Quando foi lançado em 2013, o primeiro ‘The Last of Us‘ fez um enorme sucesso e se tornou um dos jogos mais importantes da indústria. Seja pelas mecânicas implementadas – exaustivamente copiadas em jogos lançados em seguida – ou pela história tão bem construída que faz com que o jogador tenha uma mistura de emoções enquanto joga, fato é que o título fez história e é lembrado até hoje.

Isso fez com que uma continuação se tornasse quase uma obrigação. Eis que, sete anos depois, finalmente podemos ter uma ideia de como estão Ellie e Joel após os eventos finais do game original.

Os desafios enfrentados pela Naughty Dog para fazer essa sequência foram enormes. A expectativa do público é um deles, mas também havia a pressão de criar algo que não só superasse o original, mas que também agradasse o público e a crítica.

Não quero dar spoilers ou adiantar as coisas, mas posso dizer que a empresa conseguiu alguns desses feitos – e digo mais, podemos considerar esse um dos maiores e melhores jogos da geração PlayStation 4.

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Mais uma vez temos uma história que se destaca não só pelo desenvolvimento dos personagens e de suas relações, mas também por mostrar que a vingança nem sempre é o melhor caminho. Nunca o ditado “olho por olho, dente por dente” fez tanto sentido.

História

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As paisagens são alguns dos destaques do título. Foto: Sony/ Divulgação

Iniciamos o jogo ouvindo Joel contar ao irmão, Tommy, o que aconteceu no hospital do qual salvou Ellie no fim do game original. Em seguida, somos brindados pelo personagem cavalgando em direção a um pôr do sol de tirar o fôlego – talvez uma das paisagens mais bonitas de todo o jogo. Para não dar mais spoilers, vamos à história de um modo mais geral.

O game se passa cerca de cinco anos após o fim do primeiro título. Por conta disso, Ellie, já mais velha, procura sua liberdade enquanto lida com problemas envolvendo a superproteção de Joel, que a tem como filha, e conflitos internos em relação à chegada da vida adulta.

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Após os eventos do primeiro game, Ellie e Joel se estabeleceram em uma comunidade. Foto: Sony/ Divulgação

Ellie se estabeleceu junto com Joel em uma comunidade. Eles vivem em harmonia e, de vez em quando, saem em patrulhas para garantir a limpeza dos arredores e evitar que os monstros criados pelos fungos se aproximem do local. Em uma dessas patrulhas, um evento inesperado faz com que Ellie mude totalmente seus planos de vida.

Em resumo, ‘The Last of Us 2‘ é um game de vingança. No entanto, não se resume apenas a isso. O grande foco do título, assim como o anterior, é a história e em como ela se desenvolve de acordo com a evolução dos personagens. As situações enfrentadas ajudam a formar os pensamentos de Ellie em relação a diversos assuntos – assim como os nossos.

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‘The Last of Us 2’ é um jogo baseado na vingança. Foto: Sony/ Divulgação 

Isso mostra o cuidado da Naughty Dog em criar um título com que o jogador possa se identificar e compadecer com o destino de alguns daqueles personagens. É bem difícil falar muito sobre a história sem dar spoilers, mas, em certo momento, é possível até nos questionarmos se estamos do lado certo da luta.

Pode não parecer, mas a história tem uma ligação direta e muito forte com o primeiro. Quando a grande revelação da motivação do vilão é revelada, tudo o que fizemos para chegar ali passa como um filme em nossa cabeça, além de ficarmos de queixo caído. Isso tudo pode ser atribuído a um roteiro bastante competente e que sabe para onde deseja levar o jogador – mesmo que não pareça.

Jogabilidade

Quem jogou o primeiro título não deve ter grandes problemas em relação à movimentação de Ellie. As ações são basicamente as mesmas, com exceção apenas da adição de um comando dedicado à esquiva. Usando o “L1”, é possível desviar das investidas dos inimigos, sejam eles humanos ou infectados.

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Mapa semiaberto ajuda na imersão do jogador. Foto: Sony/ Divulgação

Outra novidade é que todo o jogo se passa em um ambiente semiaberto. Isso é bom para quem adora explorar lugares e conhecer mais do ambiente. Porém, mais do que isso, esses cenários maiores são ótimos em combate.

