Estudantes do Reino Unido têm passado por uma situação um tanto quanto desagradável. O exame estudantil que garante vagas em faculdades (uma espécie de Enem) foi cancelado no país por conta da pandemia causada pela Covid-19.

Para tentar solucionar a falta que a prova faria, o governo britânico desenvolveu um algoritmo que tinha como premissa usar as notas atribuídas aos alunos pelos professores de suas escolas. O problema é que é possível que o sistema tenha privilegiado alunos de escolas mais caras, o que deixou jovens de classes sociais mais baixas sem a vaga no tão sonhado curso superior.

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O algoritmo funciona da seguinte forma: os docentes dão uma nota prévia de quanto acham que seus alunos tirariam na prova. Estas informações são retidas pelo algoritmo, que devia tê-las como base para dar a nota final sem distorções para a entrada do estudante na faculdade.

No entanto, muitas notas foram não só rebaixadas, mas também acabaram com as esperanças de cursar uma graduação. Há casos em que a nota indicada pelo professor havia sido “A” e a nota gerada pelo algoritmo foi “E”. Estima-se que pelo menos 40% dos alunos tenham sido prejudicados neste sentido.

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Diante do quadro, ainda vale destacar que o Reino Unido possui algumas das instituições de ensino mais caras do mundo. Apenas 6% dos estudantes do país têm o privilégio de desfrutar de uma escola privada. Mas estes alunos representam 30% dentro das 15 universidades mais prestigiadas do país.

Com o algoritmo, foi possível perceber que turmas menores tinham recebido notas mais parecidas com as indicadas por seus docentes, o que abriu uma clara vantagem para estes estudantes. Cabe ainda frisar que o novo sistema de avaliação também aumentou em 5% a quantidade de discentes de escolas privadas que receberam nota máxima.

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A revolta com a junção de todas estas informações e as notas geradas acometeu não só o corpo estudantil, mas também toda a comunidade escolar do país e simpatizantes da causa.

Martha Dark, fundadora da Foxglove, instituição especializada em justiça tecnológica, ressalta que o governo implantou o sistema sem ao menos perguntar aos seus cidadãos se concordavam com a prática ou explicar como o cálculo funcionaria.

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Relatos

Em reportagem, a BBC News conversou com Caítlín, que sempre tirou boas notas, mesmo quando criança, quando o assunto era o corpo humano. Ser médica tornou-se o sonho da jovem, que para tanto, precisava tirar dois “A” no exame nacional para ingressar no curso na Queen’s University de Belfast. Quando conferiu o e-mail com as notas reais, havia conseguido tímidos “B” e “C”.

Depois de descobrir que na realidade quem havia gerado sua nota tinha sido um algoritmo, Caítlín correu para a escola onde estava finalizando longos 14 anos na educação formal. A busca por respostas acabou sendo em vão, visto que os professores da instituição de ensino também estavam confusos. Não esperavam por tantos bons alunos fora da faculdade.

A estudante considera que sua nota foi definida de forma totalmente aleatória. No final das contas, a Queen’s University disse já ter repassado sua vaga para outra pessoa.

Outro relato que causa revolta é o de Anna Kaminska, que iria prestar o exame nacional pela segunda vez. Com o objetivo de cursar bioquímica na Universidade de Manchester, viu o sonho acabar quando em vez de conseguir os “A” e “B” previstos por seus professores, obteve um “C” e um “E”.

No dia 17 de agosto, o Reino Unido reverteu o quadro de Anna e decidiu aderir as notas indicadas por seus docentes. Mas já era tarde para a estudante, que agora precisa ter ainda mais esperança para realizar o sonho.

O que diz o governo britânico

As autoridades do Reino Unido reforçam que o sistema baseado em algoritmo foi programado para garantir que o estudantes recebessem notas sem distorções, alinhadas com suas habilidades e conhecimentos. A decisão deveria levar em conta o desenvolvimento do aluno frente aos conteúdos passados nos últimos anos.

Mas o que realmente parece ter ocorrido é que o sistema ignorou talentos únicos e o trabalho árduo de anos de estudos. Além das notas rebaixadas, o esforço dos professores em preparar estes alunos para este momento específico também foi deixado de lado.

De qualquer forma, o país recuou e afirmou que deverá abandonar o algoritmo “destruidor de sonhos”. 

Fonte: BBC News