No dia em que a Biblioteca Pública de Peters Township, em McMurray, no estado norte-americano da Pensilvânia, pretendia revelar um escape room com temática de super-heróis, a pandemia obrigou a biblioteca a fechar suas portas. Sem local físico, a bibliotecária Sydney Krawiec criou uma alternativa: uma sala de fuga digital, criada no Google Forms.

Em apenas quatro horas, ela fez um jogo baseado no universo de “Harry Potter”, colocando os participantes em uma série de quebra-cabeças que precisavam ser respondidos para progredir no game. Em pouco tempo, o formulário viralizou. Isso motivou outros bibliotecários a fazerem o mesmo.

Com esses “escape rooms” virtuais, os bibliotecários puderam servir sua comunidade e também aqueles de muito longe, dando às pessoas presas em casa algo de diferente para fazer. Segundo os bibliotecários, esses desafios se tornaram uma ferramenta para o ensino remoto, bem como um dispositivo para a formação e desenvolvimento de equipes.

“Eu sei que muitos pais, especialmente quando todos começamos a trabalhar em casa, que estavam sobrecarregados com a tentativa de encontrar coisas para manter as crianças ocupadas durante o dia ou para impedir que os adolescentes jogassem videogames o dia inteiro”, diz Morgan Lockard, bibliotecário da Biblioteca Pública do Condado de Campbell, no Kentucky, que já criou cinco salas de fuga.

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Sala de fuga começa explicando onde os jogadores estão no mundo bruxo. Imagem: Reprodução

Nesses jogos, você resolve uma série de problemas, variando de quebra-cabeças digitais (com links externos) a equações matemáticas, com descrições explicando o que você vê nas salas à medida que avança. O formato é bem simples: as páginas contam com uma ou duas fotos, talvez um vídeo, uma descrição e alguns links, além de perguntas de múltipla escolha ou com um campo de resposta. Quando você responde corretamente, avança para a próxima etapa.

As salas de fuga se tornaram cada vez mais populares nos últimos anos. Krawiec já havia criado duas salas físicas de “Harry Potter” antes de fazer o jogo de super-heróis. Ela criava salas similares quando ensinava matemática para alunos da oitava série.

Ao avançar no jogo, os jogadores desenvolvem suas habilidades de resolução de problemas e interpretação de texto, afirma a bibliotecária Brooke Windsor, da Biblioteca Pública de Richmond Hill, em Ontário, no Canadá. Além de aperfeiçoar essas habilidades, os problemas geralmente envolvem matemática ou geografia.

Essas atividades são uma forma de gerar interesse nos alunos por diferentes disciplinas. Lockard diz que sua antiga sala de fuga com o tema do Egito é usada em aulas de história, enquanto sua sala com temática espacial é usada por professores de ciências.

O Google Forms também pode servir como ponto de partida para os alunos aprenderem mais. Um guia para a sala de escape espacial de Lockard tem informações adicionais e fatos que os jogadores podem buscar. O jogo em si depende que o participante pesquise pelo menos um pouco.

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Procurar códigos ou decifrar enigmas são alguns dos desafios desses jogos. Imagem: Reprodução

Existem algumas desvantagens de trazer as salas de fuga para o mundo digital. O Google Forms não salva seu progresso; portanto, se você sair acidentalmente da página, terá que começar tudo de novo. Além disso, como os quebra-cabeças costumam ser baseados em imagens, podem não ser acessíveis para pessoas com deficiência visual. Krawiec e Windsor dizem trabalhar com instrutores de alunos com deficiência para desenvolver versões mais inclusivas, como baseadas em texto ou com leitor de tela.

Os bibliotecários não são os únicos a criar salas de fuga virtuais. A Puzzle Break, empresa especializada em salas de escape, criou duas salas totalmente virtuais que podem ser reproduzidas em videochamada. Outra empresa, The Escape Game, envia um funcionário com uma câmera para uma sala de fuga real e os jogadores participam por videochamada.

O setor sofre grandes perdas por causa da pandemia. Uma empresa de salas de fuga pode gerar US$ 125 mil em receita anual, caso esgote as vagas na maioria dos fins de semana, de acordo com uma reportagem de 2018 do New York Times.

Windsor diz que as salas de fuga permitiram aos bibliotecários alcançar ainda mais pessoas do que esperavam. “Não é apenas nossa comunidade imediata”, diz ela. “É a comunidade mundial. E acho que, se esse não é o objetivo final da biblioteconomia, nada é”.

Via: The Verge