Os planos da Meta em usar os dados dos usuários do Facebook e do Instagram para treinar a sua própria Inteligência Artificial segue gerando revolta entre as pessoas na internet. Uma classe específica, no entanto, parece ser a mais incomodada: a dos artistas.

Eles alegam que é injusto a empresa tomar posse do trabalho deles de graça – e lucrar com isso. Vários designers, fotógrafos e pintores, só para citar algumas dessas profissões ligadas à arte e à criatividade, costumam publicar as suas obras nas redes sociais, com objetivo de ganharem visibilidade ou atrair novos clientes.

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Quando a Meta afirma que pode usar esse material no treinamento da sua IA, a máquina poderia se inspirar em uma dessas imagens para trazer algo muito parecido.

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Vejam o exemplo da fotógrafa Jingna Zhang. Ela ganhou recentemente um processo contra o pintor Jeff Dieschburg, que utilizou uma foto que ela tirou para a Harper’s Bazaar Vietnam e a transformou em um quadro.

Um tribunal em Luxemburgo entendeu que o homem passou por cima dos direitos autorais da imagem ao utilizá-la sem consentimento da autora original.

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Zhang teme que um dia possa acontecer a mesma coisa com a Inteligência Artificial. Futuramente, uma pessoa digitaria num eventual criador de imagens: “modelo asiática de lado, com o rosto virado para trás e segurando um buquê”. E o resultado seria uma quase cópia da sua foto.

A rede social Cara

  • Pensando nisso, Jingna Zhang resolveu fundar uma rede social própria para artistas.
  • Batizada de Cara, ela é uma mistura de Instagram com o X (antigo Twitter), na qual os usuários podem postar seu portfólio, mas também atualizações e textos no feed.
Esse é o exemplo de um perfil na rede social Cara (bem parecido com outras plataformas) – Imagem: Reprodução/Cara
  • A grande diferença é que a plataforma tem o compromisso de não utilizar ou vender nenhum dado para usos relacionados à IA.
  • A Cara também tem uma parceria com o projeto Glaze, da Universidade de Chicago, uma iniciativa que coloca camadas de proteção em material com direitos autorais.
  • Essa rede social foi fundada em 2022, mas não tinha muitos adeptos até as últimas semanas.
  • É aí que o plano da Meta entra na história.
  • Com a notícia de que a empresa de Mark Zuckerberg iria utilizar os dados para treinar sua IA, muitos artistas resolveram deixar o Facebook e o Instagram e migraram para a Cara.
  • A plataforma de Zhang cresceu de 40 mil para 650 mil usuários em mais ou menos 7 dias.
  • O movimento ficou aparente quando a Cara virou um dos aplicativos mais baixados da App Store.

Próximos passos

Esse boom pegou a empreendedora de surpresa. Da noite para o dia, a hospedagem da plataforma na internet passou a custar uma fortuna, com os milhares de novos usuários.

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Antes, a Cara operava com uma equipe pequena e com voluntários cuidando da engenharia de dados. Na quarta-feira, porém, Zhang abriu seu e-mail e se deparou com a nova realidade: sua conta pelo uso da Vercel, uma empresa de hospedagem na web, custou US$ 96.280 na última semana.

Ela não trabalha com investidores externos por que não quer criar muitos vínculos. Além disso, acredita que poucas pessoas colocariam seu dinheiro em artistas independentes.

A página inicial da Cara é muito parecida com a do X (antigo Twitter) – Imagem: Reprodução/Cara

Fato é que ela vai precisar de grana para pagar essa conta – e outras mais caras ainda que devem aparecer futuramente.

As próximas semanas podem ser decisivas para essa rede social diferentona. Ou ela se “vende” e entra de vez no mercado. Ou ela desaparece. O mais importante para Zhang, no entanto, é saber que tem muita gente que pensa como ela. A Inteligência Artificial pode ser boa. Mas não o tempo todo.

As informações são do Tech Crunch.