Em um cenário onde grandes empresas dominam o mundo das redes sociais, o Bluesky surgiu como uma proposta inovadora e descentralizada. Fundada como um projeto interno do Twitter, a empresa se tornou independente, prometendo dar aos usuários mais controle sobre suas experiências online.

Com o objetivo de criar uma rede social aberta e flexível, o Bluesky atraiu milhões de usuários ao redor do mundo. Em uma entrevista exclusiva com a CEO Jay Graber e com Rose Wang, COO da empresa, o Olhar Digital explora o futuro das redes sociais descentralizadas e busca entender como a Bluesky quer liderar essas mudanças.

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O início de uma jornada para a descentralização

A CEO Jay Graber explicou que a Bluesky teve suas origens em 2019 como um projeto interno do Twitter. “Quando fui escolhida para liderá-lo em 2021, transformei-o em uma empresa separada”, disse ela. No entanto, após a aquisição do Twitter por Elon Musk e o corte de contratos externos, o Bluesky se separou completamente e começou a construir seu próprio aplicativo.

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“A visão original era criar um protocolo aberto que o Twitter poderia usar. Mas, quando nos separamos, tivemos que construir um aplicativo semelhante ao Twitter para demonstrar a viabilidade do nosso protocolo”, disse Graber. “O objetivo era permitir que qualquer pessoa pudesse executar partes da rede, distribuindo o controle para usuários, desenvolvedores e terceiros.”

O que são redes sociais descentralizadas?

As redes sociais descentralizadas são uma inovação que promete mudar a maneira como interagimos online. Diferentemente das redes sociais tradicionais, onde uma única empresa controla todos os aspectos da experiência do usuário, as redes descentralizadas distribuem esse controle entre vários participantes.

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“No Bluesky, queremos dar aos usuários a capacidade de controlar sua própria experiência”, explicou Graber. “Isso significa que os usuários podem se inscrever em feeds personalizados, criados por diferentes pessoas. Por exemplo, se você quiser apenas ver fotos de gatos, pode escolher um feed específico para isso.”

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Adicionar feeds específicos de seus interesses é um dos diferenciais do Bluesky em relação ao concorrente X. (Imagem: Ana Luiza Figueiredo / Olhar Digital)

Graber também destacou a flexibilidade das redes descentralizadas, comparando a abordagem do Bluesky à construção com blocos de Lego, onde as peças podem ser montadas e desmontadas para criar novos tipos de aplicativos.

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“Temos trabalhado em contar a história [das redes descentralizadas]”, afirmou Graber ao ser questionada sobre como comunicar essa nova tendência para os usuários. “Há muitas analogias a serem feitas com formas anteriores de mídia, como um único canal de televisão versus muitos canais de televisão. Outra coisa é apenas mostrar aos usuários algo que foi construído que eles gostariam de usar por si mesmos. [Por exemplo], se você for realmente fã de Taylor Swift, podemos mostrar um exemplo de um feed de Taylor Swift que é completamente Taylor.”

Wang acrescentou que as pessoas podem obter a experiência do grande mundo e do pequeno mundo em diferentes plataformas no Bluesky. ““No Bluesky, você pode ir para o feed Descobrir e ver o que está acontecendo em todo o mundo, mas também pode ir para seus amigos de [tópicos de seu interesse] onde está realmente fazendo amizade com as pessoas porque elas se importam com a mesma coisa que você. E então, isso torna a internet divertida novamente”, disse Wang.

Comunidades e moderadores

Um dos aspectos mais inovadores do Bluesky é sua abordagem à moderação e criação de conteúdo. Wang destacou que a rede permite que os próprios usuários e comunidades assumam o controle da moderação. “Utilizando serviços de rotulagem abertos, os usuários podem criar filtros específicos para suas necessidades. Por exemplo, um usuário que deseja evitar ver aranhas em seu feed pode usar um serviço de rotulagem específico para isso”, explicou Wang.

