A notícia que pegou o mercado da tecnologia de surpresa na manhã desta segunda-feira, 13, foi a aquisição do LinkedIn pela Microsoft. O valor pago no negócio ultrapassa os US$ 26 bilhões (mais de R$ 90 bilhões em conversão direta) e surpreendeu como a compra mais cara já realizada pela Microsoft em sua história.

Mas faz sentido gastar tanto dinheiro em uma rede social que nem chega a ser uma das mais populares da web? No ranking de plataformas com mais usuários ativos por mês, o LinkedIn aparece quase no fim da lista, abaixo de Snapchat, Twitter, Tumblr, Instagram e, obviamente, do Facebook. Não parece ser uma mina de ouro esperando para ser descoberta.

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O caso é que, para as ambições da Microsoft, o LinkedIn pode ser, sim, uma excelente oportunidade para dominar de vez o ambiente corporativo dos usuários. Pense nissso: o sistema operacional Windows está instalado em 91% dos PCs de todo o mundo, sendo que grande parte dessas máquinas são estações de trabalho nas mais diversas empresas de todo o planeta.

Além disso, a suíte de aplicativos Office conta com os programas mais usados por profissionais de todas as áreas, como o editor de textos Word e o de planilhas Excel. Isso sem falar no Skype como comunicador instantâneo entre colegas dentro do escritório e o servidor de e-mails Outlook. A Microsoft tem presença garantida em quase todo ambiente corporativo imaginável.

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Para fechar o cerco, faltava uma plataforma que agregasse esses profissionais com mais recursos do que o que suas atuais soluções oferecem. Afinal, nem o Outlook, nem o Skype e nem o Office possuem aquele fator “viciante” que redes sociais como o LinkedIn oferecem ao usuário: um mar de conteúdo e oportunidades que parece não ter fim.

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Nessa “nova” Microsoft liderada por Satya Nadella desde 2014, que prioriza serviços contínuos no lugar de produtos substituíveis, a palavra mágina é “conexão”. Imagine um futuro (próximo) em que o feed de notícias do LinkedIn te oferece artigos de influenciadores a respeito de um projeto que você está desenvolvendo no Office.

Ou então a possibilidade de compartilhar o seu trabalho com contatos úteis espalhados pelo mundo, que podem te ajudar com dicas e sugestões profissionais. Com o LinkedIn a seu dispor, a Microsoft tem acesso direto a mais de 400 milhões de perfis cadastrados que podem se tornar a principal plataforma de interações que a empresa jamais teve.

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Enquanto o Google tenta desesperadamente encontrar uma forma de combater o Facebook criando aplicativos novos (como o Allo para concorrer com o WhatsApp), a Microsoft evita a briga investindo no ambiente que ela já domina: o escritório. Afinal, o LinkedIn não tem concorrência, e já é reconhecido em todo o mundo como a principal plataforma de perfis profissionais e empregos da internet.

Fica claro que a Microsoft está apostando alto num futuro em que toda a infraestrutura digital de uma empresa depende dela: do sistema operacional até aplicativos de produtividade, passando por serviços na nuvem, e-mails, mensagens instantâneas e, por fim, redes sociais para os funcionários interagirem.

O Facebook já tentou emplacar soluções de comunicação para o ambiente de trabalho, mas a maioria das empresas insiste em evitar que seus funcionários se distraiam com a rede social de Zuckerberg. Até mesmo o Google tenta convencer o mercado a trocar o Office por seus apps para a web – ou seja, trocar uma solução testada e aprovada por uma alternativa “moderna”. Naturalmente, nenhuma das duas teve sucesso.

No mundo corporativo, ninguém consegue desbancar as soluções da Microsoft e a rede de contatos do LinkedIn. O casamento das duas companhias parece fadado ao sucesso, visto por este ponto de vista. Mas como em qualquer investimento tão alto, os riscos também são grandes.

Uma das últimas grandes aquisições da Microsoft foi o Skype, em 2011, por mais de US$ 8 bilhões. Embora seja uma ferramenta útil para muitas pessoas, o app não chega a ser um dos mais famosos e usados em todo o mundo. Não foi a “mina de ouro” de grandes empresas de tecnologia sempre buscam em startups ou companhias menores.

Já em 2014, a Microsoft adquiriu a Nokia para seu departamento de dispositivos móveis. O resultado certamente não foi o esperado e a decisão se mostrou equivocada em pouco tempo. A empresa acabou passando a marca adiante por US$ 350 milhões e ficou apenas com as perspectivas negativas para seu futuro no ramo de smartphones com Windows.

Por outro lado, a compra da Mojang – desenvolvedora do sucesso “Minecraft” – certamente não foi um equívoco. O negócio foi fechado no ano passado por US$ 2,5 bilhões e, depois disso, o game já superou a marca das 100 milhões de unidades vendidas, confirmando-se como um dos títulos mais vendidos de todos os tempos.

Mas nenhuma dessas aquisições chega perto do assustador valor de US$ 26 bilhões pago pelo LinkedIn. Se essa quantia vai se justificar, ou se vai repetir o “fracasso” que foi a compra da Nokia, só o futuro dirá. Tudo depende de como a Microsoft pretende explorar seu mais novo serviço e extrair dele novas fontes de lucro. O que não falta para ambas as empresas é oportunidade.