No centro de quase todas as galáxias há um monstro, um gigantesco buraco negro milhões ou bilhões de vezes mais massivo que o sol. A maioria está dormente, invisível por milhares de anos, até que uma estrela se aproxima demais e é despedaçada. O evento é conhecido como “Tidal Disruption Event” (TDE).

Uma nova geração de instrumentos está possibilitando a descoberta de mais e mais destes eventos logo que acontecem, o que nos dá uma melhor compreensão sobre a astrofísica envolvida e a natureza dos buracos negros responsáveis por eles.

A Dra. Suvi Gezari, professora na Universidade de Maryland, nos EUA, apresentou durante o encontro anual da Sociedade Astronômica Americana uma análise de 39 TDEs: 22 detectados em anos recentes e 17 descobertos nos primeiros 18 meses de operação do Zwicky Transient Facility (ZTF), um teelscópio de 1,2 metros na Califórnia.

No cenário padrão de um TDE, a gravidade do buraco negro desfia uma estrela que se aproxima, como um espaguete. O buraco negro engole imediatamente metade da matéria da estrela, enquanto o restante se arqueia em longas serpentinas. Estas rapidamente se transformam em um disco de acreção que constantemente despeja o material, tão quente que emite enormes quantidades de raios-x, no buraco negro.

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As impressões digitais de certos gases nos espectros da luz visível podem revelar que tipo de estrela desceu pela boca do buraco negro. Gezari e seus colegas descobriram que os espectros dos TDEs se dividiam em três classes, dominadas por hidrogênio, hélio ou uma mistura de gases.

O hidrogênio provavelmente sinaliza grandes estrelas jovens, enquanto que o hélio pode apontar para os núcleos de estrelas mais antigas cujas camadas externas de hidrogênio foram arrancadas – talvez por um encontro anterior com o buraco negro. Ela diz que as proporções revelam algo sobre as populações de estrelas nos próprios centros das galáxias, a distâncias da Terra que, de outra forma, seriam impossíveis de sondar.

Se os astrônomos pudessem transformar a luz em uma leitura da velocidade com que o material é sugado, eles poderiam determinar a massa de um buraco negro – algo geralmente estimado de forma aproximada medindo o tamanho de sua galáxia. Para isso, no entanto, “precisamos entender a astrofísica do processo com maior clareza”, diz Tsvi Piran, da Universidade Hebraica de Jerusalém.

A teoria sugere que os buracos negros podem se tornar massivos demais para desencadear TDEs. Acima de uma massa de 100 milhões de sóis, os buracos negros devem engolir estrelas inteiras, em vez de despedaçá-las à medida que se aproximam. Até agora, todo o crescente número de TDEs vem de galáxias menores, sugerindo que o limite é real.

Com a contagem de TDEs registrados crescendo rapidamente e centenas ou mesmo milhares de descobertas por ano, vindas de novas pesquisas, os pesquisadores esperam que os eventos respondam a mais perguntas. “Meu sonho é que os TDEs sejam algum tipo de parâmetro para determinar a massa de buracos negros”, diz Gezari. “Ainda não chegamos lá, mas estamos nos aproximando.”

Fonte: Science Magazine