Sabemos que, em seu passado, Marte já teve rios e oceanos de água líquida. Mas um grupo de pesquisadores reuniu quinze anos de imagens para montar um mapa completo da rede fluvial do hemisfério sul do Planeta Vermelho. O resultado é o maior mosaico da superfície marciana, com 8 trilhões de pixels.

Foram necessários quase três anos para juntar as peças desse imenso quebra-cabeças, que fornece uma visão sem precedentes dos antigos sistemas de rios que antes cobriam as extensas planícies do planeta. O trabalho, publicado este mês na Geology, ajuda a compreender história hidrológica de Marte, mapeando rochas sedimentares de três bilhões de anos.

publicidade

As regiões catalogadas foram formadas pelo depósito de sedimentos por grandes rios. As formações estão presentes apenas no hemisfério sul, onde fica parte do terreno mais antigo e acidentado de Marte. “Essas cristas provavelmente costumavam estar por todo o planeta, mas processos subsequentes as enterraram ou erodiram”, explica Jay Dickson, principal ator do artigo.

Registros da superfície de Marte feitos pelas sondas da Nasa
Registros da superfície de Marte feitos pelas sondas da Nasa. Imagem: J. Dickson/Geological Society Of America

“O hemisfério norte é muito liso porque foi remexido, principalmente por fluxos de lava”, afirma o pesquisador. As terras altas do sul de Marte também são “algumas das superfícies mais planas do Sistema Solar”, diz Woodward Fischer, coautor do trabalho. Essa formação excepcional possibilitou o acúmulo sedimentar catalogado pelos pesquisadores.

publicidade

Só é possível identificar essas formações fluviais em uma imagem de alta resolução da superfície do planeta. Cada um dos 8 trilhões de pixels representa de 5 a 6 metros quadrados, e o mapa cobre quase 100% da região graças aos satélites da Nasa, que operam continuamente há mais de uma década.

“O primeiro inventário de cristas fluviais usando imagens em escala de metros foi realizado com dados adquiridos entre 1997 e 2006”, lembra Rebecca Williams, coautora do estudo.  “Essas tiras de imagem forneceram instantâneos interessantes da superfície, mas havia uma incerteza sobre a falta de cristas fluviais nas lacunas de dados”, completa.

publicidade
O jovem planeta Marte teria água suficiente para cobrir toda a sua superfície em uma camada líquida de cerca de 140 metros de profundidade
Ilustração mostra como Marte pode ter se parecido há cerca de quatro bilhões de anos. Imagem: ESO/M. Kornmesser/N. Risinger

A alta resolução das novas imagens resolveu esse problema. O mapeamento permite que pesquisadores explorem os dados em escalas globais, em vez de se limitarem a estudos mais fragmentados e localizados da hidrologia marciana. “Se você vir apenas uma pequena parte [de uma crista], pode ter uma ideia de como ela se formou”, diz Dickson. “Mas então você vê isso em um contexto mais amplo e pode determinar com mais segurança quais são as cristas fluviais e as cristas formadas por outros processos”.

Os dados fornecidos pelo estudo poderão ajudar em futuras explorações – seja por rover ou por astronautas – na investigação sobre como era o clima de Marte no passado. “Aprendemos não apenas sobre o passado de um único planeta, mas também aprender mais sobre como os planetas evoluíram e por que a Terra é habitável”, avalia Fischer.