Um debate está gerando muita discussão nos Estados Unidos, sobre qual deve ser a atitude dos órgãos sanitários frente à urgência de uma vacina para a Covid-19. Apesar de o vírus ter causado mais de 180 mil mortes até o começo de setembro no país, a imunização ainda parece distante.

No entanto, uma aprovação precipitada da vacina poderia trazer consequências gravíssimas, segundo estudiosos das universidades de Washington e de Michigan. O aviso foi dado pois existe a possibilidade real de aprovação de uma vacina, mesmo sem o cumprimento de todos os testes e procedimentos recomendados. O órgão que cuida da liberação de medicamentos e drogas no país é a FDA (Food and Drug Administration).

O sinal amarelo acendeu quando um encarregado da FDA – órgão que cuida da liberação de medicamentos e drogas no país – disse ao Financial Times que a FDA poderia utilizar um mecanismo chamado emergency use authorization (autorização de uso emergencial, na tradução).

Existe a possibilidade de se liberar o uso de um medicamento ainda não totalmente testado quando não há nenhuma outra alternativa disponível. Entretanto esse tipo de autorização não significa aprovação completa e pode ser revista e suspensa à luz de novas evidências.

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É o caso da hidroxicloroquina e da cloroquina, que foram autorizadas dia 28 de março, mas tiveram a licença revogada em junho após comprovações de que causavam efeitos colaterais perigosos.

Vale lembrar que, para uma vacina ser aprovada pela FDA, cientistas têm que ter acesso a dados a respeito de testes clínicos realizados em voluntários para que se prove que a vacina é realmente efetiva e segura, ou seja, que não gere efeitos colaterais. Este processo pode levar meses ou até anos.

Incidentes com vacinas

Em 12 de abril de 1955, o governo americano anunciou o programa de vacinação para a poliomielite, doença que acometia de 13 a 20 mil crianças todos os anos. Em questão de dias, laboratórios produziram milhares de doses, mas lotes de uma empresa, a Cutter Labs, continham o vírus vivo. Devido a esse erro na produção, milhares de crianças foram infectadas com o vírus da poliomielite e algumas perderam a vida.

Apesar dos erros com a vacina da poliomielite, de 1955 a 1963, entre 10% e 30% das vacinas da doença estavam contaminadas com o simian vírus 40 (SV40). Esse vírus chegou aos Estados Unidos por meio de macacos importados da Índia, animais que tinham seus tecidos usados para produzir a vacina da poliomielite. 

Outro caso é o da epidemia da gripe suína de 1976, que nunca aconteceu, apesar da previsão de cientistas na época. O presidente em exercício, Gerald Ford, tomou a decisão de fazer a imunização compulsória, depois de ouvir os alertas de alguns especialistas.

O programa foi tão precipitado que, em sete meses, 40 milhões de pessoas foram vacinadas. Mais tarde ligaram a vacina a um problema neurológico chamado de síndrome de Guillain-Barre. O Centro de Controle de Doenças disse que o risco da síndrome cresceu na ordem de um caso adicional para cada 100 mil habitantes.

Com base em tantos exemplos precipitados que não deram certo, não há dúvidas de que é primordial que a vacina para a Covid-19, não apenas nos Estados Unidos, respeite os estágios de desenvolvimento de maneira adequada.

Fonte: CNN