Na última segunda-feira, 28, a escritora Clara Averbuck publicou em sua página no Facebook um post denunciando ter sido estuprada por um motorista da Uber na noite anterior. O caso deu início a uma grande campanha de conscientização em relação a serviços de transporte por aplicativo e colocou o Brasil no ciclo de polêmicas da Uber — que perdeu executivos nos últimos meses pela forma como lidou com denúncias do tipo em outros países.

Em seu relato, Averbuck conta que o colaborador da empresa tirou proveito de uma situação de vulnerabilidade para penetrar o dedo em sua vagina, e explicou por que optou por denunciar a situação por conta própria em vez de procurar as autoridades. “Estou decidindo se quero me submeter à violência que é ir numa delegacia da mulher ser questionada, já que a violência sexual é o único crime que a vítima é que tem que provar”, escreveu. “Não quero impunidade de criminoso sexual mas também não quero me submeter à violência de estado.”

Em um texto publicado pelo site da revista Claudia, Averbuck também adiantou que não divulgará informações sobre o motorista para não incentivar uma caçada virtual. “Muitos, neste momento, cobram a Uber para punir o indivíduo. A empresa foi muito solícita e disse que o motorista acabou sendo desligado. A sanha ‘punitivista’ da internet quer logo print, rosto, nome, endereço. Não é assim que as coisas deveriam funcionar. Não vai ter isso.”

A escritora, que já publicou ao menos cinco livros e teve obras traduzidas para o teatro e o cinema, lançou uma ação para incentivar outras vítimas de violência cometida por motoristas a denunciar. E as hashtags #MeuMotoristaAbusador e #MeuMotoristaAssediador rapidamente se tornaram veículos para que outros relatos semelhantes surgissem pela internet.

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Em nota distribuída à imprensa, a Uber afirmou que “o motorista parceiro está banido” e que está “à disposição para colaborar com as investigações”. A Uber também expressou repúdio contra qualquer tipo de violência contra a mulher e disse acreditar “na importância de combater, coibir e denunciar casos de assédio e violência contra a mulher”.

No Brasil e no mundo

O incidente acrescenta o Brasil à pilha de problemas recentes da Uber, que, por causa de uma situação bem parecida, ocorrida na Índia em 2014, acabou ficando sem três dos seus principais executivos — sendo um deles o próprio CEO.

Na ocasião, a Uber também veio a público demonstrar solidariedade à vítima, mas, nos bastidores, deu início a uma investigação particular para descobrir se a denúncia não seria na verdade um plano de sabotagem arquitetado por uma concorrente na região. A ação foi tocada pelo então presidente da companhia para as áreas Ásia/Pacífico, Eric Alexander, com a conivência do chefe, o vice-presidente sênior Emil Michael, e do CEO, Travis Kalanick.

Os dois primeiros acabaram desligados da Uber e Kalanick renunciou ao cargo pouco tempo depois de a história vir à tona, mas não apenas por isso, já que a companhia vinha cada vez mais emaranhada em denúncias de assédio sexual e moral dentro de seus próprios corredores. Havia um problema cultural na Uber tão sério que, após a realização de uma auditoria independente, mais de 20 pessoas foram demitidas.

A companhia segue sem um CEO, mas afirmou neste fim de semana que já escolheu alguém para ocupar a posição; se as várias reportagens sobre o assunto se mostrarem precisas, essa pessoa será Dara Khosrowshahi, atual CEO da Expedia.