Além disso, o Bluesky oferece uma base para moderação que apoia suas diretrizes da comunidade, mas permite que os usuários construam seus próprios serviços de moderação em cima disso. “Isso significa que a moderação pode ser muito específica da comunidade e nas mãos dos usuários para si mesmos e suas próprias comunidades”, acrescentou Graber.

Crescimento e aceitação global

(Imagem: Bluesky)

No último ano, o Bluesky cresceu de cerca de 40 mil para 5,6 milhões de usuários. Rose Wang afirmou que esse crescimento não se deve apenas à funcionalidade inovadora da plataforma, mas também ao “ambiente acolhedor e divertido” que o Bluesky proporciona. Ela destacou que a abordagem do Bluesky coloca o controle nas mãos dos usuários, o que tem atraído uma base de diversificada e engajada.

A expansão global do Bluesky não é apenas um reflexo do interesse em novas tecnologias, mas também uma resposta à crescente insatisfação com as redes sociais centralizadas. Graber comentou que os usuários estão cansados de “algoritmos de caixa preta” e da falta de transparência, e que o Bluesky oferece uma solução onde os usuários têm mais controle e podem personalizar suas experiências de acordo com suas próprias preferências.

A empresa também tem focado em adaptar suas funcionalidades para atender às necessidades específicas de diferentes mercados globais. “Reconhecemos que cada região tem suas próprias necessidades e preferências em termos de uso de redes sociais”, explicou Wang. “Por isso, estamos constantemente ajustando e melhorando nossos serviços para garantir que possamos oferecer a melhor experiência possível para todos os nossos usuários, independentemente de onde estejam.”

Além disso, o Bluesky está investindo em infraestrutura e segurança para suportar seu rápido crescimento. Graber mencionou que medidas de segurança robustas, como a autenticação de dois fatores por e-mail, foram implementadas para proteger as contas dos usuários contra hackers. “Estamos comprometidos em fornecer um ambiente seguro e confiável para todos os nossos usuários”, afirmou Graber.

Bluesky no Brasil

Um destaque interessante foi o crescimento significativo da base de usuários no Brasil. “Alguns dos nossos primeiros usuários foram brasileiros. Tivemos um aumento de crescimento brasileiro nos últimos meses, e estamos empolgados para receber mais brasileiros na rede agora”, disse Graber. “Criamos um feed de supercluster do Brasil que mostra apenas postagens de usuários brasileiros. Nossa missão é criar uma rede para conversa global que seja divertida e saudável, permitindo que todos personalizem sua experiência.”

Rose Wang também mencionou que a comunidade brasileira teve um papel importante na introdução de GIFs na plataforma.

Lançamos GIFs há algumas semanas, e isso foi [um interesse] muito informado pelos brasileiros que vieram para o Bluesky. Avançamos isso no roteiro do produto porque nos importamos muito com os usuários brasileiros, que têm memes e GIFs muito engraçados que gostam de compartilhar.

Rose Wang, COO do Bluesky

Graber ainda destacou a importância da base de usuários brasileiros para o Bluesky. “Os brasileiros são super sociais e adoram as mídias sociais. Alguns dos nossos primeiros usuários foram brasileiros, e muitos deles se juntaram após o primeiro artigo do TechCrunch sobre nós”, relatou Graber. “Recentemente, o presidente Lula se juntou à rede, o que aumentou ainda mais nosso crescimento no Brasil. A energia e a criatividade dos usuários brasileiros são uma força positiva para a cultura do Bluesky.”

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(Imagem: Bluesky / Reprodução)

Visão para o futuro do Bluesky

Ao discutir a visão de longo prazo para o Bluesky, Graber destacou a importância de dar poder aos usuários.

Nosso objetivo é criar uma rede social que beneficie os usuários. Quando você tem uma empresa controlando tudo, inevitavelmente, ela agirá em seu próprio interesse. Colocar o poder mais diretamente nas áreas onde as pessoas podem controlá-lo por si mesmas lhes dá a capacidade de evoluir as coisas mais rapidamente.

