Todos sabemos que as partículas de coronavírus pairam no ar, tornando ambientes fechados mais perigosos. Em uma sala de aula, por exemplo, pessoas próximas ao professor ou alto-falante infectado correm mais riscos no começo, mas conforme o tempo passa, os minúsculos aerossóis podem se espalhar por todo o ambiente. No entanto, isso não significa que todos na sala correm o mesmo risco.

O engenheiro Suresh Dhaniyala, professor da Universidade Clarkson, tem conduzido experimentos para rastrear o movimento dos aerossóis, incluindo aqueles na faixa de tamanho capaz de transportar o vírus. Segundo ele, a ventilação é crucial.

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Nas últimas semanas, pudemos perceber como o vírus se espalha rapidamente em ambientes fechados. Um bom exemplo disso é o comício do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ocorrido em Washington.

A retomada das aulas no país também fez o número de jovens contaminados pela Covid-19 aumentar drasticamente. No Nordeste e Centro-Oeste dos EUA, os casos entre jovens de 18 a 22 anos mais do que dobrou. À medida que os casos aumentam, também aumenta o risco para quem fica muito tempo nesses ambientes.

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Quem corre mais risco?

A ventilação adequada em uma sala faz com que o ar fique bem misturado, não acumulando partículas do vírus no mesmo local, o que aumenta o risco. Porém, espaços pequenos ou salas mal ventiladas são regiões de alto risco. Já em espaços maiores, como salas de aula, a boa ventilação reduz o perigo, mas não de maneira uniforme.

Para entender a disseminação do vírus, Dhaniyala e sua equipe usaram uma sala de aula universitária com capacidade para 30 alunos com um sistema de ventilação dentro dos padrões recomendados. Então, injetaram partículas de aerossol de tamanho semelhante às geradas por humanos e monitoraram sua movimentação com sensores.

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Quando liberadas na frente da sala de aula, onde ficaria o professor, as partículas chegaram ao fundo da classe em 10 a 15 minutos. Porém, por conta da ventilação ativa, as concentrações no fundo da sala, a cerca de seis metros da fonte, eram cerca de um décimo da concentração próxima à fonte.

Isso sugere que, com a ventilação adequada, o maior risco de contrair Covid-19 pode ser limitado a um pequeno número de pessoas mais próximas ao emissor. Mas vale lembrar que a concentração de partículas aumenta com o tempo. Como aulas costumam durar algumas horas, os alunos do fundo não ficarão imunes para sempre.

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Riscos do aerossol

No passado, acreditava-se que a transmissão de doenças respiratórias dependia de partículas maiores, geradas quando espirramos ou tossimos. Essas gotículas rapidamente caem no chão, tornando o uso de máscaras e distanciamento social métodos de contenção eficientes.

A preocupação agora é com os aerossóis, partículas muito menores geradas quando falamos, cantamos ou simplesmente respiramos. Essas partículas são tão pequenas (menos de cinco micrômetros, geralmente) que podem escapar pelas máscaras de tecido e permanecer até 12 horas no ar.

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) enfim reconheceu o risco dos aerossóis. A constatação veio no dia 5 de outubro, após Trump ser hospitalizado e várias outras pessoas próximas a ele serem diagnosticadas com Covid-19.

Embora partículas menores carreguem menos vírus do que as maiores, a alta infectividade do Sars-Cov-2 aliada à alta carga viral antes de os sintomas aparecerem torna essas partículas importantes para entender doenças transmitidas pelo ar.

Quanto ventilar?

Para minimizar a transmissão, a principal recomendação do CDC é eliminar a fonte de infecção – ter aulas online, por exemplo. Em casos presenciais, medidas de engenharia como ventilação, escudos protetores e unidades de filtração podem ajudar a tirar o vírus de circulação. De todas as opções, a ventilação é provavelmente a mais eficaz.

Um fator para isso é a taxa de troca de ar. Uma taxa de uma troca por hora significa que o ar fornecido à sala durante uma hora é igual ao volume de ar na sala. Essa taxa varia de menos de um (em residências) para entre 15 e 25 trocas por hora em salas de cirurgia.

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Usar máscara ajuda a conter a disseminação do vírus, mas não protege de aerossóis. Imagem: Gemfotografia/iStock

Os regulamentos atuais exigem uma taxa de seis trocas por hora para salas de aula, e não mais apenas uma. Isso quer dizer que todo o ar da classe é trocado a cada dez minutos. O quão alta a concentração fica depende da quantidade de pessoas na sala, de quanto elas emitem e da taxa de troca de ar.

Como ainda não temos salas de aula com todos os alunos, e considerando que todos usem máscara o tempo todo, o ar em muitos espaços internos está melhor agora do que antes da pandemia.

Lugares para evitar

Como citado anteriormente, nem todas as partes da sala terão a mesma concentração de partículas. Nos cantos, por exemplo, a troca do ar tende a ser menor, então as partículas podem permanecer lá por mais tempo. Ficar perto de uma saída de ar parece bom, mas vale lembrar que, para o ar sair, ele deve primeiro passar por você.

Um estudo do fluxo de ar em um restaurante na China mostrou que 95% das partículas na sala serão removidas por um sistema de ventilação funcional em 30 minutos, mas ter uma pessoa infectada no local significa que essas partículas serão emitidas constantemente.

Esse ritmo pode ser acelerado aumentando a taxa de troca do ar ou adicionando outros métodos de controle, como filtros. Janelas abertas também ajudam.

Conforme mais espaços comuns, como escolas, shoppings e restaurantes, voltam a funcionar e acomodar pessoas em ambientes fechados, mais importante é compreender os riscos e seguir as recomendações de órgãos de saúde.

Via: Science Alert