Quase toda a Via Láctea é envolta por um enorme fluxo de gás em alta velocidade, a uma distância de cerca de 200 mil anos-luz. Nós sabemos (em parte) de onde vem esse gás. Ele era conectado com a Grande e a Pequena Nuvens de Magalhães, galáxias anãs que orbitam a Via Láctea e serão engolidas por ela. É daí que vem seu nome: Corrente de Magalhães.

No entanto, embora a Corrente de Magalhães corresponda quimicamente às Nuvens de Magalhães, sua massa intrigou os astrônomos por décadas. Há cerca de um bilhão de massas solares de gás nessa corrente, e os modelos eram incapazes de explicar o motivo das duas galáxias satélites perderem tanto gás.

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Agora, um novo modelo sugere que o gás não vem de dentro das Nuvens de Magalhães. Em vez disso, é extraído de seus halos galácticos – nuvens gigantes de gás e plasma que envolvem a maioria das galáxias. A pesquisa foi publicada na revista Nature.

A dança da Via Láctea com as Nuvens de Magalhães é interessante, com as duas galáxias satélites orbitando entre si e, em seguida, orbitando sua vizinha maior. Essa interação está deformando as três galáxias, e acredita-se que a Via Láctea esteja perturbando as Nuvens de Magalhães. Imaginava-se que essa perturbação teria puxado a Corrente de Magalhães quando as galáxias anãs entraram na esfera de influência gravitacional da Via Láctea, mas essa teoria só conseguia representar 10% da massa total da corrente.

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Porém, diferentemente do que se pensava, novas pesquisas mostram que as Nuvens de Magalhães são grandes o suficiente para terem seu próprio halo galáctico.

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Vista panorâmica da Corrente de Magalhães. Imagem:  D. Nidever et al., NRAO/AUI/NSF, A. Mellinger, Leiden-Argentine-Bonn Survey, Observatório Parkes, Observatório Westerbork, Observatório Arecibo

A equipe liderada pelo astrônomo Scott Lucchini, da Universidade de Wisconsin-Madison, conduziu suas próprias simulações das Nuvens de Magalhães entrando na órbita da Via Láctea. Eles calcularam que o halo de gás ao redor das Nuvens (apelidado de Coroa de Magalhães) teria alterado dramaticamente a formação da Corrente de Magalhães.

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Segundo as simulações, a formação se deu em duas etapas. A primeira veio muito antes da aproximação da Via Láctea, quando as galáxias anãs orbitavam apenas uma a outra. A Grande Nuvem de Magalhães roubou muito material da Pequena Nuvem, mas perdeu um pouco de gás no processo.

Esse processo durou 5,7 bilhões de anos, resultando em um halo com cerca de três bilhões de massas solares de gás que envolveu ambas as galáxias quando elas foram capturadas pela Via Láctea. Nesse ponto, as forças gravitacionais originaram a Corrente de Magalhães, com o halo representando de 10% a 20% de sua massa final.

Na segunda etapa, as interações com a gravidade da nossa galáxia e o próprio halo galáctico puxaram cerca de um quinto da massa da Coroa de Magalhães para formar o resto da corrente. De acordo com as simulações, essa sequência de duas fases de eventos reproduz a estrutura e a massa da Corrente de Magalhães, incluindo o chamado Braço Líder, braço da corrente que orbita à frente das duas galáxias anãs. Ainda não detectamos a Coroa diretamente, mas o modelo da equipe fornece as ferramentas para isso.

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Animação da simulação feita pelos pesquisadores. Imagem: Elena D’Onghia e Scott Lucchini/Universidade de Wisconsin-Madison

A nuvem de gás deve conter estados altamente ionizados de carbono e silício. Usando o Telescópio Espacial Hubble, podemos olhar para quasares distantes através da Coroa de Magalhães e analisar sua luz para ver se ela viajou por nuvens desses materiais em seu caminho até o Sistema Solar.

“As linhas de visão do quasar de fundo oferecem a chance de detecções inequívocas da Coroa de Magalhães, porque não são contaminadas pelo material interestelar da Grande Nuvem de Magalhães”, escreveram os pesquisadores em seu artigo.

Via: Science Alert