Jay Graber, CEO do Bluesky

O Bluesky diz estar comprometido em evoluir continuamente para atender às necessidades de seus usuários, permitindo que eles controlem seus dados e identidades. Graber acrescentou que a longo prazo, as redes sociais estão se movendo para um modelo mais aberto e descentralizado. Wang complementou dizendo que o Bluesky é um dos melhores lugares para os criadores investirem porque eles possuem seus dados, seus seguidores e seus domínios. “Nunca podemos retirar os seguidores deles ou cortar seu acesso”, afirmou Wang.

Desafios e estratégias

Com a crescente influência da inteligência artificial, surgem novos desafios para a moderação de conteúdo e a detecção de desinformação. “Utilizamos um modelo híbrido onde nossa equipe de moderação centralizada faz parte do trabalho, e desenvolvedores de terceiros e usuários também contribuem”, explicou Graber.

Ela mencionou que há um rotulador criado para pessoas que não querem ver arte gerada por IA no feed delas, permitindo que os usuários optem por ativar essa funcionalidade e evitar esse tipo de conteúdo.

Além da IA, o Bluesky está se preparando para lidar com questões de segurança em larga escala. Para receber líderes globais – algo que a rede comunicou estar pronta no último mês -, Graber explicou que a empresa implementou várias medidas de segurança e moderação para garantir um ambiente seguro e confiável.

“Adicionamos autenticação de dois fatores por e-mail para proteger contas contra hackers. Além disso, nosso chefe de confiança e segurança, Aaron Rodericks, que liderou a integridade eleitoral no Twitter, está garantindo que estamos prontos para moderar supressão de eleitores e desinformação eleitoral”, disse Graber.

Inovação contínua

O Bluesky está constantemente inovando e adicionando novos recursos para melhorar a experiência do usuário. “Estamos trazendo funcionalidades como mensagens diretas (DMs) e vídeo, que os usuários pedem há muito tempo”, disse Graber. “Queremos facilitar a criação de comunidades dentro do aplicativo, como a comunidade de Ciência, que cresceu em torno de feeds personalizados.”

Wang acrescentou que estão focados em crescer as comunidades no Bluesky, tornando os espaços online divertidos e saudáveis novamente. “Este ano será sobre garantir que os usuários sintam que têm o que precisam no Bluesky”, afirmou Wang.

Graber mencionou que a empresa está trabalhando para lançar esses novos recursos em breve. “Normalmente, não damos datas específicas porque elas podem mudar, mas algumas dessas funcionalidades estão chegando muito em breve, e estamos muito empolgados com isso”, afirmou ela.

Conselho para quem quer empreender na área

Jay Graber concluiu com um conselho para empreendedores que desejam entrar na área de redes sociais descentralizadas.

Acho que uma coisa que realmente tentamos fazer é prestar atenção ao que os usuários querem. Há um padrão comum onde você tem que ser realmente inteligente sobre a tecnologia para construir algo bom, mas às vezes as pessoas se concentram demais na tecnologia e param de pensar nas pessoas e no que as pessoas realmente querem, em última análise.

Jay Graber, CEO do Bluesky

Rose Wang adicionou: “Encontrem pessoas com quem vocês gostam de trabalhar. A diversão e os valores compartilhados realmente aparecem na comunidade ao longo do tempo. Construir algo junto com pessoas que você admira torna a jornada muito mais gratificante.”

Rose Wang lembrou que a equipe do Bluesky foi quem teve que começar a comunidade que se tornou a rede social. “[As pessoas da] nossa equipe foram os primeiros 10 postadores no aplicativo beta. O que eu diria para qualquer empreendedor é encontrar pessoas com quem você ama trabalhar. A diversão que vocês têm juntos, que têm os mesmos valores, realmente aparece em sua comunidade ao longo do tempo.”