Nas primeiras semanas da pandemia da Covid-19, teóricos da conspiração se apressaram em dizer que o vírus Sars-Cov-2 teria sido projetado intencionalmente (ou resultou de um acidente) nos laboratórios no Instituto de Virologia de Wuhan, na China. Pesquisas genéticas internacionais garantiram que não, o coronavírus realmente veio da natureza.

Mas em um artigo para a Foreign Policy, o membro da Escola de direito de Harvard, Vivek Wadhwa, alerta que “se a engenharia genética não esteve por trás dessa pandemia, ela pode muito bem desencadear a próxima”. O pesquisador acredita que devemos tratar a pandemia de coronavírus “como um ensaio geral do que está por vir – infelizmente, isso inclui não apenas os vírus que surgem da natureza, mas também aqueles que serão deliberadamente desenvolvidos por humanos”.

A principal preocupação de Wadhwa diz respeito à CRISPR, uma técnica de biologia molecular que permite alteração genética. “Todos os ditadores do mundo agora sabem que os patógenos podem ser tão destrutivos quanto mísseis nucleares. Graças a uma revolução tecnológica na engenharia genética, todas as ferramentas necessárias para criar um vírus se tornaram tão baratas, simples e prontamente disponíveis que qualquer cientista desonesto ou biohacker pode usá-las”, avalia o pesquisador.

OHSU/Kristyna Wentz-Graff

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Primeiro uso da técnica CRISPR dentro do corpo humano no Instituto de Saúde e Ciência do Oregon, Estados Unidos. Imagem: OHSU/Kristyna Wentz-Graff

Pesquisadores chineses já usaram a técnica para tentar editar o genoma de embriões humanos, em alguns casos para torná-los resistentes à infecção pelo HIV. Apesar da reação internacional, o pesquisador chinês He Jiankui iniciou experimentos envolvendo “bebês CRISPR“, cujos genomas foram editados antes do nascimento. Wadhwa lembra ainda que  pesquisas de DNA permitiram que cientistas revivessem um parente extinto do vírus da varíola.

“A tecnologia de edição de genes tornou-se tão acessível que poderíamos ver adolescentes fazendo experiências com vírus. Nos Estados Unidos, qualquer pessoa que queira começar a modificar um genoma em sua garagem pode pedir um kit CRISPR online por US$ 169”, afirma o pesquisador de Harvard.

Em maio de 2018, o Centro Johns Hopkins para Segurança Sanitária (CHS) testou um cenário fictício em que políticos dos Estados Unidos foram solicitados a responder o que fariam no caso de uma pandemia planejada por terroristas. Os cientistas usaram essas ações para criar um modelo que previu 150 milhões de mortos em um ano, com o índice Dow Jones da Bolsa de Valores caindo 90%.

“Se você está deliberadamente tentando criar um patógeno mortal, que se espalha facilmente e que não temos medidas de saúde pública adequadas para mitigar, então essa coisa que você cria está entre as coisas mais perigosas do planeta”, avalia Piers Millett , um especialista em política científica e segurança internacional em entrevista ao Instituto Future of Life.

Via: Futurism/Foreign Policy