Os Estados Unidos, por meio da International Development Financial Corporation (DFC), discutem a criação de um fundo financeiro para subsidiar a venda de equipamentos da Ericsson e da Nokia para a infraestrutura da rede 5G no Brasil. A informação foi revelada em entrevista do embaixador norte-americano, Todd Chapman, ao jornal Folha de São Paulo, publicada nesta quinta-feira (11).

A proposta é um movimento dos Estados Unidos para impedir que o Brasil empregue a tecnologia da empresa chinesa Huawei em instalações de rede 5G nacionais. O país administrado por Donald Trump acusa a companhia de servir como veículo de espionagem e roubo de propriedade intelectual a favor do governo chinês. A Huawei nega as acusações.

“Já houve algumas conversas no Brasil, inclusive com a minha participação. E isso também está acontecendo em outras partes do mundo, não é só no Brasil que queremos trabalhar com a Ericsson e a Nokia”, afirmou Chapman.

O embaixador argumenta que leis em vigor na China obrigam empresas privadas a entregar informações a autoridades governamentais. Ele diz que países como Dinamarca e Austrália já baniram a gigante de tecnologia chinesa e ressalta que a escolha das nações sobre o uso dos equipamentos da Huawei pode afetar o clima de investimentos local.

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Em maio, o governo do presidente Donald Trump renovou restrições de compras de equipamentos da Huawei para empresas sediadas nos EUA. Imagem: AFP

“Tudo isso tem impacto no clima de investimentos do país”, disse Chapman à Folha de São Paulo. “As empresas levam em conta as leis da propriedade intelectual e também as leis de proteção de dados. Tudo isso tem um impacto econômico no futuro do país.”.

Apesar da pressão dos Estados Unidos, nem todos os países aliados aderiram ao banimento da empresa de tecnologia chinesa. No Reino Unido e na Alemanha, autoridades permitiram a operação da Huawei, com restrições.

Tecnologia 5G da Huawei no Brasil

A ideia de vetar equipamentos da Huawei ganhou força no governo na semana passada. O presidente da República, Jair Bolsonaro, afirmou em transmissão via redes sociais, na quinta-feira (11), que o leilão do 5G no Brasil vai considerar questões de “soberania, a segurança de dados e a política externa”.

Previsto inicialmente para novembro deste ano, o certame deve ser adiado para 2021 em razão da pandemia do novo coronavírus e as discussões em torno da regulamentação da tecnologia.

De acordo com a Folha de São Paulo, em reunião ocorrida na semana passada no Palácio do Planalto, o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, enviou um parecer definitivo do Ministério das Relações Exteriores que recomenda banir completamente a Huawei da infraestrutura do 5G no país.

A proposta divide membros do governo sobre possíveis reflexos diplomáticos e econômicos da medida. Uma das opositoras, segundo o jornal, é a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que teme consequências negativas nas exportações de produtos agrícolas para a China. 

Em março, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) publicou requisitos de segurança cibernéticas para a operação do 5G o Brasil. Divulgado após conversa entre o líder chinês Xi Jiping e Bolsonaro, o documento foi considerado um sinal verde para a Huawei instalar equipamentos da nova geração de rede móvel no país, já que não proibiu a participação da gigante chinesa. A decisão, no entanto, caberá ao presidente Jair Bolsonaro.

Durante evento virtual do site Tele Síntese, o secretário de fomento da Secretaria do Programa de Parceiros e Investimento (PPI), Wesley Cardia, afirmou que, além do parecer do Ministério das Relações Exteriores, o Ministério da Economia, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Ministério da Ciência e Tecnologia, e o Gabinete de Segurança Institucional ainda devem apresentar relatórios sobre a participação da Huawei na infraestrutura 5G do país

“Cada um está fazendo seu parecer para a decisão do presidente”, afirmou Cardia.

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Em janeiro, o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações, Marcos Pontes, declarou que o Brasil não aceitaria pressões dos Estados Unidos para restringir a participação Huawei no leilão de 5G.  Imagem: Wilson Dias/Agência Brasil

Custo imprevisto

Caso o fundo de financiamento do DFC seja concretizado, a iniciativa vai afetar em cheio os negócios da Huawei. A empresa corresponde a uma das principais fornecedores de equipamentos de telecomunicações no Brasil. De acordo com a Folha da São Paulo, operadoras afirmam que será necessário trocar equipamentos da companhia instalados na infraestrutura das redes 3G e 4G.

Isso porque, nos caso das redes 3G e 4G, os materiais de diferentes fabricantes comunicam-se entre si, porém, em relação aos 5G, os aparelhos de concorrentes têm limitações de interação com os aparelhos da Huawei. O custo de uma eventual desinstalação é um dos pontos questionados pelas teles no edital do leilão publicado pela Anatel, uma vez que o documento não aborda esse cenário.

Fonte: Folha de São Paulo (1 e 2)