Desde que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), aprovou o uso emergencial das vacinas CoronaVac e CoviShield, uma pergunta está no ar: quando todos os residentes do Brasil estarão imunizados contra a covid-19? Para o fundador da Anvisa, Gonzalo Vecina Neto, ainda demora um pouco.

Ele lembra que, apesar de o Ministério da Saúde já ter anunciado a disponibilidade de 354 milhões de unidades no decorrer do ano, é preciso vacinar 160 milhões de brasileiros, com duas doses cada um. “Com base nos dados de que dispomos hoje, sem medo de errar, diria que sim temos as doses suficientes para terminar a vacinação por volta de novembro.”

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Saber que o primeiro passo foi finalmente dado rumo a esse objetivo é um alento. Para Vecina, o momento foi histórico. Ele diz que ficou muito orgulhoso da agência que fundou, pela resposta que a equipe do órgão deu e pela independência que demonstrou. “Achei que foi muito positivo, uma resposta muito legal para o país.”

Vacinação: duração da imunidade

Por enquanto, ainda não se sabe quanto tempo vai durar a imunidade proporcionada pela fórmula. Isso só será possível saber com o tempo e o acompanhamento dos voluntários que participaram dos testes de fase 3. “É impossível saber agora, porque é preciso esperar passar o tempo”, diz Vecina. “É isso que nós vamos aprender a partir de agora.”

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O que se sabe até agora é que, já ao tomar a primeira dose, desenvolve-se alguma imunidade à doença. Receber o reforço, entretanto, é essencial. “O reforço é fundamental para que se aumente o nível de anticorpos produzidos. Então, nenhuma vacina, exceto a da Janssen, pode ser usada só com uma dose. É possível espaçar as doses, mas é obrigatório tomar a segunda dose e da mesma vacina.”

Outro aspecto que precisa ser avaliado é o uso das fórmulas já desenvolvidas em menores de 18 anos – no Brasil, mais de 50 milhões de pessoas fazem parte desse grupo. O único imunizante já testado em parte dessa faixa etária (12 a 18 anos) é o da Pfizer. “Gestantes também não participaram dos testes”, lembra Vecina. E os muito idosos, apesar de não terem sido testados, receberão a vacina.

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Resultados só no segundo semestre

No Brasil, por enquanto, foram aprovadas em caráter emergencial a CoronaVac, do laboratório chinês Sinovac, e a CoviShield, da parceria entre a farmacêutica AstraZeneca e a Universidade de Oxford. Além de terem sido criadas com tecnologias diferentes, todas as vacinas já prontas para uso têm eficácias globais distintas.

Vecina explica que, por isso, elas têm respostas imunogênicas diferentes. “A vacina de RNA mensageiro, por exemplo, mostrou que mexe mais com o sistema imunológico do que as vacinas de vetor viral ou de vírus inativado.”

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Atualmente, nenhum fabricante tem uma produção suficiente de vacinas contra a covid-19 para imunizar toda a população da Terra. Então, em todo o mundo, serão usadas mais de uma fórmula.

Por isso, cada um vai receber a vacina disponível onde vive. “Independentemente disso, todas as fórmulas terão de proporcionar uma imunidade coletiva para que o vírus deixe de circular e a doença deixe de existir. Em nenhuma das vacinas é possível conseguir imunidade coletiva sem todo mundo ser vacinado.”

De modo geral, isso quer dizer que, no primeiro semestre de 2021, provavelmente ainda não vamos sentir uma melhora significativa no quadro da pandemia. Para Vecina, só em meados do segundo semestre deste ano é que a situação sanitária deve de fato melhorar. “Só aí vamos ter algum refresco. Antes disso, nenhum.”