No jogo é possível assumir duas abordagens: stealth e ‘rambo’. Na primeira delas, podemos passar pelas áreas de maneira furtiva, sem chamar a atenção dos inimigos – o que é uma tarefa bastante complicada. Na segunda, há a possibilidade de sair atirando para todos os lados, no entanto, isso faz com que muitos inimigos possam te atacar ao mesmo tempo. O ideal é balancear entre as duas abordagens. Encontrar o equilíbrio é o ideal para sobreviver ao vasto mundo do game.

Em uma área residencial, por exemplo, se um inimigo te encontra, ou você atira nele, todos os outros serão avisados de sua localização. Porém, é possível correr e se esconder em outro local, como deitado na grama, dentro de casas, cantos escuros e até embaixo de construções. Com isso, logo eles perderão o interesse e retornam às atividades anteriores, dando mais tempo para pensar em novas estratégias para avançar.

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Manter-se escondido pode ser uma estratégia para sobreviver. Foto: Sony/ Divulgação

Para ajudar com isso, o arsenal presente é vasto e permite que o jogador possa escolher a maneira de matar inimigos. São pistolas com silenciadores caseiros, metralhadoras, arco e flecha e shotguns. Pelos cenários há bancadas espalhadas que permitem melhorar o equipamento. É possível aumentar a capacidade do pente, adicionar mira para maior precisão e aumentar o impacto da bala.

Há também apetrechos que ajudam a fugir de situações de desespero, como bombas caseiras de pregos, explosivos de fumaça e até coquetéis molotov que atingem vários inimigos de uma vez. Tudo isso pode ser criado a partir de materiais encontrados no cenário.

Uma parte interessante, pelo menos na dificuldade normal, é a abundância desses suprimentos. Mesmo após uma dura batalha, é possível encontrar material para repor quase tudo o que foi usado – obviamente, se você explorar bem.

Gráficos, mapa e bugs

Os gráficos são espetaculares, talvez os melhores da geração. Há um nível de detalhamento absurdo, seja nas plantas que invadiram o cenário urbano e até nos inimigos.

Falando em exploração, o game oferece, como já dito, um mundo semiaberto para ser explorada, permitindo que o jogador ande da maneira que quiser. Entrando nas casas e edifícios disponíveis, além dos suprimentos, é comum encontrar cartas e bilhetes que explicam o que aconteceu com os moradores ou com quem se abrigou ali.

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Casas e edifícios possuem documentos que ajudam a entender o que ocorreu no local. Foto: Sony/ Divulgação

Isso faz com que o game tenha mais imersão, permitindo que o jogador imagine o que aquela pessoa sofreu antes do fim. Isso porque, na maioria das vezes, esses documentos estão ao lado de algum corpo.

Como nem tudo é perfeito, encontrei alguns bugs enquanto jogava. Felizmente, nenhum que comprometesse muito a jornada. É comum perceber arbustos e elementos do cenário que só aparecem quando o personagem está próximo. Em outro momento, um erro ocorreu quando entrei com Ellie em um prédio e fui direto para uma bancada de melhorias.

O apartamento possuía um quarto trancado em que vários inimigos estavam escondidos e não foi possível abrí-lo quando cheguei perto. Enquanto melhorava minha arma, o ambiente foi aberto e um dos refugiados ali me agarrou, ocasionando um problema no braço de Ellie.

Isso fez com que o braço da personagem ficasse estendido. Ao segurarmos a arma, ela ficou em uma posição estranha. Isso só foi resolvido ao recarregar o ponto de salvamento. Felizmente, esse foi um evento pontual. 

Não sei exatamente se isso se encaixa na categoria de bugs, mas o jogo parece exigir muito do PlayStation 4. Durante a jogatina, pude perceber que o console faz um barulho um pouco alto. Ao que parece, esse som está ligado ao sistema de refrigeração do console. Isso não atrapalha em nada a progressão da história, mas é algo interessante de se observar. 

Inimigos

Em relação ao primeiro jogo, os inimigos estão mais fortes, mais presentes e em maior número.
Alguns estão de volta, como os Corredores e Estaladores – confesso que os barulhos feitos por esse último são perturbadores, ainda mais para quem usa fones de ouvido. Mas também há adições, como é o caso dos Trôpegos, inimigos com pústulas que soltam nuvens de gás ácido no jogador.

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Trôpegos liberam uma gás ácido que corrói tudo ao redor. Foto: Sony/ Divulgação

Falando em inimigos, não são apenas os infectados que estão presentes na aventura. Há duas facções que são uma pedra no sapato de Ellie: os Serafitas e os WLF – conhecidos como Cicatrizes e Lobos, respectivamente.

