Vestígios de um antigo lago gigante foram encontrados abaixo da Groenlândia, enterrado nas profundezas de inúmeras camadas de gelo no noroeste da ilha. De acordo com os cientistas que encontraram o lago, ele já deve ter centenas de milhares de anos, se não milhões.

O enorme leito do “lago fossilizado” é um fenômeno nunca antes visto pelos cientistas nessa parte do mundo, ainda que a colossal camada de gelo da Groenlândia (a segunda maior do mundo, perdendo apenas para a Antártica) permaneça cheia de mistérios ocultos enquanto derrama massa em um ritmo alarmante.

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No ano passado, mais de 50 lagos subglaciais foram encontrados abaixo da camada congelada da Groenlândia: corpos d’água descongelados, presos entre as rochas e o gelo acima. A nova descoberta, porém, é diferente. Trata-se de uma antiga bacia de lago, seca há muito tempo e agora cheia de eras de preenchimento sedimentar (camadas de rochas soltas medindo até 1,2 quilômetros de espessura), e por fim coberta por 1,8 quilômetros de gelo.

Entretanto, segundo os pesquisadores, quando o lago se formou, a região estaria livre de gelo, e a bacia teria sustentado um lago imenso, cuja área de superfície extensa seria de aproximadamente 7.100 quilômetros quadrados – maior que o Distrito Federal. Este enorme lago teria cerca de 580 quilômetros cúbicos de água, sendo alimentado por uma rede de pelo menos 18 riachos existentes ao norte do leito do lago, fluindo até ele ao longo de uma escarpa inclinada.

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Bacia do lago (contorno em vermelho) alimentada por antigos riachos (linhas azuis). Imagem: Paxman et al., EPSL, 2020

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Embora não haja uma maneira de saber o quão antigo é este lago (ou se ele encheu e drenou várias vezes), poderíamos descobrir muito se conseguíssemos analisar o material rochoso solto dentro da bacia: é praticamente uma cápsula do tempo gigante feita com sedimento preservado que poderia nos contar sobre o meio ambiente da Groenlândia há milhares ou milhões de anos.

“Este poderia ser um importante repositório de informações, em uma paisagem que agora está totalmente oculta e inacessível”, afirmou Guy Paxman, pesquisador líder e geofísico glacial da Universidade de Columbia.

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O gigantesco leito, apelidado de “Camp Century Basin”, foi identificado por meio de observações da Operação IceBridge da Nasa, um levantamento aéreo das regiões polares da Terra. Os resultados foram publicados no periódico Earth and Planetary Science Letters.

Durante o voo sobre a Groenlândia, a equipe mapeou a geomorfologia subglacial usando uma série de instrumentos de medição de radar, dados magnéticos e gravidade. As leituras revelaram o contorno da massa gigante com enchimento sedimentar, composta por material menos denso e magnético do que a rocha mais dura ao redor.

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Lago de água líquida abaixo do manto de gelo da Groenlândia. Imagem: Michael Studinger/Nasa

Para a equipe, é possível que o lago tenha se formado em épocas mais quentes como resultado do deslocamento do leito rochoso devido a uma falha geológica abaixo, que agora está adormecida. Alternativamente, erosões glaciais podem ter esculpido a forma da bacia ao longo dos séculos.

Em ambos os casos, a bacia pode conter um importante registro sedimentar, que pode indicar quando o gelo começou a se formar na Groenlândia, oferecendo uma visão sobre o passado geológico daquela região. Quaisquer que sejam as informações enterradas sob o gelo, é possível que isso nos ajude a entender as mudanças climáticas polares do passado e o que estamos vivenciando atualmente.

Via: Science Alert