O café é uma das bebidas mais consumidas no mundo e o Brasil é uma referência mundial na produção. Uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) analisou os quase três séculos da história do café em território brasileiro e confirmou que a importância do Brasil neste mercado não foi conquistada por mero acaso.

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Grãos de café
Grãos de café (Imagem: Ilja Generalov/Shutterstock)

Potencialização do mercado de café

  • A análise foi focada na evolução da ciência utilizada pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC), criada pelo imperador Dom Pedro II após pressão da elite dos produtores rurais de São Paulo, que na época lidava com problemas relacionados ao esgotamento do solo e pela disseminação de pragas.
  • O órgão foi responsável por potencializar a produtividade dos cafezais paulistas.
  • Foram analisados boletins, jornais, relatórios e documentos referentes à gestão dos principais diretores da instituição, sendo um deles acusado pelo envolvimento em “querelas” científicas acerca da propagação da broca do café (Stephanoderes coffeae) que devastou muitas lavouras paulistas.
  • No total, o estudo abrangeu os ciclos de desenvolvimento da economia brasileira, entre os anos de 1887 e 1924, quando o estado de São Paulo era o centro econômico do país.
Produtor de café brasileiro (Imagem: ImagensstockBR/Shutterstock)

Análise dos solos e combate de pragas

O trabalho aponta que, durante a gestão do químico austríaco Franz Dafert, entre os anos de 1887 e 1898, os estudos sobre o café ganharam destaque com a análise química, física, geológica e nutricional do solo. Neste período, o Instituto Agronômico desenvolveu uma série de pesquisas que indicavam que o espaço de produção agrícola do café passava a ser pensado e organizado de forma científica.

Após análises de áreas de produção de café, o diretor concluiu que o solo mais adequado para o cultivo do café tinha que conter uma composição de argila (50 a 70%); de sílica (20 a 30%); de calcário (5 a 10%); e de húmus (5 a 10%), além de nitrogênio, potássio e ácido fosfórico. Caso o solo apresentasse condições de esgotamento, uma indicação pensada pelo Instituto Agronômico era o uso da cal, ou fosfato de cal composto.

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Segundo o Jornal da USP, foi também na gestão de Dafert que surgiu uma tensão maior entre os produtores rurais e os pesquisadores do IAC. Isso aconteceu porque os cafeicultores buscavam soluções práticas e imediatas que pudessem levá-los a uma maior produtividade e lucratividade.

Após a saída de Dafert, o engenheiro agrônomo Gustavo D’Utra assumiu o cargo. Ele realizou ações de fomento para diversificação da atividade agrícola, o que fez com que outros gêneros alimentícios competissem com o café.

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Durante a direção de D’Utra, os pesquisadores foram orientados a realizar investigações científicas sobre as principais doenças que atacavam os cafezais do Brasil e do mundo. As mais temidas eram a Hemileia vastatrix (ferrugem do café) e Stephanoderes coffeae (broca do café).

Logo depois, o instituto experimentou um período curto de direção do francês Max Passon, que após um ano deixou a direção por problemas de saúde. Para substituí-lo foi contratado o francês Jean-Jules Arthaud-Berthet, que introduziu a broca do café nas áreas de produção do café paulista, gerando uma vasta destruição nas lavouras paulistas.

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O francês foi acusado de ser negligente e foi posteriormente exonerado. Em 1924, Arthur Neiva, um dos cientistas indicados para atuar na contenção da praga, informava a proibição da circulação de sacos de café vazios sem o chamado expurgo (desinfecção), a fim de evitar a propagação da doença.

A conclusão do estudo é que o Instituto Agronômico e seus cientistas atuaram como mediadores de ações entre o meio natural e o meio econômico utilizando a ciência como missão de promover o desenvolvimento econômico brasileiro. Isso permitiu o desenvolvimento das variedades de café que hoje estão presentes em várias regiões brasileiras e no mundo.