos documentos ou fotos.