Os Serafitas são um grupo extremista religioso que seguem uma sacerdotisa. Seus costumes são bem peculiares, além de preferirem utilizar armas caseiras, como arcos e flechas, além de andar de forma sorrateira.

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Serafitas são furtivos. Foto: Sony/ Divulgação

Os Lobos surgiram após a eliminação dos Vaga-lumes, presentes no primeiro jogo. Aqui, muitos dos membros foram treinados para o uso de armas de fogo. Por isso, ao encontrar com grandes bandos, tenha cuidado, prefira os ataques furtivos.

Uma boa sacada da Naughty Dog foi dar nomes para cada um dos inimigos que matamos. Isso me deixou embasbacado na primeira vez que matei alguém e me escondi em seguida. Um dos membros do grupo que estava com o morto encontrou seu corpo, o chamou pelo nome, e lamentou seu óbito. Confesso que aquilo fez com que eu me sentisse culpado.

Características gerais

Andando de maneira normal, sem explorar a fundo muitos dos locais, consegui finalizar o game em exatas 23 horas e um minuto. O que é um tempo bom, pensando que é um jogo linear com uma narrativa fechada e que se passa em um mundo semiaberto. Obviamente, explorando mais, o game passa fácil de 25 horas.

Não há puzzles no título, o máximo que conseguimos são cofres em que o jogador deve vasculhar o cenário em busca da combinação e, em outras ocasiões, procurar maneiras de subir em certos locais.

Ao que parece, a Naughty Dog quis trazer um game mais acessível que pudesse ser jogado por várias pessoas. Por isso, a empresa implementou diversas opções de acessibilidade que fazem com que o jogo se torne modificável para indivíduos com algumas limitações.

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Opções de acessibilidade ajudam pessoas com certas limitações. Foto: Sony/ Divulgação

Dentre as atribuições, pode-se encontrar opções para mudar a disposição dos botões, determinar auxílios visuais para pessoas com problemas de visão e diminuir o “balanço da tela” com uma opção para diminuir o enjoo por movimento. Além de acessibilidades no combate, como inimigos que não flaqueiam, invisibilidade total ao deitar no chão, percepção reduzida dos inimigos e esquiva melhorada.

Para quem gosta de capturar imagens e fazer papéis de parede ou compartilhar fotos nas redes sociais, há um modo foto – que, como o nome já diz, serve para capturar momentos específicos escolhidos pelo jogador durante a campanha. É interessante, pois o hud (indicador de munição e saúde do personagem) são retirados da tela para que ela fique mais “limpa” para a captura. Com os dois analógicos, é possível definir posição de câmera e detalhes para que a foto saia da maneira mais profissional possível.

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Imagens de momentos específicos podem ser capturadas com o modo foto presente no título. Foto: Sony/ Divulgação

O game ocupa pouco mais de 78 GB no console, isso faz dele um dos mais pesados da geração. Para o dia do lançamento, há uma atualização programada, ainda não se sabe o tamanho, mas, por conta disso, pode ser que o tamanho total ocupado pelo título seja ainda maior.

Ao fim da campanha, a tela inicial do jogo é alterada – recebe uma mudança por conta dos acontecimentos finais. Além disso, o jogador pode acessar a opção de novo jogo “plus”, em que todos os itens e upgrades conquistados durante a campanha anterior são mantidos, no entanto, com um aumento nas dificuldades.

Conclusão

O game fecha com chave de ouro uma geração – mesmos sabendo que ainda há títulos para serem lançados. É uma experiência única retornar ao mundo de ‘The Last of Us’ e ver como os personagens amadureceram e mudaram em apenas cinco anos. Ainda é muito cedo para dizer, mas o título é um forte candidato ao prêmio de melhor jogo do ano do The Game Awards.

Naughty Dog e Sony têm em mãos uma obra-prima dos videogames. Mesmo sendo um exclusivo, qualquer jogador consegue reconhecer que esse é um jogo bastante competente e completo no que se propõe a fazer.

‘The Last of Us 2’ chega exclusivamente para PlayStation 4 em 19 de junho. A edição padrão pode ser adquirida pelo preço sugerido de R$ 249,99. Para quem gosta de algo mais completo, a versão deluxe custa R$ 289,99 e vem com trilha sonora digital, artbook e avatares para serem usados na PlayStation Network.

Para testar o jogo, a Sony enviou ao Olhar Digital uma cópia que foi rodada em um PlayStation 4 Pro.