Caso os astronautas Robert Behnken e Doug Hurley voltem sãos e salvos do voo teste da cápsula Crew Dragon, impulsionada pelo foguete Falcon 9, a SpaceX ganhará, finalmente, o certificado da Nasa para voos espaciais tripulados. A última vez que isso aconteceu foi em 1981, quando a agência espacial norte-americana realizou o voo inaugural do ônibus espacial.

O programa de ônibus espaciais foi encerrado em 2011, e desde então nenhum astronauta norte-americano foi lançado para o espaço em um veículo feito no país e a partir do solo dos Estados Unidos. Na última década, todo pessoal da Nasa que foi à Estação Espacial Internacional pegou carona em foguetes russos.

Não que a agência estivesse confortável nessa posição. Desde 2010, o Programa de Tripulação Comercial da Nasa trabalha com várias empresas da indústria aeroespacial norte-americana no desenvolvimento de sistemas de voos espaciais. “O objetivo é ter acesso seguro, confiável e econômico para a Estação Espacial Internacional e promover o acesso comercial a outros potenciais destinos de órbita baixa da Terra”, como explica a agência.

publicidade

As palavras-chave são “seguro, confiável e econômico”. No início de maio, os engenheiros da SpaceX completaram o 27º e último teste do sistema de paraquedas da sua cápsula. Assim como acontece nos lançamentos de satélites, esses testes estão sujeitos a rigorosas revisões de engenharia para minimizar a chance de algo dar errado e desperdiçar anos de esforço.

“É um processo rigoroso que pode levar meses”, explica o ex-gerente do programa, Ed Mango. Segundo o especialista, quando a Nasa lança um satélite ou uma sonda espacial, a agência se concentra inteiramente no sucesso da missão. “Com uma equipe a bordo, trata-se do sucesso da missão e da segurança da equipe. Você precisa adicionar esse elemento extra”, completa Mango.

Antes de qualquer peça ser construída, a cápsula Crew Dragon da SpaceX foi submetida a uma série de revisões de projeto para garantir que ele atendesse aos requisitos fundamentais descritos pela Nasa. “A agência define os requisitos de segurança e desempenho no nível mais alto possível e deixa os parceiros inovarem e projetarem o sistema para atender a esses requisitos”, diz Mango.

As especificações são diferentes para cada veículo, mas todas as naves espaciais que levam uma tripulação devem, por exemplo, possuir a opção de controle manual ou remoto, mesmo que elas sejam quase totalmente automatizadas. O resto depende das missões que ela foi projetada para executar. Como a Crew Dragon será usada para transportar astronautas para a ISS, ela precisa ser capaz de interagir com as portas de ancoragem e sobreviver no espaço por pelo menos 210 dias.

Alguns aspectos do programa de teste de voo não são negociáveis. Entre as exigências, a realização de um voo de demonstração sem tripulação, realizado em março de 2019, seguido por um voo de demonstração com tripulação. A SpaceX concluiu com sucesso sua missão Demo-1 no ano passado. A missão Demo-2 será realizada às 17h33 (horário de Brasília) de quarta-feira, 27 de maio, no Kennedy Space Center, Flórida.

“Recebemos ótimos dados de toda a espaçonave na Demo-1”, afirmou Steve Stich, vice gerente do programa de tripulação comercial durante uma coletiva de imprensa no início deste mês. “Mas desta vez, vamos verificar os sistemas de suporte de vida, os trajes espaciais, o sistema de interface e muitos outros sistemas que Bob e Doug dependerão para viver e trabalhar dentro da Dragon a caminho da Estação Espacial”.

Durante a maior parte da jornada de 19 horas até a ISS, a Crew Dragon estará no piloto automático. Mas pouco antes de atracar no laboratório orbital, Behnken e Hurley assumem o controle manual (manobra que você mesmo pode tentar fazer, neste simulador online). Os astronautas usarão os propulsores da espaçonave para realizar algumas manobras básicas que mudarão a orientação da cápsula – o resto ela faz sozinha.

A SpaceX continuará a realizar testes enquanto a cápsula estiver acoplada à ISS. De acordo com os requisitos da Nasa, a Dragon deve ser capaz de executar comandos do controle de missão na Terra quando não houver membros da tripulação dentro. Durante a permanência em órbita de Behnken e Hurley, os operadores de controle de missão na Terra farão as operações para garantir que todos os seus sistemas estejam em boas condições.

A missão dos astronautas pode durar até três meses e meio. Depois disso, se tudo der certo, engenheiros da agência espacial e da SpaceX passarão os próximos meses revisando os dados da missão para determinar se a cápsula foi aprovada. Se passar na revisão final, a Crew Dragon estará pronta para iniciar missões operacionais que transportam astronautas da Nasa ou outros clientes pagantes para a Estação Espacial.

Via: Wired