Nos últimos meses, o aplicativo de transporte individual Uber apresentou novas modalidades para tentar aumentar sua presença em território brasileiro. No entanto, a categoria Pool, que oferece a possibilidade de compartilhar as corridas com passageiros que vão para destinos semelhantes, e o método de pagamento das viagens com dinheiro estão causando bastante polêmica ultimamente. O motivo? Segurança.

“Se eu fosse você nunca mais pegaria o Uber Pool”. Isso foi o que eu ouvi quando estava a bordo de um carro da Uber durante uma viagem utilizando o aplicativo. O motorista, que pediu anonimato, recomenda que os usuários abandonem as corridas compartilhadas. 

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Segundo conta, cada vez mais assaltantes estão usando o aplicativo para chamarem motoristas que estão com outras pessoas no carro para serem assaltados. Vale lembrar que um mesmo carro pode levar até quatro passageiros. Ou seja, um mesmo veículo pode levar três passageiros e o motorista para o local do assalto.

Questionado se havia algum dado que comprovasse tal aumento, ele negou. “Não tenho. O que sei são dos relatos de companheiros de trabalho”, disse ao mostrar um grupo no WhatsApp. 

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Este não foi o único motorista que criticou a modalidade. Outro profissional que atua no serviço, e que também preferiu não se identificar, diz que trabalha com o Pool, mas somente em algumas horas do dia e nunca no período noturno. “É uma boa forma de ganhar mais dinheiro com as corridas, mas não vale o risco de trabalhar de noite”, explica.

Apesar do ganho financeiro, esse profissional conta que já sentiu que estava sendo atraído para um assalto na zona leste da capital paulista. “Já havia escurecido e eu parei em uma viela. Não havia ninguém e nem casas próximas. Vi duas pessoas suspeitas se aproximarem do carro pelo retrovisor e decidi arrancar e sair dali imediatamente”, relembra. Segundo conta não havia qualquer passageiro próximo ao local. “Era uma armadilha, tenho certeza”.

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Passageiros receosos

E não são apenas os motoristas que acabam sentindo insegurança com o aplicativo e nem só os assaltos preocupam quem usa o app. A publicitária Rebeca Coelho, 23, conta que seu principal medo é de ser assediada por outros passageiros. Ela inclusive sugere que o Uber tenha uma opção que permita compartilhar corridas somente com outras mulheres.

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“Fui muito resistente em pegar pela primeira vez. Quando usei, enviei diversas mensagens para meu namorado contando cada detalhe da viagem”, diz. A publicitária lembra que alguns casos que viralizaram nas redes sociais em que vítimas relataram comportamentos abusivos de motoristas e de outros passageiros.

Já a universitária Giovanna Frugis, 22, diz que sente bastante medo de dividir o carro com outras pessoas desconhecidas pela falta de identificação delas. “Não tenho coragem de entrar em um carro com outras pessoas. Morro de medo de mil coisas: assalto, assédio, sequestro, agressão…”, diz.

Procurada, a Uber diz que possui funções de avaliação mútua entre passageiros e motoristas e rastreamento dos carros para aumentar a segurança dos ocupantes do veículo. A empresa lembrou que a modalidade Pool já está presente em 40 cidades no mundo inteiro e que, somente no primeiro mês em São Paulo, 30% das viagens realizadas utilizaram foram compartilhadas, o que gerou menor emissão de gás CO2.

Dinheiro sem rastro

Além do número maior de vítimas e “assalto por delivery”, como apelidou um dos motoristas ouvidos pela reportagem que trabalham com o aplicativo, outro atrativo para os criminosos é o fato de que dá para usar o app sem fornecer qualquer dado real de identificação. Isso acontece porque é possível pagar as viagens usando dinheiro físico e não apenas o cartão de crédito ou a conta PayPal.

Como o cadastro na plataforma é feito de forma universal e o cliente só escolhe a forma de pagamento após o aplicativo estar pronto para uso, uma pessoa má intencionada pode optar pelo pagamento em dinheiro. Esse método deixa o usuário livre do preenchimento de dados de cartão de crédito que poderiam ajudar em possíveis investigações e que seriam mais difíceis de serem forjados.

A Uber, dessa maneira, armazena apenas informações como número de telefone, nome completo e endereço de e-mail do usuário. Dados que podem ser falsos. É claro que o pagamento em dinheiro pode ser feito também nas modalidades X e Black. Contudo, o fato de não ter que dividir o mesmo veículo com outras pessoas pode trazer maior segurança aos passageiros e é por isso que alguns usuários do serviço já abdicaram da modalidade.

A Uber afirma que o pagamento em dinheiro é uma maneira de tornar a plataforma mais “democrática e inclusiva, permitindo que mais brasileiros utilizem os serviços”. Sobre os dados dos passageiros, a Uber apenas informa que todos os usuários da plataforma devem ter cadastro no aplicativo sem comentar sobre a possibilidade dessas informações serem falsas. A companhia salienta que trabalha junto com as autoridades nas devidas investigações.

Morte e protesto

No dia 22 de setembro, o motorista Osvaldo Luís Modolo Filho, 51, foi morto com tiros e facadas por um casal que se passou por clientes do aplicativo. De acordo com reportagem do jornal Folha de S. Paulo, os jovens de 18 e 19 anos foram presos e confessaram o crime. Segundo disseram à polícia, ambos tinham a intenção de roubar o veículo da vítima para vendê-lo ao desmanche.

O problema é que o carro foi encontrado batido em uma árvora e os policiais conseguiram identificar os suspeitos com os dados da última corrida registrada pelo aplicativo do motorista.  De acordo com o portal O Dia, após a identificação dos suspeitos, os policiais encontraram uma publicação feita por um deles em uma rede social em que comemora o roubo.

Reprodução

A morte de Osvaldo motivou um protesto de 350 profissionais cadastrados no aplicativo contra a Uber. Os manifestantes pedem que o método de pagamento em dinheiro seja abandonado ou passe a pedir maiores informações dos usuários para evitar que qualquer pessoa crie uma identidade falsa para usar o serviço.

Questionada sobre como a empresa colaborou com as investigações, a assessoria da Uber limitou-se a dizer que emitiu um posicionamento oficial na época do incidente em que lamenta a morte de Osvaldo e que iria colaborar com as autoridades nas investigações, o que, de fato, aconteceu.