40 anos após a explosão do sistema binário HM Sagittae (HM Sge), o Telescópio Espacial Hubble foi usado pela NASA para revisitá-lo e descobrir a resposta de um de seus maiores mistérios.

Entre abril e setembro de 1975, HM Sge, que passou a ser uma nova, cresceu 250 vezes mais brilhante. Normalmente, após ficarem muito brilhantes (como HM Sge), as novas desaparecem em meses ou anos.

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Só que, no caso de HM Sge, além de um brilho superior ao habitual das novas, ela não desapareceu rapidamente como se esperava. Na verdade, observou-se que o sistema está mais quente, contudo, diminuiu um pouco, informou a NASA.

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Imagem do telescópio Hubble da estrela simbiótica Mira HM Sge (Imagem: NASA, ESA, Ravi Sankrit [STScI], Steven Goldman [STScI]; Processamento de imagem: Joseph DePasquale [STScI])

HM Sge: estrela que intriga astrônomos

  • A HM Sge é uma estrela simbiótica peculiar, onde uma anã branca e uma estrela companheira gigante, inchada que produz poeira, estão em órbita “excêntrica” em torno uma da outra;
  • Ela está localizada a 3,4 mil anos-luz de distância, na constelação de Sagitta;
  • A anã branca captura gás que vem da estrela gigante. O gás forma disco muito quente em torno da anã branca, que, por sua vez, pode sofrer, de forma imprevisível, explosão termonuclear espontânea, conforme recebe hidrogênio cada vez mais denso em sua superfície. A seguir, há uma inflexão.

Em 1975, HM Sge deixou de ser estrela indefinida para se tornar algo que todos os astrônomos da área estavam observando e, a certa altura, essa onda de atividade abrandou.

Ravi Sankrit do Space Telescope Science Institute (STScI) em Baltimore (EUA), em entrevista à NASA

Estudo da estrela

Em 2021, Sankrit e Steven Goldman, também do STScI, ao lado de colaboradores, usaram instrumentos do Hubble e do Observatório Estratosférico de Astronomia Infravermelha (SOFIA, na sigla em inglês) para analisar mudanças sofridas pela HM Sge nos últimos 30 anos em termos de comprimentos de onda de luz do infravermelho ao ultravioleta (UV).

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Os dados UV do Hubble indicaram forte linha de emissão de magnésio altamente ionizado não-presente nas publicações de 1990. Isso mostra que a temperatura estimada da anã branca e do disco de acreção aumentou menos de 222,2 mil °C para 249,98 mil °C atualmente.

A análise do espectro UV é feita a partir da linha de magnésio altamente ionizado. Quando são estudadas em conjunto, os astrônomos conseguem determinar a energética do sistema e suas mudanças.

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Quando vi os novos dados pela primeira vez, pensei: ‘uau, isso é o que a espectroscopia UV do Hubble pode fazer!’, quero dizer, é espetacular, realmente espetacular.

Ravi Sankrit do Space Telescope Science Institute (STScI) em Baltimore (EUA), em entrevista à NASA

A partir dos dados do já aposentado SOFIA, a NASA detectou a água, o gás e a poeira fluindo dentro e ao redor do sistema. Já os dados espectrais infravermelhos indicam que a estrela gigante (que tem elevada produção de poeira) regressou ao seu comportamento normal somente alguns anos após sua explosão, mas, também, perdeu brilho nos últimos anos. Este é um enigma ainda a ser resolvido.

O SOFIA permitiu à equipe ver a água se mover cerca de 29 km/s, o que, para eles, é a velocidade do disco de acreção que se encontra em torno da anã branca.

A ponte de gás que liga a estrela gigante à anã branca pode ter algo como três bilhões de quilômetros.

Imagem de câmera de bordo do telescópio Hubble (Imagem: NASA)

Mais parcerias e pesquisas

Os astrônomos que analisam HM Sge também vêm trabalhando com a Associação Americana de Observadores de Estrelas Variáveis (AAVSO, na sigla em inglês) para colaborar com pares amadores do mundo todo que ajudam a manter a observação da nova. Esse monitoramento contínuo indicou mudanças que não eram vistas desde quando ela nasceu, há 40 anos.

Estrelas simbióticas como HM Sge são raras em nossa galáxia, e testemunhar uma explosão semelhante a uma nova é ainda mais raro. Este evento único é um tesouro para astrofísicos ao longo de décadas.

Steven Goldman, do Space Telescope Science Institute (STScI) em Baltimore (EUA), em entrevista à NASA

Os primeiros resultados obtidos pelo grupo de estudo estão disponíveis no Astrophysical Journal.