Um estudo feito por pesquisadores da Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet), do Brazilian Clinical Research Institute (BCRI) e dos hospitais Albert Einstein, HCor, Sírio-Libanês, Moinhos de Vento, Oswaldo Cruz e Beneficência Portuguesa concluiu que o uso de hidroxicloroquina (sozinha ou com azitromicina) não melhorou o estado clínico de pacientes hospitalizados com Covid-19. Os resultados foram publicados no New England Journal of Medicine.

Esta foi a maior pesquisa realizada no Brasil sobre o efeito do medicamento, com 665 pessoas internadas com suspeita ou confirmação de infecção pelo novo coronavírus a pelo menos 14 dias desde o início dos sintomas. Por sorteio, 217 pacientes foram designados para receber hidroxicloroquina mais azitromicina, 221 para receber só hidroxicloroquina e 229 para receber atendimento padrão, sem o medicamento.

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Depois de 15 dias, uma porcentagem muito similar dos três grupos teve alta: 69% dos pacientes do primeiro, 64% do segundo e 68% do terceiro. O mesmo cenário foi observado nos óbitos, com cerca de 3% em todos os grupos. A pesquisa foi do fim de março até meados de maio em 55 hospitais, com o acompanhamento finalizado no início de junho. Os avaliados tinham cerca de 50 anos, e 40% deles eram hipertensos, 21% diabéticos e 17%, obesos.

Por outro lado, o estudo aponta que “pacientes que receberam hidroxicloroquina, com azitromicina ou isoladamente, tiveram eventos mais frequentes de prolongamento do intervalo QTc [maior risco para arritmias] e elevação dos níveis de enzimas hepáticas do que pacientes que não receberam nenhum dos agentes”.

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Limitações e dificuldades

Porém, os próprios pesquisadores reconhecem que os testes tiveram várias limitações. “Embora a estimativa pontual do efeito não sugira nenhuma diferença importante entre os grupos em relação ao resultado primário, o estudo não pode excluir definitivamente um benefício ou um dano substancial dos medicamentos”, afirmam os cientistas, que também confirmam que os testes não foram “cegos”.

Outros problemas apontados pelos pesquisadores têm relação com a difusão do uso da hidroxicloroquina e da azitromicina no Brasil. No relatório, os cientistas contam que foi difícil encontrar pacientes que não fizeram uso prévio desses medicamentos, e que por isso decidiram “inscrever pacientes, desde que o uso anterior desde o início dos sintomas fosse limitado a 24 horas”.

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Além disso, os cientistas contam que “a falta de medicamentos que foram considerados benéficos por médicos e pacientes levou a alguns desvios de protocolo”, e que embora o tempo médio entre o início dos sintomas e seleção dos pacientes tenha sido de sete dias, “incluímos pacientes até 14 dias após o início dos sintomas; é concebível que intervenções que possam limitar a replicação viral (por exemplo, hidroxicloroquina) possam ser mais eficazes mais cedo no curso da doença”.

Via: Folha de S. Paulo

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